terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

BOB MEADE

Neste Carnaval me lembrei bastante dum amigo que já se foi, Bob Meade.

Conheci Bob no final da década passada e cheguei a visitá-lo 2 vezes em Baltimore. Ambas as visitas no inverno. Muito frequentemente me recordo dos frios e neventos dias em Baltimore, saindo no carro dele pra passear. Um frio danado lá fora e o assento do carro quentinho. Na verdade, às vezes quente demais! Ele não gostava do frio e regulava tudo quanto era forma de aquecimento bem lá em cima. Dentro de casa, uma vez, tive que ir ao termostato e baixar a temperatura. Eu dizia a ele que me sentia como no Brasil dentro da casa dele.

Acho que foi na primeira visita, aconteceu algo divertido. Talvez fosse um dos primeiros dias em que estava na cidade e não nevava. Na realidade, fazia um dia todo ensolarado. Acordei e lembrei que o havia visto pegar o jornal no dia anterior e decidi fazer o mesmo. Estava de pijaminha, maior clima de verão dentro do apartamento do Bob. E eu vi o dia radiante. Não tive dúvida, esqueci que era inverno e que estava em Maryland e não no interior do estado de São Paulo. Abri a porta e saí pra pegar o jornal daquele jeito mesmo que estava. Imaginem o choque! Nos primeiros segundos pensei que não seria difícil e decidi não voltar pra dentro pra pegar o roupão. Achei que bastaria correr e pegar o jornal e voltar rapidinho pra dentro. Até que fiz tudo rapidinho, mas voltei batendo o queixo de frio. Assim que entrei de volta, Bob estava lá, balançando a cabeça, rindo, apontando o dedo pra mim e dizendo: “Well young man, you are not in Brazil now.”

Lembro-me também duma vez que previram uma forte nevasca e fiquei todo excitado. Minha primeira nevasca! Uma vez num trem, indo de Boston a Nova York, já vira uma, mas foi de dentro do trem, então não vi muita graça. Veio a neve, até que não tanta como previsto, mas veio. No dia seguinte, Bob teria que ir ao escritório e perguntou se não gostaria de acompanhá-lo. Ele era aposentado, mas mantinha um escritório de advocacia, o qual mais deixava fechado do que funcionando. Ele disse que resolveria o que tinha que resolver em uma hora e então estaríamos livres pra curtir o dia. Topei, e ele então disse preu pegar a pá e ir tirando a neve que cercava o carro enquanto ele se aprontava etc. Depois de concluída a tarefa, ele inquiriu se eu ainda achava neve divertida e completou que não teria dúvidas em trocá-la pelo calor do Brasil. Devo dizer que neve não me atrai mais realmente, até porque a brancura torna um pouco dificultoso prum fotofóbico enxergar. Nada que óculos mais escurinhos não resolvam também... Entretanto, não nego que adoro uns 10 grauzinhos abaixo de zero!

Bob “descobriu o Brasil” pouco tempo depois. Veio pro Rio e apaixonou-se pela cidade e pela gente de lá. Gente do Brasil de modo geral. Nutria planos de mudar-se pra cá e fugir do frio do norte, o qual, segundo ele, não era apenas climático. Em 2 ou 3 anos nem sei quantas vezes veio pra cá. Estava até aprendendo português. Muito engraçado ele recitando o alfabeto; “A, amor; B bandeira...”

Gostou tanto daqui que chegou a desfilar pela Mangueira. Ri muito quando ele me enviou uma foto da fantasia que usaria, perguntado se não pegaria mal ela ser toda cor-de-rosa. Expliquei que se tratava da cor da escola. Ele não acreditou muito porque sabia que não manjo muito do assunto. Mas depois, algum amigo do Rio esclareceu a questão pra ele.

Num outubro frio de lá e fervente daqui, ele me revelou pelo ICQ que havia sido diagnosticado com câncer no pulmão. Avançadíssimo e agressivo, acho que metástase é o termo, não? Ele ainda conseguiu voltar ao Rio uma vez mais pra passar o Ano Novo. Voltou pra Baltimore em meados de janeiro e ao final do mês estava morto. Mas o importante é que os últimos anos da vida dele foram felizes, com planos e sonhos.

Tá vendo só, Bob? Você ainda está aqui no Brasil!



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