Roberto Rillo Bíscaro
Volta e meia a Espanha se sai com um filme de horror ou suspense que se torna febre entre os amantes do gênero. De cabeça posso citar El Espinazo del Diablo (o diretor Guillermo del Toro é mexicano, mas a produção é espanhola), The Others (a produção é falada em inglês, mas diretor espanhol), Tésis, El Orfanato e [REC].
Nao sei se este vai virar febre, mas acabei de ver uma produção deste ano, chamada No+Do, dirigida por Elio Quiroga, o mesmo diretor de La Hora Fria, aquele mesmo filme que me fez dormir profundamente há algumas semanas. Desta vez não dormi, apesar da noite chuvosa, propícia para tanto.
NODO é a abreviação que davam pros documentários propagandistas produzidos durante a ditadura do Generalíssimo Franco. Noticieros y Documentales eram fitas exibidas obrigatoriamente nas salas de cine espanholas antes de qualquer filme. Nelas, o regime de Franco dava a sua versão pros fatos ocorridos em Espanha e ao redor do mundo, sempre privilegiando seu governo, claro. Além disso, o ditador aparecia inaugurando toda sorte de monumentos e obras. No Brasil, tivemos algo semelhante; ainda me lembro de ver a nossa versão nos cines daqui quando criança.
No+Do, o filme, é uma história de fantasmas e casa mal-assombrada, como tantas. Numa escola para meninas carentes, supunha-se que a Virgem aparecia e fazia milagres. Tais milagres, entretanto, provaram não serem milagres benignos. De acordo com o NODO oficial, as garotas foram simpaticametne repreendidas e enviadas pra outras escolas. Décadas depois, a igreja aluga a enorme casa prum casal que recém tivera um filho. Dez anos antes, haviam perdido uma criança logo após o nascimento. Por isso, a mãe agora exagera nos cuidados e na atenção com o novo bebê. Nem bem se instalam na casa, a mãe começa a ter visões e ouvir vozes. Ao final, descobrimos que os NODOs franquistas eram engodos...
O filme não traz nada de novo à mitologia das casas mal-assombradas, e eu nem esperava isso. Queria que prendesse minha atenção após um dia duro de trabalho e cumpriu com desenvoltura a tarefa que lhe outorguei. A cinematografia é bonita, o ritmo é lento e climático, algumas imagens são algo perturbadoras, vamos deslindando o segredo aos poucos (embora pra quem esteja acostumado com esse tipo de filme, a gente mata o segredo logo) e o último trecho de NODO apresentado é de uma ironia atroz.
De resto, está tudo ali pra quem curte esse tipo de filme e também terror/suspense espanhol: personagens que a gente não sabe realmente se estão vivas ou mortas, cômodos secretos, as teorias conspiratórias envolvendo a igreja católica e o marido que em princípio se recusa a crer na esposa (afinal, nós homens, somos mais racionais, não? Como as mulheres são mais "emoção", estão mais próximas do instintivo, com todas as implicações que isso acarreta desde a teoria do bom selvagem. Estou sendo irônico aqui...)
No+DO prende a atenção e pode até impressionar um pouco aqueles que não passaram do Código da Vinci ou de Sexto Sentido. Além disso, prova que a verdadeira história de assombração que ainda precisa ser simbolicamente resolvida pelos espanhóis é o fantasma do franquismo e de suas ligações com a Igreja.
(Abaixo, um NODO franquista.)
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