quinta-feira, 7 de maio de 2009

MISS AUSTEN

Roberto Rillo Bíscaro

Passei o dia fazendo anotações pruma aula que preparo sobre a crítica em língua inglesa no século passado. F. R. Leavis e esposa, I. A. Richards, T. S. Eliot, Harold Bloom foram as personagens diurnas. A parte algumas diferençazinhas, todos defendem um cânone que supostamente represtaria o que há de melhor na cultura literária anglo-saxã; a tão valorizada Tradição, que é considerada muito mais importante do que prato cheio de comida. Tudo muito elitista, mas a gente tem que se haver com eles porque essa tradição é ainda muito forte. Quase todos esse críticos colocam Jane Austen como uma das grandes autoras dessa tradição, como se sua obra falasse eternamente sobre as "verdades" da essência humana e por aí afora.
À noite, fiz anotações sobre um crítico que é mais da minha seara, Raymond Williams; bem mais "arejado" e democrático. Williams também escreveu sobre Austen, mas em outra chave. Em A Cidade e o Campo ele discute como em suas obras as relações de trabalho no campo são escamoteadas.
Embora a aula não seja sobre Austen não deu pra escapar e, pra descansar, acabei assistindo a uma "biografia" da autora produzida pela BBC ano passado.
As aspas devem-se ao fato de nao sabermos muito sobre detalhes da vida da escritora. Embora tenha escrito romances que sempre terminavam em casamento e criado partidos perfeitos pra matrimônio - como o Mr. Darcy, de Pride and Prejudice - ela morreu solteira por volta dos 40 anos de idade.
Miss Austen Regrets (2008) especula - em pouco mais de uma hora - porque a escritora não se casou, mostra como ela recusou um homem rico por não amá-lo (e o sentimento de culpa que isso causou por ter perdido a chance de obter segurança financeira, que aliás, é fundamental em seus romances), sua relação de ciúmes e amor com a sobrinha e a irmã mais velha, tambem solteirona.
Encarei tudo como pura especulação e ficção e embarquei na fantasia. Pra variar, a produção da BBC é requintada e bem atuada e bem poderia ser uma adaptação dum de seus romances. Pra austenmaníacos (e não são poucos, acreditem) é ótima pedida. Tá tudo ali: aqueles passeios por lindos jardins, estadias em Londres, muita conversa irônica e inteligente.
Pra quem foi criado e educado na tal Tradição, difícil resistir ao canto da sereia. Mas, a Tradição também faz parte, basta saber que há outras tradições igualmente importantes, mas não tão visíveis...
Ponto alto do filme foi quando uma personagem comenta com Jane que Lizzy apenas admite pra si mesma que estava apaixonada por Mr. Darcy quando percebe o tamanho de sua casa. Estou, claro, me referindo a Pride and Prejudice. Próxima vez que ler o romance vou ver se é assim mesmo. Eu não uso informação de filme pra fazer apreciação crítica de livro. Esnobismo à la F. R. Leavis? De qualquer modo, achei bem espertinha a Lizzy Bennet!

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