sábado, 11 de julho de 2009

BRINDE COM COPO VAZIO

Roberto Rillo Bíscaro

Gosto bastante dum ator argentino chamado Pepe Soriano. Vi diversos filmes estrelados por ele e tive a oportunidade de vê-lo no teatro em minha primeira visita a Buenos Aires. Numa garoenta noite de inverno portenha voltava de uma outra peça que vira num dos teatros da Avenida Corrientes, quando passei por um cartaz anunciando que Soriano estrelava a montagem argentina de Visiting Mr. Green, do norte-americano Jeff Baron. Como eu já me dera conta de que era capaz de acompanhar a uma peça falada em espanhol, teatro norte-americano é minha área de interesse e estudo e Soriano estava no elenco, decidi voltar no dia seguinte pra tentar comprar ingresso. Assim o fiz e na noite seguinte estava vendo Soriano dar uma sólida interpretação ao lado dum ator mais jovem bastante medíocre. Mas, no hall do teatro um casal simpaticíssimo havia me explicado que o moço era muito popular na TV argentina e isso certamente aumentava a acorrida do público ao teatro. Um galã certamente atrai muito mais público do que um ator septuagenário. O casal simpaticíssimo surpreendeu-se por eu estar lá pelo Soriano.

Foi por Soriano que resolvi ver El Brindis (2008), co-produção México/Chile, que tem elenco internacional no mundo latino-americano. Além do argentino, a protagonista é mexicana e outro protagonista é chileno. Essa “globalização” é um dos fatores que contribuem para que a película seja um desses típicos produtos da pós-modernidade. A produção é tão edulcorada que a cidadezinha poderia ser na Turquia que seria a mesma coisa. Fotografia de propaganda turística, de comercial de vinho (literalmente).

E um roteiro cheio de lacunas, inconsistências e pulos. A trama gira ao redor da história de Emilia, filha bastarda dum judeu, que volta ao Chile no fim da vida do pai para assistir à cerimônia de seu mais do que tardio Bar Mitzvá (não sei se a grafia é essa). Um dos defeitos do filme, inclusive, é achar que todo mundo conhece as tradições judaicas. Os meninos devem cumpri-la ao completarem 13 anos e ela serve para integrar definitivamente o jovem à comunidade, passando então a assumir responsabilidades por seus atos. Pelo menos é isso que me lembro de ter ouvido um amigo me contar. O filme só deixa claro que o pai de Emília já está 70 anos atrasado pro seu Mitzvá, mas ao não explicar o significado da cerimônia perde uma grande chance de alivanhar a tardança de passar pelo ritual ao próprio reencontro com a filha. Isso daria uma dimensão simbólica enorme à história.

A psicologia, conflitos e ações das personagens também se ressentem de consistência. Por que a moça pede pra usar o fone duma casa ou usa um fone público se tem um celular na bolsa, que toca numa hora bastante inconveniente??? Numa hora ela acusa o pai amargamente de jamais lhe ter dado atenção e 2 cenas depois estão num lindo piquenique digno de literatura árcade, todo ternos, como se não houvesse tensão alguma entre os dois.

Com tantos defeitos (há outros, vários outros, inclusive uma relação entre Emilia e um rabino com cabelinho de galã que enfureceria as feministas) o filme nunca realmente decola e a única coisa boa da interpretação de Soriano é o sotaque, o que acaba transformando a personagem num mero tipo. Afinal, imitar sotaque até eu faço!

Trata-se do primeiro longa do diretor, mas enquanto ele não se livrar da fotografia de comercial de TV e não trabalhar com roteiros melhor elaborados, não sei não...

Nem sei se a lei judaica permite que alguém passe pelo Bar Mitzvá tão tardiamente (quero crer que sim porque parece que o diretor é judeu, então deve saber o que diz), mas a idéia me pareceu bem interessante. Mas falhou na execução. Daí, algum roteirista anglo-saxão escreve roteiro algo semelhante, contrata a Natalie Portman e o Gene Hackman (adoro!) e um monte de gente dirá que a idéia é totalmente original! Afinal, quanta gente assiste a cine chileno?

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