sábado, 31 de outubro de 2009
ACESSIBILIDADE DO BLOG
Depois, dei mais um passo pra melhorar a acessibilidade do blog. Os leitores hão de notar o título ALTERE O ESTILO E/OU TAMANHO DA FONTE, à sua direita. A partir de agora, poderemos escolher o tipo e o tamanho da fonte que nos seja mais confortável para leitura. Basta clicar nas caixinhas correspondentes e escolher. As escolhas não afetarão futuras leituras, ou seja, podemos reduzir ou aumentar a fonte, assim como escolher dentre vários estilos, toda vez que quisermos. Espero que isso facilite a vida das pessoas que têm acuidade visual reduzida.
Pra variar, quem me guiou passo a passo na instalação desse novo recurso foi o Castro, jovem geek albino lá do Maranhão. Não deixem de visitar o site dele, aliás!
Como eu, Castro é louco por música eletrônica, por isso, agradeço a ele com uma canção eletrônica dum grupo paulista dos anos 80, o Harry. Genebra... Idos de 1987....
ATENDIMENTO AO DEFICIENTE
Atendimento ao deficiente
O Povo Online30/10/2009
Especialista em treinamento para inserir deficientes físicos no mercado fala da relação deste consumidor
A experiência como terapeuta ocupacional agregou conhecimento à, agora, consultora empresarial, Onilda Gomes. A especialista em treinamento para o mercado de trabalho atua há 15 anos no ramo e conhece bem o público de deficientes físicos, que, conforme garante, tanto são excelentes profissionais quanto consumidores desejados.
O POVO - Os trabalhadores do comércio estão preparados para atender o deficiente físico como cliente?
Onilda Gomes - Não, de jeito nenhum. Isso você vê o nosso mercado como um todo. Uma empresa que tenha um recurso humano convencional, ele não tem essa visão de que vai ter um cliente que tem uma deficiência física.
O POVO - Então o atendimento ao deficiente físico é deficiente?
Onilda Gomes - É deficiente. As pessoas têm receio, têm vergonha, têm medo de se aproximar de uma pessoa que usa muletas, que usa cadeira de rodas. Elas se constrangem e dizem: ``Como é que eu vou fazer?`` É simples. É só ela chegar e dizer assim: ``Boa tarde. Como é o seu nome? Qual a melhor forma que eu posso lhe atender?`` É perguntar.
O POVO - Quais os principais erros ao se atender um deficiente físico? Onilda Gomes - As principais falhas se tornam até cômicas. A pessoa vai falar com o deficiente visual e fala alto, gritando, como se ele fosse surdo também. Eles brincam na sala de aula: ``Professora, a gente já é cego, por que é que vocês, normais & dizem assim brincando &, só falam com a gente gritando?``. E isso é verdade, a gente procura uma carência em querer quebrar aquele mundo e fala com ele gritando. Você vai falar com um deficiente surdo. A pessoa que não sabe a linguagem dos sinais ou a libra, ela inventa outro tipo de gesto que passa a ser uma mímica, uma coisa de palhaçada. Um cadeirante, a primeira coisa que a pessoa faz é ficar com pena dessa pessoa. Além disso, ao invés de pedir para deslocar a cadeira, diz assim: ``Fulano, empurra a cadeira``. Ninguém empurra a cadeira de rodas. A gente empurra carrinho de supermercado, porque a cadeira é o próprio deficiente que está incorporado. Quando você toca a cadeira, você está tocando nele. É o mesmo respeito. A sociedade se preocupa só com a locomoção agora. Vamos fazer rampas e rampas, mas a relação interpessoal, como é que eu vou fazer? Em que aspecto está o problema? Acho que é um conjunto. Está na própria sociedade. Isso tem que ser colocado especificamente em um programa de atendimento. Atendimento com autoridade é uma coisa, com criança é outra coisa, com idoso é completamente diferente. São grupos de pessoas distintas, mas que devem estar no mesmo patamar de atendimento. O mercado do comércio tem que inserir, porque o deficiente é um cliente em potencial, é um consumidor. É também uma questão de educação de base, que passe por casa, passa pela escola, no ambiente de trabalho e repercute em tudo um grupo de mercado. Acima de tudo, é um direito.
O POVO - No lado, o que avançou na inserção do deficiente físico no mercado de trabalho para o comércio?
Onilda Gomes - Avançou em dois sentidos. Primeiro na quebra de um preconceito social, que as pessoas tinham muito. A sociedade, o próprio grupo familiar achava que aquela pessoa estava inválida. A própria nomenclatura leva a isso. ``Inválido, o aleijado``. E não é isso. Segundo ponto, pela necessidade de qualidade de profissional, o mercado mesmo descobriu que esses profissionais têm uma qualidade ímpar. Quando eles são bons, eles são bons mesmo. Todas as vezes, em qualquer área que você coloca aquela pessoa que tem uma deficiência física, ela sempre vai dar excelentes resultados para essa empresa, porque eles têm uma característica de dedicação, de responsabilidade.
