Cientista cria óculos que permite mudança rápida de foco
06 de agosto de 2009 • 20h10 • atualizado às 21h00
Após ter se formado em física aplicada pela Caltech, Stephen Kurtin poderia ter aceitado uma oferta de emprego da Intel no início da era dos microeletrônicos há 40 anos. Em vez disso, ele trilhou o caminho de investidor solitário, ganhando mais de 30 patentes em áreas como software de edição de texto e sistemas de som, culminando em um par de óculos que ele acredita poder libertar dois bilhões de pessoas ao redor do mundo das lentes bifocais, trifocais e progressivas.
Os óculos têm um minúsculo controle deslizante ajustável na ponte da armação que possibilita alternar o foco para a página de um livro, a tela de computador ou uma cadeia de montanhas à distância.
Kurtin, 64, passou quase 20 anos de sua carreira tentando criar um par de óculos melhorado para as pessoas que sofrem de presbiopia - condição que afeta quase todas as pessoas acima de 40 anos à medida que perdem progressivamente a capacidade de foco em objetos.
Após muitos passos em falso e becos sem saída, ele teve sucesso na criação de óculos com foco mecanicamente ajustável. Ele diz que eles são melhores que outros óculos e algumas formas de cirurgia a laser. E eles expressam um visual intrigante: um pouco de Harry Potter com uma pitada de "Revolta dos Nerds".
Kurtin fez sua pesquisa de pós-graduação em física aplicada para Carver A. Mead, pioneiro da indústria e físico. Posteriormente, várias de suas inovações em tecnologia de software resultaram no Lexitron Videotype, o primeiro editor de texto independente que trabalhava com a forma final de impressão. Ele também criou uma primeira versão de um sistema de som surround para a Advent, fabricante de caixas de som.
A cruzada dos óculos tem sido sua paixão desde 1992. Este mês, a TruFocals, empresa que ele fundou há três anos, começou a vender seus primeiros óculos de foco ajustável através de um pequeno grupo de optometristas e irá em breve vender diretamente online. Kurtin disse que havia investido milhões de dólares no projeto com sua esposa e, segundo ele, investidores privados, incluindo Jonathan Seybold, editor do setor da computação, haviam investido muitos outros milhões.
A invenção da lente bifocal é creditada a Benjamin Franklin, que foi descrito usando um par de óculos incomum em 1764. Desde então, avanços significativos demoraram para vir. As lentes bifocais foram seguidas das trifocais, e então, um pouco depois da virada do século 20, vieram as lentes progressivas, que eliminam as linhas distintas associadas às bifocais.
"Durante mais de 140 anos, o foco ajustável foi reconhecido como o maior desejo dos presbíopes", disse Kurtin, se referindo a cerca de um terço da população que perdeu parcial ou integralmente a capacidade de foco em objetos próximos. Mas existe uma razão para alternativas melhores não terem surgido: "É um problema extremamente difícil", ele disse.
A ideia de uma lente fluida cujo plano focal pode ser mecanicamente ajustado remete a uma patente de 1866, concedida a D.A. Woodward, um inventor de Baltimore. Desde então, houve várias tentativas de comercializar a tecnologia, mas nenhuma cumpriu com todos os critérios para ter sucesso. As lentes devem ser finas, leves, duráveis e facilmente ajustáveis. Há vários anos, Kurtin teve uma epifania. Uma lente frontal removível e magneticamente presa à armação daria um sistema compacto e durável.
Outros pesquisaram abordagens que não envolvem fluido, como sistemas de lentes e tecnologias eletro-ópticas. Em 1964, por exemplo, Luis W. Alvarez, ganhador do prêmio Nobel de física em 1968, projetou uma lente bipartite que mudava de foco com o deslize de dois componentes de vidro com curvaturas opostas.
Vários esforços internacionais estão em andamento para adaptar as lentes fluidas e a abordagem de Alvarez para o 1,3 bilhão de pessoas na base da pirâmide econômica que a Organização Mundial de Saúde estima não ter acesso a óculos. Tanto o Centre for Vision in the Developing World (Centro para a visão no mundo em desenvolvimento), em Oxford, Inglaterra, quanto o U-Specs em Amsterdã estão trabalhando em óculos que podem ser distribuídos por uma fração do preço praticado no mundo desenvolvido.
Os óculos da TruFocals, que custam US$ 895, são os primeiros a se tornarem comercialmente disponíveis nos Estados Unidos. Os óculos são formados por uma lente de espessura comparável à de óculos comerciais, mas possuem três componentes: um vidro posterior, uma membrana interna preenchida por um fluido que é essencialmente um pedaço de plástico esticado em um aro cuja curvatura pode ser alterada mecanicamente e uma lente exterior de prescrição presa por meio de ímãs à armação dos óculos.
Para mudar de foco, o usuário move o deslizador sobre a ponte da armação. A lente TruFocals deve ser redonda para garantir que a curvatura da lente interior seja correta, mas os fundadores da empresa não acreditam que o formato seja um obstáculo à moda. A TruFocals oferece armações unissex em uma variedade de cores.
Mesmo se os óculos da TruFocals não forem aceitos por todos os usuários, a empresa pode encontrar mercado para um grupo diverso de consumidores que trabalham na frente de telas de computador, mas que também precisam ler livros, revistas e jornais, ou pessoas com condições médicas que resultem em uma alteração na visão.
"Isso não vai invadir todo o mercado e a empresa não precisa disso", disse Eli Peli, professor de oftalmologia da Escola Médica de Harvard e investidor da TruFocals. Por enquanto, a TruFocals tem o mercado para si, mas pode haver competição no ano que vem. A PixelOptics, com sede em Roanoke, Virgínia, está investindo na abordagem eletro-óptica, que usa uma tecnologia similar a uma tela de LCD para mudar o índice de refração de um componente transparente, que a empresa irá embutir em lentes convencionais.
Em princípio, a empresa planeja tornar a tecnologia acessível a muitas armações e estilos. O objetivo é obter um sistema que automaticamente determine o foco usando um acelerômetro, um sensor que mede as mudanças de movimento, disse Ronald Bloom, fundador da empresa. Seria necessário carregar a bateria a cada dois ou três dias. A empresa não forneceu detalhes nem o preço de sua tecnologia, mas afirmou que ela está em fase de teste.
Kurtin está introduzindo seu produto no mercado lentamente, mas tem esperança de que sua nova moda pegue. Ele observa que quando os familiares de um dos investidores se reúnem, eles gostam de brincar que se parecem um pouco com uma reunião do fã clube da banda Devo.
Tradução: Amy Traduções
The New York Times
(Encontrado em http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI3910892-EI238,00-Cientista+cria+oculos+que+permite+mudanca+rapida+de+foco.html)
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
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