Roberto Rillo Bíscaro
Nessa fase de séries e minisséries pela qual atravesso, tento não ficar atrelado apenas ao produzido nos EUA, do mesmo modo como faço com filmes de longa- metragem. Admito que no caso de minisséries, acabo sucumbindo ao canto da sereia da BBC e desloco o eixo do poder para a Inglaterra. Mas, além de ser incoerente, não sou perfeito.
Entretanto, acabei de ver M13dos, série de 13 episódios de cerca de 20 minutos cada, produzida pela mexicana Televisa. São histórias de terror e suspense, que recriam outra série mexicana, popular no fim dos anos 80 por lá e que contou com a presença do badalado Guillermo del Toro, dentre outros. Cada um dos episódios trata dum medo, daí ser também conhecida como 13 Miedos ou Trece Miedos. Prefiro M13DOS. Adoro essa coisa moderninha de brincar com palavras, cortá-las, meio que trucidá-las.
A série começou bem com o episódio Int3rcambio, que explora o medo da solidão. Um casal que deixara os filhinhos sozinhos em casa pra curtir uma viagem comemorativa dos 10 anos de casamento, sofre acidente na rodovia por culpa do marido que não prestava atenção à estrada. A esposa e o condutor do outro veículo morrem. No hospital, uma aparição oferece ao marido desatento e culpado a possibilidade de redimir seu erro: as 2 almas em troca de algo que não poderia ser revelado por ora. O maridón Manuel aceita o intercâmbio e tanto a esposa quanto o condutor do outro veículo são poupados. Daí, no final aprendemos qual o outro lado da troca: 2 almas por outras 2 almas...
Em Mot3l, uma garota que decidira pegar a estrada de noite pra visitar a mãe, acaba tendo que se hospedar em um hotel de beira de estrada na madrugada por estar cansada demais pra dirigir. O hotel está vazio a não ser pelo repelente atendente. Além disso, a moça escolhe o quarto # 13. Quantos erros a personagem comete, não? Qualquer um que veja filmes de terror sabe que não se deve procurar hotel no meio do nada de madrugada, inda mais com um atendente esquisito e inda por cima pegar o quarto 13! Ela estava pedindo pra acabar mal. E acaba.... Ela começa a ouvir o choro duma outra moça pedindo ajuda (o episodio é sobre o medo de não se sentir ajudado) e testemunha o modo como a moça fora assassinada e aprende onde está o corpo. Acontece que o assassino está bem pertinho dela...
Esqu3la é o terceiro episódio, que trata do medo do destino. Com o intuito de ferir um colega de trabalho que havia ascendido de cargo, Jorge coloca um anúncio fúnebre no jornal, noticiando a morte do novo chefe. Acontece que os tais anúncios (esquelas, em espanhol) começam a cumprir-se... Apesar do fim previsível, curti as mortes do episódio e também aprendi outra palavra em espanhol: esquela.
O quarto episódio envolve a claustrofobia de Sérgio. Quando criança, uma voz de menina, vinda duma greta numa rocha lhe pedira ajuda, mas o impotente e pequeno Sérgio não fez nada para ajudá-la. Quando adulto, essa menina lhe assombra os sonhos e as horas acordadas. A terapeuta de Sérgio aconselha-o a voltar ao lugar de infância e confrontar seu medo. Sérgio assim o faz e a menininha da rocha acaba perdoando-o. Mas, ela não é exatamente uma garotinha que vai deixar barato o descaso de Sérgio.
A seguir, vi La Bodega, do qual não gostei muito. O medo abordado dessa vez é o do escuro. Guardas-noturnos de uma bodega desaparecem misteriosamente um após o outro. Os desaparecimentos estão ligados a um cientista maluco que conduz experiências pra determinar o que acontece aos seres humanos quando privados de luz e sons. Não tem muito diálogo (adoro diálogo) e as criaturas monstruosinhas são muito manjadas. Isso sem contar o freudismo de botequim, ou deveria dizer, de bodega?
O sexto medo a ser abordado é o de perder um ente querido e superar o passado. O episódio abre com um casal em meio a uma briga que provará ser mortal a ambos. Em seguida, vemos o pequeno Nico sendo devolvido ao orfanato. Seus pais adotivos haviam brigado até a morte e o garotinho teve que ser mandado de volta. Mas, um novo casal o adota pra substituir o filho que perderam. Acontece que havia um probleminha: a falecida mãe de Nico não abrira mão do filho. Azar da nova mãe adotiva, né?... Gostei desse episódio.
O mesmo não poso dizer de Nuevo Comi3nzo, episódio sétimo, que trata do medo à mudança. Um casal muda pruma casa nova que quase imediatamente prova ser muito, mas muito estranha mesmo. Uma vizinha mais estranha ainda conta à nova moradora que os moradores anteriores haviam assassinado seu bebê e depois se suicidado ao perceber o que fizeram. Tá na cara que a história do novo casal – que tem um bebê – vai pro mesmo caminho. Nossa, o choro da criança quase o episódio todo me irritou tanto que os cerca de 20 minutos de duração me pareceram 40!
