Quem tinha idade suficiente pra se situar no mundo e lembrar das coisas em 22 de novembro de 1963, especialmente se fosse norte-americano, certamente sempre recordaria do que estava fazendo quando recebeu a notícia do assassinato do presidente John F. Kennedy, ocorrido na cidade texana de Dallas. Diversas vezes, vi ou li referências com relação a isso. Kennedy representava um ideal de juventude e progresso pruma vasta parcela da sociedade norte-americana. Peças de teatro, filmes e livros foram escritos com personagens referindo-se ao que faziam ou como se sentiram quando souberam do assassinato do presidente. Eu mesmo tive um tio que carregou durante anos a foto do presidente em sua carteira. Jamais perguntei se ele carregava as da esposa e filhos, mas sei que sempre tinha a de Kennedy consigo.
Em escala global, creio não ser exagero dizer que muitos se lembram exatamente do que faziam ou como receberam a notícia do atentado ao World Trade Center há 8 anos. Incrível, mas já faz 8 anos!... Eu me lembro perfeitamente, até porque fiquei ansioso e preocupado por queridos que se encontravam ou residem na Grande Maçã.
Naquele 11 de setembro, pouco antes da hora do almoço acessei a página do Terra e vi uma foto não muito grande e o comentário de que os prédios haviam explodido. Acho que porque já fizeram tantos filmes onde Nova York é destruída, nem liguei. Juro que achei que fosse trailer dalgum filme! Como não tenho costume de ver trailers e seguir lançamentos desses blockbusters não dei a mínima. Fui pra página de emails ver o que havia lá.
Teria que ir à rodoviária em seguida porque precisava comprar passagem pra Sampa. No dia seguinte, teria aula na pós. Tinha cumprido todos os créditos obrigatórios, mas decidira cursar uma disciplina de História Oral, ministrada pelo Prof. José Carlos Sebe Bom Meihy (o “alter ego” do Zeca, que também menciono de vez em quando...), figura conhecidíssima dos leitores desse blog nessa altura do campeonato. Ele viajara pra fazer umas entrevistas e eu não fora à aula na semana anterior porque a tarefa seria discutir entre nós alunos um texto do Walter Benjamin, que eu, da área de literatura, já conhecia de cor e salteado. Naquela semana, não poderia faltar, portanto. Mas, tava enrolando pra comprar a passagem...
Não deu 2 minutos que eu checava os emails, quando meu irmão ligou perguntando se mamãe e eu soubéramos do ataque em Nova York. “Que ataque?”, perguntei. Ele contou e disse preu ligar a TV porque estavam transmitindo. Minha mãe ligou e eu fiquei na net; daí caiu a ficha: a foto que vira na página do Terra era de verdade. Deu aquele arrepio de “PQP, não dá pra crer que tá acontecendo isso!” Os primeiros segundos foram de total incredulidade. Meu, os prédios haviam desabadooooo! Eu os conhecera no início daquele mesmo ano. Eram gigantescos, não dava pra crer. Gelei mais quando me dei conta de que o vôo da American Airlines saíra de Boston. Era exatamente a mesma companhia e o mesmo trajeto que fizera no inverno norte-americano anterior.
Passado esse momento “eu sou o centro absoluto do universo e tudo gira a meu redor”, lembrei-me dos amigos em Nova York. 2 amigos norte-americanos viviam lá e era pra lá que o Zeca tinha viajado! Ele estava maluco com as entrevistas pro livro sobre imigrantes brasileiros na cidade e fora concluir algumas entrevistas. O World Trade Center era coalhado de engraxates brasucas e havia um em particular que ele entrevistara. Entretanto, parece que me lembrava dele ter dito que pegaria vôo pro Brasil na noite de 10 de setembro. Mas, a gente nunca sabe; ele poderia ter adiado a volta e estar ilhado na cidade e eu não sabia realmente quando o pandemônio todo começara. Liguei pro apartamento dele em Sampa e me disseram que ele estava são e s/calvo no Brasil. Tudo bem, aula haveria. Nunca perguntei a ele a respeito, mas imagino que pra um historiador, ter perdido essa data por questão de horas, deve ter sido frustrante.
Bem, o Zeca estava OK, mas e o Ed e o peTer (ele grafa o nome assim, então respeito.)? Ed vivia longe de Manhattan, no Brooklyn, mas de vez em quando marcava cafés da manhã no WTC pra fechar algum negócio. Não era o caso de achar que estivesse morto porque os restaurantes ficavam lá embaixo, mas poderia estar no meio do caos, desesperado. Eu me hospedara em casa dele em Boston e somos bastante próximos, mesmo distantes geograficamente. peTer também morava longe, muito embora em Manhattan. Não havia razão pra ele estar naquela parte da cidade tão cedo, mas fiquei com medo porque poderia haver mais ataques e a saúde dele não andava lá essas coisas.
Entrei no ICQ – aqueles eram tempos pré-hegemonia do MSN, crianças – e Ed estava lá. Da janela de sua nova casa nova-iorquina se podia ver as torres gêmeas. Tudo o que via agora era fumaça. Ele comentou que a casa estava infestada de terra e fuligem. Disse que estava bem, mas não tinha condições de teclar no momento porque tremia e chorava compulsivamente. Mas, estava bem, então fiquei sossegado e sai do ICQ.
Mandei email pro peTer e saí pra comprar a passagem. Por sorte, depois de algumas horas, havia mensagem dele – daquelas que a gente envia pra diversos amigos - dizendo que estava bem, trancado no apartamento em estado de choque também e não tinha condições de escrever mensagens individuais até porque tinha que permanecer grudado na TV à espera de alguma orientação a respeito de evacuar a cidade ou não, a respeito do suprimento de água.
Após o atentado, como sempre, começaram a circular na net todo tipo de piadas. Lembro-me de uma que era uma espécie de réplica dum pacote de miojo, que diziam ser sabor “American bar-b-q”. Não consegui ver muitas e pedi que parassem de me enviar, até porque meus amigos mais próximos são muito cuidadosos ao me enviar material humorístico porque sabem que meu senso de humor é um tanto peculiar, digamos. Depois das palavras tensas e desesperadas de Ed e peTer, como poderia eu rir daquilo tudo? Não teve a menor graça.
(Abaixo, vídeo com imagens de Nova York e a letra de New York, New York, interpretda pela Liza Minelli. Minha versão favorita.)
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
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