(Acima, trailer do filme The Colossus of New York)
Andei vendo mais alguns filmes de ficção científica e terror dos anos 50.
Roberto Rillo Bíscaro
O primeiro foi The Magnetic Monster (1953). Um cientista cria um novo elemento chamado serranium, bastante instável, radioativo e que duplica de tamanho a cada 11 horas sugando energia e ameaçando a população terráquea com a radiação e a própria órbita do planeta porque pode crescer tanto a ponto de ameaçar tirar o planeta de lugar. O monstro do título não se materializa jamais, mas é tratado como qualquer monstro de filme de monstro, ou seja, tem que ser “morto” antes que seja tarde demais. O filme é recheado de blá-blá-blá científico e raramente vi película que mostrasse tanto aparelho de ponta, de época, quanto esse! Pra quem curte tecnologia vintage, The Magnetic Monster causará frêmitos: são super-computadores, contadores geiger e um monte de outros aparelho eletrônicos da primeira metade dos anos 50. Fredric Jameson escreveu que a fascinação pelos cientistas e pelo trabalho cientifico na década de 50 pode ser entendida como forma de compensação pela rotina chata e sem graça de nossos empregos de 8 às 5. Cientistas trabalhavam em locais estimulantes, cheios de luzinhas e bips, não precisavam se submeter à tediosa rotina e, ainda por cima, salvavam o planeta. Acredito também que importava muito vender e consumir a imagem de que os EUA eram tecnologicamente mais avançados do que a inimiga URSS. The Magnetic Monster cumpre ambas tarefas muito eficientemente e ainda diverte com uma história narrada em off, remetendo aos filmes noir.
Depois foi a vez de Red Planet Mars (1952), que é pura propaganda anti-comunista e não usa sutileza ou metáfora alguma pra esconder o que é. Pelo contrário, o fervor nacionalista-religioso do filme equilibra-se entre o aterrador e o risível. Um casal de cientistas estabelece contato com o planeta vermelho e no começo as mensagens causam caos no mundo ocidental, ou mundo civilizado, como dizem no filme. Mas, eis que de repente, os marcianos começam a enviar mensagens religiosas conclamando a paz mundial. Imediatamente, estabelece-se a crença de que Deus está falando por intermédio dos marcianos e o mundo inteiro magicamente passa a seguir seus ensinamentos. Inclusive, os países detrás da Cortina de Ferro, os quais, depois de muitas mortes e rebeliões, finalmente banem o comunismo e passam a viver sob a chefia dum membro da igreja ortodoxa russa!!! E tem mais, acreditem, muito mais. Visto após a queda do comunismo soviético – quando sabemos que a palavra de Deus nada teve a ver com o fim dos regimes comunistas – a película não deixa de ser altamente irônica. Cada vez entendo melhor alguns amigos norte-americanos mais velhos que sempre me relatam o pavor que sentiam nos anos 50. Red Planet Mars é puro panfletarismo e está longe de ser produto isolado na época. No entanto, é provavelmente o filme mais completo que já vi pra ilustrar o chamado Red Scare do pós-guerra. Os atores estão todos, sem exceção, 10 tons acima duma interpretação “normal”. A personagem feminina parece estar possuída por algum anjo reparador, tamanha a melodramaticidade e fanatismo de sua atuação. Red Planet Mars requer estômago forte, mas, dentro do que se propõe é eficaz até o último fio de cabelo. De arrepiar!
Noutro dia, vi The Colossus of New York (1958), enésima recriação da história de Frankenstein, com bastante carga melodramática. A música incidental é puro acompanhamento musical de peças teatrais de melodrama, cujo nome, alías, vem de melodia acoplada a drama. Um cientista disposto a erradicar a fome no mundo morre e seu pai transplanta seu cérebro pro corpo de um robô, criado pelo irmão do brilhante cientista morto. Devido à aparência horrível e à solidão proveniente do medo qu causa nos outros, o robô vai desenvolvendo idéias homicidas e as coloca em prática com seus brilhantes olhos, que disparam raios capazes de fritar as pessoas. A moral da história é que não compensa viver uma vida puramente cerebral, desprovida de emoções. O final “apoteótico” se dá num dos saguões do prédio da ONU, onde somos brindados com um festival de efeitos especiais de baixo orçamento e final pra lá de melodramático. Indispensável pra admiradores de trash movies.
Também de 1958 é Terror From the Year 5000, Um cientista desenvolve uma máquina capaz de enviar coisas pro futuro e trazer coisas de lá para o passado que no caso é o presente do filme). O assistente idiota – também financiador do projeto – e afoito acaba por trazer uma mulher deformada do futuro. A explicação pra deformação [e adivinhem qual??? Quem respondeu radiação atômica acertou!! No ano 5000 uma em cada 5 crianças nasce mutante devido à forte radiação no ar. A mulher fora enviada do futuro a fim de levar para lá um homem com genes saudáveis pra acabar com o problema e salvar a espécie humana. Você que até agora acreditava na genialidade de Back to the Future e Terminator deve estar desapontado... Desafio algum espectador a não gargalhar quando da primeira aparição da mulher radioativa. Os grunhidos e gritos são muito engraçados. Efeitos especiais impagáveis e um momento fantástico onde a mutante troca de rosto com uma enfermeira fazem dessa película outro must pra trashers. Como pude viver tantas décadas sem conhecer isso?
(Abaixo, trailer de Terror From the Year 5000)
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