O oitavo episódio é Ojo por Ojo, que encena pela enésima vez o arquétipo de Talião. Humberto, enfurecido pelo amor não-correspondido de Natália, termina por assassiná-la numa estrada deserta à noite, com a cumplicidade de 2 amigos. A seguir, o fantasma da moça extermina o assassino e um dos amigos e dá um castigo bem violento a Nicolas, o jovem que viu tudo, mas nada fez pra deter o crime. Nicolas teve medo de enfrentar a situação, mas o fantasma de Natália cuida pra que ele não tenha nunca mais que ser testemunha ocular de nada. A história é puro clichê, mas são meus clichês favoritos de filmes de horror: aquela musiquinha infantil com vozinha bem fininha que parece canção de ninar, fantasma aparecendo no espelho. Nada de novo nesse front, mas, mesmo assim, eu gostchu. Ah, pra quem ama “referências e citações”, Natália é morta no quilometro 31 da estrada, o mesmo número e a mesma estrada do longa Km. 31, também mexicano, sobre o qual comentei num post de 15 de fevereiro.
O episódio 9 tematiza o medo da morte. Não gostei porque quase não há diálogo, e é através dos diálogos que pratico inglês e/ou espanhol. Não dá pra viajar muito, então tenho que praticar em todas as oportunidades que posso. Diversão sempre, com algum proveito, melhor ainda! Um sujeito dirige em alta velocidade ao mesmo tempo em que fala ao celular com a esposa, que está a sentir as contrações pré-parto. Claro que acontece um terrível acidente, mas o marido escapa quase ileso. Percebe, porém que a seu lado havia 4 figuras soturnas com um relógio na mão, dizendo “vive! Vive! Vive! Muere!” O parto da esposa foi alarme falso, mas efetivamente ocorre no dia seguinte ao do acidente. Ao ver as 4 figuras no corredor do hospital, o moço se dá conta de que são árbitros da morte, que ali estavam por seu bebê. Em profundo estado deprê devido à morte do bebê, Pablo decide se atirar do prédio, mas é alertado que sua hora inda não chegara, que isso não dependia dele. Mesmo assim, ele salta e na última cena descobrimos que realmente quem mandava na morte de Pablo não era ele. E descobrimos também que a esposa de uma forma ou outra, acabou tendo que ver-se ás voltas com um bebê.
O décimo episódio, Embalsamant3, é sobre o medo da rejeição. Gabriel, jovem estudante de medicina, platonicamente deseja a vizinha Érica que nem o nome dele sabe direito. No niver da garota, Gabriel chama-a pra ver um manequim que fizera e que reproduz a moça. Assustada com a obsessão de Gabriel, Érica tenta fugir dele e acaba sendo morta e embalsamada. Mas, pro azar de Gabriel, o manequim não vai aceitar a concorrência tão facilmente assim. Esse episódio tem outro doido varrido que faz suas doideiras escutando ópera, igualzinho em Epitáfios e tantos outros filmes. Por que será que associam ópera á loucura e homossexualidade, não?
O próximo medo da série é o de não ser necessitado. Mariana está à procura de emprego e acaba na casa de La Tia, que cuida de 5 pessoas em estado catatônico. São 2 casais e um moço, sentados em cadeiras, imóveis como zumbis. Acostumado aos clichês de filmes de horror, na hora saquei que Mariana faria companhia pro moço que estava sem par. Isso efetivamente veio a acontecer, mas Mariana não estava na casa de La Tia por acaso. Finalzinho “surpresa”, outro clichê de filmes de horror/suspense.
O 12º medo é o da culpa, num episódio que adorei. A idéia é batida já: corre uma lenda numa escola que se se disser o nome dum aluno morto há anos, o fantasma dele aparece. Isso tem que ser dito em frente ao espelho do banheiro, onde o pequeno Jorge Orozco havia morrido 20 e tantos anos antes. 3 crianças vão ao banheiro tentar trazer Jorge de volta e uma delas acaba desaparecendo. Carlos, um psicólogo, acaba descobrindo que o diretor da escola – pai do garoto desaparecido – teve muito a ver com a morte de Orozco. Ele confronta o diretor a enfrentar o fantasma de Jorge em frente ao espelho. O diretor faz isso e encontra seu filho do outro lado do espelho. Mas não só ele... Ao final, fica a pergunta, se todos pagam pelas suas dívidas, então o psicólogo Carlos também pagará por ter induzido o diretor a entrar no espelho?
O 13º episódio é La Feria, sobre o medo de ser diferente. 2 casais amigos ficam presos numa dessas feiras comuns em filmes de terror, dessas que tem aqueles shows com gente deformada, sabem? (antigamente, havia albinos nesses shows, sabiam?), O velho que os prende quer transformá-los em atração pro freak show! O episódio segue – ou pelo menos tenta – aquela linha de filmes de horror que tem tortura e tal. Tem final surpresinha, uma mutilaçãozinha básica que não assusta os iniciados no gênero, mas que pode fazer com que espectadores mais casuais desviem um pouco o olhar. Nada que Apparitions, a série de exorcismo da BBC, não tenha apresentado com mais explicitude porém.
Como toda série do tipo, há altos e baixos entre os episódios e o elenco não é sempre exatamente composto por Emma Thompsons. Também a música-tema me lembrou muito algo da abertura da minha amada Epitáfios. Mesmo assim, M13DOS é gostosa de ver em sua maioria e diverte. Não é obra-prima, mas vale pra quem curte horror e suspense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário