ALBINO INCOERENTE NA GLOBONEWS

Há algumas semanas tenho estado em contato com a equipe do programa Espaço Aberto, da Globonews, que exibe reportagens sobre ciência e tecnologia e outros temas como literatura. As produtoras Flávia e Maristela me contataram pra saber se havia possibilidade duma matéria pro programa. Trocamos diversos emails e chamadas telefônicas pra combinar como seria mais viável o contato. Porque, além do blog, existe a idéia de me mostrar em meu espaço, trabalhando, mexendo no computador (com a cara enfiada nele, mas mexendo), indo ao trabalho de chapéu e óculos de sol. Enfim, a produção entendeu perfeitamente a postura pró-ativa do blog e de meu trabalho de conferir maior visibilidade às pessoas com albinismo.

Ficou combinado que uma equipe duma afiliada da Globo próxima a Penápolis (no caso, a TV Tem) viria aqui me entrevistar e fazer as cenas. Semana passada, entretanto, saiu a confirmação de minha participação no Sem Censura. Informei à Maristela que teria que ir ao Rio de Janeiro de todo modo, então, poderíamos fazer o programa da forma que fosse mais conveniente a eles. Ficar um tempo a mais no Rio não é nenhuma tortura, afinal de contas, né???

Tudo combinado, faltava apenas decidir onde seriam feitas as gravações no Rio. Na quarta à noite – enquanto eu caminhava tranquilamente pela orla de Copa – Maristela me ligou e disse que a entrevista seria gravada na manhã seguinte no Jardim Botânico, próximo à central de jornalismo da Globo.

Na quinta por volta das 9:00 da manhã , o Leonardo, motorista da Globo, veio me apanhar pra levar pra gravação, permanecendo lá até o final pra me trazer de volta à Copa. O percurso de ida e volta com o Leo por si só já teria sido interessantíssimo. Aprendi muito, mas muito mesmo sobre o RJ, sobre nomes de logradouros, enfim, um papo pra lá de agradável e do jeito que gosto, bem humorado, ágil, inteligente.

Quinta-feira no Rio de Janeiro foi um dia muito nublado e com muita chuva, especialmente á tarde. Um paraíso prum albino!! Mas isso impediu que eu usasse chapéu e óculos de sol durante as gravações, feitas ao ar livre, no lindo Jardim. Tudo bem, quando a equipe da afiliada vier a Penápolis, poderei me paramentar “à caráter”. Acho isso importante pra reportagem ser mais realista e também pra mostrar como a vida pode ser vivida frutiferamente tomando-se determinadas precauções.

O contato com a repórter Sandra Moreyra e com a equipe de filmagem foi fácil, agradável e divertido. Conversamos alguns minutos antes de se iniciarem as filmagens pra nos conhecermos melhor, pra determinar quais seriam os locais melhores, enfim, aqueles procedimentos pré-entrevista e pré-gravação.

Iniciada a gravação, comecei meio tímido, especialmente a respeito do que fazer com os braços. Sandra me deu conselho sensato: “esqueça que tem braços, não pense neles”. Como o pessoal da equipe é muito profissional e simpático, fui me soltando e da metade da gravação pra frente, tornei-me uma avalanche de palavras, sendo desnecessário, inclusive, interromper as gravações. Considero-me bom professor e professores, uma vez falando de seus assuntos de estima, falam como papagaios!

Abordamos aspectos de minha vida pessoal, de minha trajetória acadêmica, do blog e dos problemas e reivindicações albinas. Agora falta a parte que será gravada aqui pra poderem editar o programa. Assim que souber a data de exibição, postarei aqui.

Ontem, o blog completou 6 meses de existência – as primeiras postagens ocorreram em 1º de fevereiro. Orgulho-me que num espaço tão curto, tenhamos conseguido tanta coisa. Espaço na grande mídia, interesse por parte de setores da universidade, alguma penetração no exterior – Portugal e Argentina -, além do contato que tenho tido com outras pessoas albinas, que vêem neste blog um canal de contato pras nossas reivindicações e exposição de nossos problemas. Igualmente importante, tem sido o contato com pessoas não-albinas que acompanham o blog, enviam mensagens de incentivo e dizem que estão a aprender muito.

Quem me acompanha há algum tempo está ciente do tanto de esforço e tempo que tenho dedicado a este projeto. Sem estar reclamando, devo dizer que deixei alguns projetos acadêmicos de outro cunho meio de lado por isso que estou fazendo agora. Não me arrependo, porém. Pelo contrário, estou cada vez mais entusiasmado e acredito que as portas estão definitivamente se abrindo pra nós no sentido de nos tornarmos uma minoria notada, ouvida e atendida em algumas de nossas necessidades, especialmente aqueles de nós que não tiveram as mesmas chances, mas que certamente, as merecem.

Pra finalizar, espero que para os não-albinos que vivem se lamuriando da vida – às vezes, por questiúnculas – o trabalho que estou fazendo sirva de exemplo pra arregaçarem as mangas e irem à luta! Se joguem, a vida é curta demais pra ser apenas chorada, ela tem que ser também rida.