O POVO - Então, os deficientes físicos, independente da sua limitação, podem estar capacitados a atuarem no comércio?
Onilda Gomes - Podem, com certeza, desde que eles tenham a capacitação. Se ele vai para dentro de uma sala de aula, ele vai pegar a mesma metodologia. O que vai ser diferente vai ser a locomoção, o tempo que ele vai ficar sentado, o tempo que ele precisa de descanso, mas isso ele mesmo tem a flexibilidade.
O POVO - Das deficiências físicas mais comuns, quais são as que estão mais inseridas no trabalho?
Onilda Gomes - Se a gente fala em preconceito, elas são todas iguais. A sociedade, quando ver o deficiente, ver como um todo, não especifica. Se eu preciso de um telefonista, esse telefonista pode ser deficiente visual ou um cadeirante. Um trabalho que não precisa de uma verbalização, só precisa da parte motora, o surdo vai se inserir muito bem aí, porque o poder de concentração dele é muito maior. Os ruídos que estão a nossa volta não vão atrapalhar de maneira nenhum. Um deficiente visual tem uma capacidade interpretativa e uma rapidez de raciocínio maior do que uma pessoa que tem visão. Eles são muito rápidos. É como se você fizesse só o deslocamento daquela competência. O que ele não tem no olho, por exemplo, ele vai ter mais sensibilidade, mais concentração, melhor memória. Quando você começa a ver o mundo da deficiência, praticamente a deficiência não existe.
O POVO - Professora, existe capacitação suficiente no Ceará para preparar o deficiente físico para o mercado de trabalho no comércio?
Onilda Gomes - Tem. Você hoje vê um leque maior de oportunidades, principalmente, nesses programas de Governo Federal, de governo local. O deficiente tem essa carência educacional, precisa sustentar um grupo familiar, ele vai mais em busca, ele luta muito mais do que aquele que está lá com tudo nas mãos. (Andreh Jonathas).
(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=27194)
DISCURSO SOBRE O MÉTODO
O tema do albinismo realmente ganhou projeção no ano de 2009. Quinta-feira, recebi email dum estudante de direito baiano me pedindo entrevista a respeito dum trabalho que está elaborando pra disciplina de Introdução a Metodologia da Pesquisa.
O estudante me contou que o artigo cientifico se chamará POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PESSOAS COM ALBINISMO NA BAHIA.
Os leitores do blog já sabem que a Bahia é o estado onde a luta dos albinos encontra-se em estágio mais avançado no país. Desse modo, o futuro advogado tem uma mina de ouro nas mãos em termos de oportunidade de realizar excelente trabalho acadêmico. A julgar pelo excelente nível das perguntas enviadas, a oportunidade foi pega com unhas e dentes pelo menino!
Além de responder as perguntas, enviei o texto do Projeto de Lei 683/2009, do deputado Carlos Giannazi, que prevê distribuição gratuita de bloqueador solar e óculos aos albinos paulistas.
Na entrevista, aproveitei pra lançar farpinhas contra a OAB. Durante a intensa divulgação do blog, enviei emails pra literalmente todas as seções e subseções da entidade. Se vocês digitarem no Google verão que existem muitas! NENHUMA se dignou a responder.
A Constituição garante o direito a saúde a todos os cidadãos. Quando um cidadão albino desenvolve câncer de pele por falta de dinheiro pra comprar bloqueador solar, trata-se de desrespeito à Constituição. OAB, posicione-se!
(Abaixo, RzO. Rap nacional é tudo!!!!)
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
MINI-ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
Rede Saci29/10/2009
Descobri que para ler o mundo não é preciso ver
Eliane Brum
Às 15h46min de quarta-feira recebi um e-mail que não era um e-mail, mas uma passagem para uma dimensão desconhecida. Pelo menos para mim. Leniro Alves contava que tinha me ouvido em uma entrevista na rádio CBN e, desde então, começara a ler minhas reportagens. Gostava porque lhe parecia que eu passava "muita sinceridade naquilo que escrevia". Fiquei toda contente, como sempre fico quando alguém diz que minha escrita ecoa em sua vida. Agradeci. Leniro contou então que leu um jornal pela primeira vez aos 40 anos. Que hoje, aos 50 e poucos, só lamenta não ter podido se deliciar com as entrevistas do Pasquim quando tinha 20 e tantos. Agora, ainda que os jornais e revistas não facilitem muito, ele lê de tudo - e também essa coluna. Leniro é cego. Ele lê graças a um programa de computador, com sintetizador de voz, criado no Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro por um Professor, assim com maiúscula, chamado Antonio Borges. Ao encontrar um aluno cego, Marcelo Pimentel, na sua sala da disciplina de computação gráfica, Antonio descobriu que precisava inventar algo que tornasse possível aos deficientes visuais ter acesso ao computador e à internet. Isso era início dos anos 90 e, naquele momento, as opções existentes eram bastante precárias. Antonio criou um programa chamado Dosvox, que permite aos cegos acessar a internet, ler e escrever, mandar e receber e-mails, participar de chats e trocar ideias como qualquer um que pode ver. Essa história está bem contada no seguinte endereço: http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/historico.htm.
