domingo, 23 de agosto de 2009

CRIANÇAS ESPACIAIS


Roberto Rillo Bíscaro

Em 1957, a União Soviética parecia perigosamente á frente dos EUA na corrida espacial, com o lançamento do Sputinik. Não faltaram vozes no governo norte-americano pedindo o lançamento de armas nucleares em órbita da terra, a fim de proteger o país e seus aliados contra algum ataque dos países da Cortina de Ferro, até porque, após a Revolução Cubana, o perigo comunista estava literalmente no quintal do Tio Sam. Pra quem acha loucura dos anos 50 a idéia de levar a corrida armamentista ao espaço sempre é bom lembrar que nos anos 80, a administração de Ronald Reagan teve uma brilhante idéia semelhante, chamada Projeto Guerra nas Estrelas.
Do mesmo modo que o filme de George Lucas influenciou o nome do megalomaníaco projeto do reacionário Reagan, a idéia de colocar armas atômicas em órbita nos “anos dourados” influenciou um filme de 1958, chamado The Space Children. Um grupo de crianças, cujos pais trabalham prum projeto governamental de lançar uma bomba de hidrogênio em órbita da terra a fim de protege-la, começa a ser guiada telepaticamente por uma coisa em forma de cérebro, que vem a nosso planeta e se instala numa caverna próxima á base de lançamento do foguete que transportaria a bomba.
Aproveitando a idéia rouseeauniana do bom selvagem, as crianças, tidas e havidas como inocentes devido a seu ainda pouco contato com as mazelas do mundo civilizado, são a escolha ideal pros aliens fazerem seu trabalho. E também por causa da noção bíblica de que serão elas as herdeiras do mundo. O filme, não surpreendentemente, termina com uma citação de São Mateus.
Ao final, descobrimos que o trabalho de influência telepáticas dos alienígenas havia se dado no planeta todo, com as demais crianças, fossem elas norte-americanas, inglesas ou checas. Ao final da década, com a possibilidade cada vez mais concreta de aniquilamento nuclear, a mensagem do filme é pacifista e o trabalho das crianças é precisamente pra colaborar pra que os projetos bélicos dos adultos não vinguem.
O orçamento quase zero do filme é compensado por um roteiro bem escrito e uma película inteligentemente dirigida por Jack Arnold, que sempre soube tirar leite de pedra, quando se tratava de trabalhar com orçamentos beirando a 1,99. Basta checar o influente Tarântula, de 1955, por exemplo. Aliás, o filme da aranha gigante conta com um jovem Clint Eastwood fazendo uma ponta que sequer consta dos créditos.
O filme não teve o poder de frear a corrida armamentista e o perigo de destruição nuclear perdurou por décadas (perdura até hoje, afinal, pelo que eu saiba as armas nucleares colecionadas pelas tais superpotências, não foram destruídas, foram?), entretanto, é boa diversão pruma tarde fria e chuvosa como a de hoje.

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