quinta-feira, 13 de agosto de 2009

QUIRÓFARO

Mineiro cria aparelho para cego andar sem bengala
Estado de Minas12/08/2009
Leonardo Gontijo criou o quirófaro, um sensor que permite que a pessoa com deficiência visual caminhe sem bengala
Luciane Evans

Indefeso e com a ajuda dos filhos, o senhor, de meia idade, entrou naquele dia no consultório médico com a esperança de que a sua cegueira, resultado de uma diabete avançada, fosse enfim curada. Sem sucesso, ele ouviu do oftalmologista uma promessa: "Um dia, você não terá mais que depender dos outros para ser guiado, vou criar um equipamento para que isso se torne realidade". Seis meses se passaram e o prometido foi cumprido.
Leonardo Gontijo, oftalmologista de Belo Horizonte, criou o quirófaro - sensores que permitem cegos a largarem a bengala e se locomoverem sozinho. Como prometeu, Leonardo procurou aquele homem, que lhe serviu de inspiração, mas soube que ele havia falecido. O senhor não chegou a conhecer o que lhe deixaria mais independente e seguro, mas foi o impulso certo para a esperança de 1,2 milhão de deficientes visuais brasileiros , que poderão largar a bengala e cães guias para seguir por caminhos sem obstáculos.
"A ideia surgiu quando comprei um carro com sensores e percebi que podia ir mais além com aquela tecnologia. Mas esse projeto ainda estava adormecido e foi acionado quando aquele senhor simples e dependente dos filhos entrou no meu consultório", conta Leonardo Gontijo, que explica que procurou um eletrotécnico para desenvolver a invenção. Ele explica que são quatro sensores que ficam espalhados pelo corpo. No protótipo uma caixa é colocada na cintura e se assemelha a um cinturão. Além de um sensor, dessa caixa, que serve como suporte para todo o equipamento, saem três fios que ligam a outros sensores: um na altura do peito, que se assemelha a um medalhão, e outros dois em cada joelho.
Ao ser ligado, o aparelho oferece duas opções ao deficiente visual, que pode escolher entre a sensibilidade auditiva ou vibratória. Se optar pela primeira, quando os objetos estiverem a 1,5 metro de distância um apito será acionado. "Ou quando estiver nessa mesma distância, sentirá vibrações", explica o médico, que lembra que a invenção tem como prioridade evitar que os deficientes visuais batam a cabeça e o tronco em objetos altos. "Isso acontece muito. A bengala, permite a eles uma identificação das coisas que estão próximas ao chão. Por isso, muitos batem a cabeça em orelhão, portas de armário e tantos outros", destaca, acrescentando que se o cego também sofrer de deficiência auditiva poderá usar as vibrações para se guiar.
Ainda de acordo com o oftalmologista, a novidade atinge principalmente aqueles que tiveram a cegueira adquirida ao longo da vida. "Quem já nasceu cego é mais ágil e consegue se locomover com mais facilidade, por isso, não aceita abandonar a bengala. Já quem adquiriu o problema se sente perdido, inseguro e não se adapta rápido aos auxílios de locomoção. São para esses que o equipamento será essencial", ressalta Leonardo, que tem testes como base para comprovar a afirmação. "Convidamos alguns cegos da Santa Casa de Belo Horizonte para testar o protótipo e o resultado foi muito positivo entre eles", diz e aposta que no futuro a invenção será indispensável para quem perdeu a visão e tem dificuldades de se locomover.
O fisioterapeuta Luiz Edmundo Costa, de 42 anos, foi um dos que testou o aparelho e reconhece que se trata de uma nova esperança. Apesar de ser deficiente visual desde que nasceu e, por isso, ter maior desenvoltura ao se locomover, Luiz, que diz que a bengala traz a segurança necessária para quem não enxerga, apontou vantagens e desvantagens nos sensores. "Um lado positivo é o de nos proteger dos objetos altos e medianos. Sempre batemos a cabeça em algum obstáculo, o que é perigoso. O experimento poderá ser um risco a menos", afirma, acrescentando que, "por outro lado, se houver um nível mais alto numa calçada ou um buraco no chão, o equipamento não terá a mesma sensibilidade". Ele confessa que, diante dos dois pontos, irá preferir usar os dois auxílios: a bengala e os sensores.
De acordo com o professor, uma nova versão do equipamento já está sendo feita. E a mudança será a instalação de um sensor a laser, que será colocado na cintura do deficiente visual e será capaz de fazer leituras do chão. "Assim, quando houver buracos, a pessoa será avisada", diz, acrescentando que os sensores do protótipo, que alertam sobre os obstáculos, são também capazes de ativar som ou vibrações quando o usuário subir degraus.
Mercado
A invenção será apresentada a mais de 6 mil médicos do Brasil e do exterior durante o 35º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, que ocorre na capital, entre os dias 24 a 27. Mesmo ainda em fase de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o equipamento já chamou a atenção de uma empresa em São Paulo que se interessou em produzi-lo em escala industrial.
De acordo com Leonardo Gontijo, quando chegar ao mercado, o aparelho não terá as mesmas dimensões do protótipo. "A ideia é que os sensores sejam do tamanho de um botão. Assim como o original, haverá uma caixa presa à cintura e a expectativa é que ela seja do tamanho de um pequeno celular com bateria recarregável", explica, apontando que a intenção é que o valor do quirófaro não seja de alto custo. "Existe uma bengala a laser feita na Europa que tem sensibilidade com objetos altos, mas a unidade custa cerca de 3 mil euros. É muito caro, queremos que a invenção mineira seja acessível a todos", compara.
O próximo passo
para auxiliar na locomoção dos deficientes visuais, segundo afirma Leonardo, é desenvolver um sensor auditivo para ser colocado nos óculos escuros, que tanto são usados pelos cegos. "A ideia já está em andamento. O objetivo é fechar o cerco aos objetos altos, que são sinônimo de tormento para quem tem problema de visão", revela.

(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=26331)


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