O post de hoje trata dum grupo indígena que vive no estado do Rio de Janeiro, os Kaxixós. O texto de Terezinha Pereira não cita albinismo, mas, o único comentário feito ao post da pesquisadora dá conta de que o grupo está sendo "dizimado", dentre outras coisas, pelo albinismo. Tal comentário encontra-se abaixo do texto de Terezinha.
Os Kaxixós - Terezinha Pereira
Kaxixós é um grupo de indígenas, que depois de séculos no anonimato, sufocados pela perseguição e pela discriminação, reapareceu com o desejo de viver sua indianidade e tentar reviver costumes e valores que estiveram disfarçados por tempos e tempos, porém jamais perdidos. No início deste século, depois de muitos anos de luta, esse povo foi reconhecido como grupo indígena. Segundo Zezinho Kaxixó, vice-cacique dos kaxixós, “kaxixó significa pedra, que é a Nossa Senhora da Lapa. Na lei branca de vocês, cês chama caverna…” Esse parágrafo é o resumo de uma notícia que me chamou a atenção.
Fiz alguma pesquisa a respeito dos kaxixós, uma vez que fico por entender como nossos colonizadores conseguiram aniquilar quase toda a população indígena que houve nesta nossa terra. O grupo indígena dos kaxixós, composto de cerca de 80 almas, é o que sobrou da população de índios que vivia na região do baixo rio Pará como agregados e jagunços, após lhes haverem surrupiado a terra lhes pertencida por direito de “nascença”.
Podemos dizer que esses Kaxixós são meio vizinhos de nossa cidade, pois vivem em uma comunidade chamada “Capão do Zezinho”, no município de Martinho Campos. Moram em casas de alvenaria, dispõem de água encanada, energia elétrica, antena parabólica e outras modernidades. As duas únicas construções do lugar que não são de alvenaria são o “ Rancho” , que é a Casa de Ritual, onde praticam as suas danças tradicionais e o Rancho de Festas, lugar para festas e comemorações. Essas construções são cobertas de capim e não têm paredes. No Capão do Zezinho há um prédio destinado ao funcionamento de uma escola, mas até pouco tempo estava fechado. Pode ser que já esteja funcionando. Alguns indígenas estão estudando para serem os professores dessa escola, alguns já se formaram. Os Kaxixós sobrevivem trabalhando como vaqueiros e roceiros nas fazendas próximas de seu pequeno território. Alguns praticam a agricultura familiar cultivando cereais, mandioca e criando porcos e galinhas. Nas proximidades do Capão do Zezinho, há outros três lugarejos onde vivem alguns Kaxixós: a Fazenda Criciúma e também Pindaíba e Fundinhos, que ficam na Fazenda São José.
Mesmo tendo sido reconhecidos como grupo étnico, os Kaxixós ainda não possuem um território demarcado. Eles estão reivindicando uma área que hoje está sob posse de vários fazendeiros daquela região (Para isso receberiam, de bom grado, ajuda dos profissionais do Direito que se dispusessem a adotar a bandeira dessa luta deles.) Sabe-se que, depois de diversas reuniões, resolveu-se formar uma comissão para dar encaminhamento às ações referentes ao processo de demarcação da Terra Indígena Kaxixó, a qual teve início em janeiro de 2004. A decisão pela elaboração de uma carta solicitando a contratação de um agente indígena de saúde para atendimento do público indígena da cidade de Martinho Campos também foi apresentada. Não se sabe se foi respondida pelos que podem lhes atender.
Como foram perseguidos, reprimidos, escravizados ao longo da história, da mesma forma que os outros índios que escaparam vivos da época da colonização, esse grupo indígena perdeu totalmente a sua língua tradicional e hoje todos eles são falantes apenas do português. Para que essas poucas almas chegassem aos dias de hoje, tiveram que camuflar suas identidades étnicas e também a religiosidade, que tinham que praticar às escondidas. O senhor Djalma, o atual cacique Kaxixó conta, de seu jeito, o que aconteceu com seu povo:
_ … foi o “governo”, o Capitão Inácio de Oliveira Campo. Ele matô, robô a terra, robô a língua, robô a religião, robô a dança . Aí trocô o nome, ninguém falava Kaxixó.”
Uma referência ao Capitão Inácio de Oliveira Campos pode nada dizer a nós. Mas, e o nome Joaquina do Pompéu, a Sinhá Braba? Essa é uma personagem nossa conhecida. Tão lendária, que até a chamamos de personagem. Mas, em relação aos Kaxixós, parece que, o que a história registra, são fatos reais que se passaram durante o “governo” de seu marido Capitão Inácio, o qual ela herdou, e que lhe deu fama de mulher poderosa, de pulso firme, amiga do príncipe, dona de muitas terras. Escravos negros e índios foram elementos essenciais para a formação do grande império da Sinhá Braba, que se estendeu da região de Pitangui, passando por Martinho Campos, Abaeté, Pompéu e muitos lugarejos, até chegar a Paracatu. Olhando no mapa, podemos ver que o espaço todo que foi de domínio da família da Sinhá Braba é um bom pedaço de chão, naquele tempo, percorrido sem os recursos dos meios de transporte de que dispomos hoje.
O que fico matutando é a respeito da dificuldade que encontram esses indígenas que sobraram de uma enorme população nativa, para reaverem seu pedaço de chão; eles que ficaram sem terra, sem língua materna, sem religião, sem dança, sem etnia e sem capacidade econômica para cobrarem na justiça seus direitos. Cismo. Como foi fácil para os colonizadores, depois para os donos de grandes extensões de terras, continuarem a fazer crescer as suas posses, usando da mão de obra de índios e negros, inteiramente sujeitos a seus mandos e desmandos, como se esses fossem uma extensão de sua propriedade-chão, desprovida de voz, com a proteção de lei branca que os brancos homens escreveram. Intriga-me ainda: como o poder econômico tem palavra de força, nesses dias de hoje…….. Como o produto da luta entre os povos não pende nunca a favor dos que podem de menos………
Um comentário para “Os Kaxixós - Terezinha Pereira”
lu dias Bh disse: 29 de outubro de 2008 at 16:12
TT
Parabéns pelo lindo gesto, ao colocar em pauta a vida dos Kaxixós.Também tenho levado a outros blogs um pedido de socorro para os índios Maxakali (norte de Minas).Sem falar nas vezes em que escrevi para as autoridades responsáveis.Eles estão sendo dizimados pela cachaça, pela tuberculose, anemia, gengivite e albinismo.É de dar pena.Depois vou postar o poema que fiz sobre eles.Minha admiração por você aumenta mais e mais.Falamos a mesma língua.Beijos,
lu
(Encontrado em http://www.almacarioca.net/os-kaxixos-terezinha-pereira/)
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Sabe esse texto é muito bom! Mas ele não disse o que eu queria que fosse verdade.E a verdade é que eu queria que eles fossem de minas pois tenho um trabalho de escola e preciso saber quais são as tribos índigenas de minas e onde vivem. Mas mesmo assim muito obrigado!
ResponderExcluireu quero de minas nao do rio.
ResponderExcluirsabe e para um trabalho de escola
oi eu queria saber mais sobre as tribos kaxixo para um trabalho de escola em grupo
ResponderExcluirEu coloco aqui nos comentários uma triste noticia que o cacique Djalma já morreu dia 2 de abril de 2011.
ResponderExcluirE os kaxixos são de Minas Gerais não Rio de Janeiro