sexta-feira, 18 de setembro de 2009

METEORO

Roberto Rillo Bíscaro

2 tipos de filmes, estreitamente aparentados entre si, fizeram sucesso nos anos 70, quando eu era moleque. Filmes que tratavam de desastres e filmes sobre ataques de animais. Creio que posso chamar a ambos os tipos, filme catástrofe. Os filmes pertencentes ao primeiro tipo sei que eram chamados de filme catástrofe, os do segundo não sei, mas aqui serão todos considerados como catástrofe.
A crise mundial do petróleo, em 1973, pôs fim à longa bonança econômica do pós-guerra, desfrutada por alguns países do hemisfério norte e um par deles no hemisfério sul. A década de 60 e seus ideais viravam nichos de mercado, o EUA se escandalizavam com o caso Watergate, que culminou com a queda do presidente Nixon. A Guerra do Vietnã mexera com os nervos, estômagos, a moral e milhares de vidas norte-americanas (mas, muito mais vidas vietnamitas). O planeta começava a acordar pra degeneração acelerada do meio ambiente.
Parece que os portões do inferno se abriam sobre o planeta novamente. Claro que no cinema não seria diferente. Terremotos, desastres marítimos, aéreos, ferroviários, avalanches, incêndios e furacões despencaram sobre a cabeça dos freqüentadores de cine. Eu era menor naquela época e ficava aguado de vontade de ir ver O Destino do Posseidon, Inferno na Torre, Terremoto, os Aeroportos (no cinema só pude ver o ’80, sobre o Concorde).
Os animais também enlouqueceram e se enraiveceram na década de 70. Tubarões, orcas, polvos, piranhas, formigas, aranhas, ratos, abelhas, sapos, lagartos, enfim, praticamente toda a fauna atacou e matou muitos seres humanos. Quando a censura era 10 anos eu ia ver esses filmes no cinema. Vi Orca, a Baleia Assassina, O Enxame (comprei até o livro!), Tentáculos, Grizzly, a Fera Assassina (sobre um urso gigante...).
Essas películas tinham traços comuns: havia perigo iminente percebido, descoberto ou detectado por alguém, mas, por motivo geralmente econômico, a pessoa era esnobada e o pior acontecia. Quem estava em posição de comando e não dera ouvidos ao herói, pagava com a vida, claro. Geralmente eram militares (olha o Vietnã aí gente!) ou pessoas de negócios esse insensíveis vilões que deixavam os inocentes perecerem por serem inflexíveis ou gananciosos. Por isso, tinham que morrer também, para servir de exemplo de que o mal é punido. Inesquecível a cena em Piranha, onde um dos assistentes cochicha ao ouvido do militar/dono do clube de recreação aquática, o qual se recusara a fechar, mesmo sabendo da proliferação dos peixes carnívoros no rio: “senhor, as piranhas estão devorando os convidados.” Revi essa delícia outro dia e quase enfartei de tanto rir nessa cena.
Outra característica de muitos desses filmes catástrofe era o elenco estelar, composto por estrelas já apagadas, em extinção ou fabricadas mais por insistência do estúdio do que por serem estrelas mesmo. Henry Fonda, Shelley Winters, Fred Astaire, Natalie Wood, Rock Hudson e tantos outros lotavam os elencos para irem morrendo às dúzias.
Nessas últimas semanas, estou revendo e vendo vários filmes do gênero, não apenas dos anos 70. Meu DVD player está encharcado de tanto filme de tubarão, orca, enguia e demais bichos assassinos. Nada de anos 50, agora só to vendo de 70’s pra frente. Também to (re)vendo vários da catástrofe produzidos da década de 70 em diante.
Uma dupla que vi em seguida, com diferença de um par de dias, chamou minha atenção. Ambos chamam-se Meteor. Exatos 30 anos separam as 2 películas. A primeira é de 1979, estrelada por um Sean Connery já 40tão (aliás, será que o Sean já foi jovem um dia???), pela Natalie Wood já com muita cachaça no sangue e outros atores que haviam sido famosos nos anos 50/60. O filme deste ano tem alguns nomes que me são familiares como Christopher Loyd e Jason Alexander, mas não acho que jamais tenham tido status de superstars.
Ambos contam a mesma história: um cometa colide com outro corpo celeste. Isso resulta em um massivo meteoro dirigindo-se à Terra. O impacto seria tão avassalador que a espécie humana seria extinta como os dinossauros. A resolução nos 2 filmes também se dá através da conjunção de mísseis nucleares russos e norte-americanos. No caso da produção mais recente, a China não podia ser esquecida, claro.
O que me chamou a atenção, porém, foi a forma como os roteiristas encontraram pra convencer russos a trabalharem em conjunto com norte-americanos. No filme de 79 – quando a Guerra Fria reinava soberana e absoluta - a solução é que ambos os países usam o bom senso e decidem trabalhar juntos pra salvarem ambas as peles e a do planeta. Ainda que deteriorada, é uma utopiazinha, vá lá. Os russos têm o mesmo poder de fogo que os norte-americanos, ainda que uma leitura mais minuciosa da película constate superioridade norte-americana. Se o filme fosse soviético, vocês não acham que os russos teriam feito o mesmo? Claro que sim.
O Meteor de 2009 quase me deixou boquiaberto. Os russos simplesmente são enganados pelos norte-americanos! Mediante negativa de Moscou em ceder mísseis pra detonar o segundo pedaço do meteoro, os norte-americanos simplesmente enganam os russos dizendo que o meteoro vai em rota de colisão com Moscou. E os russos caem feito patinhos!!!
Ou seja, em 79, os russos pelo menos eram respeitados como inimigos mais ou menos à altura. Em 2009, não. São intransigentes e idiotas, facilmente enganáveis pelos norte-americanos, que são os únicos a possuírem cientistas capazes de calcular rotas de colisão!
A Guerra Fria parece que foi mesmo ganha pelos EUA, mas agora, as personagens russas e da Europa Oriental assombram os filmes de outro modo. Vejam como é frequente personagens da máfia russa nos EUA e na Inglaterra. Até nos Sopranos tinha. É que, libertos do jugo do comunismo, essa população ficou livre pra emigrar pros países mais abastados e continuar a ser pedra no sapato de muita gente. Por isso que, de vez em quando nos filmes, dão uma detonadinha nessas pessoas...

(Abaixo, Dee D. Jackson e seu Meteor Man, mais ou menos da mesma época do primeiro filme de meteoro...)

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