Comédias românticas precisam ter atores que me interessam ou serem de safra antiga porque gosto do tom menos vívido das películas antigas, aquela imagem envelhecida. Se forem com as J Los e Ben Afflecks da vida não vejo mesmo. Não me interessam e só vejo o que me interessa se for por diversão. A gente já é obrigado a fazer tantas coisas de que não tem realmente vontade, por que então eu deveria ver um filme apenas porque “todo mundo” está vendo? Escolhi ver Last Chance Harvey (2008) por causa da Emma Thompson. Ok, Dustin Hoffman é excelente ator, um dos melhores da geração, mas não é meu herói.
De antemão sabia que o filme não traria nada de novo, mas não tinha dúvidas de que iria gostar. Não traz nada de novo mesmo: é a velha história de dois seres meio amargurados que encontram no outro a possibilidade de um recomeço. Ocorre um incidentezinho no meio da trama pra dificultar um bocadinho as coisas, uma das personagens mostra-se reticente em abandonar a confortável vidinha de desapontamentos por temer sofrer, mas no fim tudo acaba bem. Na década de 60 ou 70 as feministas ficariam indignadas com o falocentrismo da trama (prestem atenção ao título em inglês; no frigir dos ovos a personagem da Emma funciona mais como uma solução pros problemas do Harvey), mas hoje ninguém mais parece se importar.
De vez em quando é bom ver filmes cujo final você já sabe porque seguem à risca a receita da escritura do roteiro. Bom porque a gente pode prestar mais atenção a como as coisas foram feitas e não no que vai acontecer. Last Chance Harvey presta-se bem a estudantes de roteirismo que querem constatar como é um bem feito.
Nada é original no filme: a música de abertura é puro Satie na introdução, o encontro na praça malfadado devido ao probleminha de saúde lembra aquele filmão clássico dos anos 50 em que os amantes marcam encontro no Empire State Building, mas há um atropelamento blá blá blá. Há o indispensável comic relief representado pela mãe da Emma no filme, a excelente Eileen Atkins (lembrem-se de que sou fã de produções da BBC!).
E também gostei do filme, portanto, minhas duas assunções iniciais se confirmaram. O roteiro é muito bem escrito nos mínimos detalhes para que conheçamos bem a psicologia das personagens. Por exemplo, no avião a caminho de Londres, Harvey puxa conversa com uma moça. Isso torna crível a iniciativa da personagem de puxar papo com a Kate, personagem da Emma. Harvey e Kate são personagens comuns, são pessoas que nada tem de realmente especial, no sentido de grandes ações, tiradas espetaculares altamente dramáticas. E o tom do filme é precisamente esse, nada exagerado, tudo mais ou menos ordinário (sem sentido pejorativo!)
Claro que num roteiro sem novidades e num filme de tons discretos, o par de atores central deve ser muito bom, senão vira uma tortura ver (pelo menos pra mim). E como negar a excelência de Hoffman e Thompson? Estão charmosos, detalhistas e naturalistas. Uma maravilha ver o Hoffman desviando o olhar direcionado à Emma pra observar ciclistas passando, isso no final do filme, num momento crucial. Ele esperava a decisão dela, mas os ciclistas passaram zunindo à sua frente. Quem não olharia? Eu poderia nomear pelo menos um par de atores de renome que não o faria...
La Thompson? La Thompson continua La Thompson porque ela nunca foi obrigada! Até a maneira como a personagem fala “bye” tem consistência ao longo do filme. Além do mais, ela fez Cambridge, então consegue falar palavras com três sílabas ou mais de modo crível. Conheço um par de atrizes de renome que não. Um amigo me escreveu extasiado peo fato da Emma conseguir fazer o papel duma mulher comum tão bem. Acho que entendi o que ele quis dizer; os não-fiéis provavelmente associam Emma a filmes de época como Remains of the Day ou Sense & Sensibility, pelo qual levou o Oscar de roteirista.
Vejam que maravilha a cena onde Kate explica a Harvey a expressão "stiff upper lip". Em mãos de atores menos habilidosos essa cena de caretas poderia ficar ridícula, mas não nas mãos de la Thompson e Hoffman.
Aos que saem do cine/desligam o dvd assim que os créditos finais começam a subir, um aviso: pouco depois abre-se uma janelinha no fundo preto dos créditos e há a resolução da trama paralela da mãe da Kate.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
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Ave!
ResponderExcluirarrisquei ver esse filme. Pela Emma. Hoffman considero uma produção hollywoodiana (a mesma postura em todas personagens). Valeu apenas em "A primeira noite de um homem" e "Tootsie". Adoro rever filmes. esses dois nunca mais. Óbvio. Emma é adorável, salvou o filminho.
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