Vale muito a pena dar uma passada por lá.
Até então, cegos como Leniro viviam num universo restrito. Muito pouco era convertido ao braille. E, se um cego escrevesse em braille, seria lido apenas entre cegos.
Também havia as fitas cassetes, com a gravação de livros lidos em voz alta. Mas era sempre a leitura de um outro. E continuavam sendo poucos os livros disponíveis em fitas. Jornais e revistas, em geral só podiam ser alcançados se alguém se oferecesse para ler em voz alta. A internet era inacessível. E o mundo, muito pequeno.
E pouco permeável. Eu nunca tinha parado para enxergar o mundo de Leniro. Ali, a cega era eu.
Essa coluna é o começo de minha aventura pelo mundo dos que veem diferente. Começamos a conversar por e-mail. Fiz uma pergunta atrás da outra. Fazia tempo que não me sentia tão criança ao olhar para uma realidade nova. De novo, eu estava na fase dos porquês. Só faltou perguntar de onde vinham os bebês... Acho até que importunei o Leniro com minhas perguntas seriadas.
Como é o teclado? O que você sente? É uma voz que fala com você quando eu escrevo? Leniro teve muita paciência comigo: "Eliane, minha relação com a palavra escrita é a da busca da própria intimidade. Como é bom a gente se encontrar num Machado de Assis... Não deixe de vivenciar um pouco desse mundo, que é muito mais rico do que pode parecer inicialmente. Ele é bem mais engraçado do que dramático, entende? Bem mais positivo do que a gente em princípio pensa que é. O importante não é nem a reportagem, mas o que se pode apreender do ponto de vista humano".
Muitos anos atrás, eu ainda trabalhava no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, quando me despacharam para cobrir um eclipse do sol. Eu era uma das muitas repórteres que se espalharam pela cidade para trazer histórias do eclipse. Quando você trabalha em um jornal diário, às vezes precisa se desdobrar muito para trazer uma boa história. O que vou contar?, pensava eu, empunhando uma radiografia para proteger os olhos enquanto caminhava pelas ruas do centro da capital gaúcha.
Oquei, a lua vai engolir o sol por um minuto, as pessoas vão fazer ahhhhhhhhh, e, como elas, eu vou achar lindo. Mas qual é a história? Então eu vi uma cega. Toquei na mão dela e pedi: "Deixa eu ficar com você na hora do eclipse?". Ela deixou. Foi tudo muito rápido. Ela nunca tinha visto o sol, nunca tinha visto a lua, nunca tinha visto as estrelas ou o céu azul. Ela nunca tinha visto a si mesma.
De mãos dadas com ela, descobri que ela enxergava tudo isso, só que de outro modo. Quando a lua cobriu totalmente o sol, ela disse: "Estou sentindo um frio diferente".
Era isso. Ela via o eclipse. E via de um jeito que eu jamais poderia. O tempo passou e eu esqueci dessa história. Ao conhecer Leniro, essa memória voltou. Assim como a de outra reportagem em que passei 24 horas na Rua da Praia, a mais mítica de Porto Alegre. No fim da tarde, vi dois cegos conversando na esquina com suas bengalas. Parei ao lado, me identifiquei e fiquei por ali.
Depois de algum tempo, acho que me esqueceram. Continuei ouvindo o que falavam. A conversa não seria surpreendente se não fossem cegos. Mas eram cegos. (O que será que eu imaginava? Que estivessem discutindo a crítica da razão pura de Kant, apenas por que eram cegos e não tinham nada de melhor para conversar?)
Pois então. Eles só falavam de mulher! A certa altura, não me contive e perguntei: "Mas como vocês enxergam essa mulherada toda?". Eles me explicaram. E a explicação era muito boa, mas esqueci. Faz bem mais de uma década.
Agora, finalmente, graças à aparição de Leniro na minha vida, percebi que olhar para a deficiência apenas como a falta de algo, de um sentido, não é toda a verdade.
Não só não é toda a verdade, como é um modo pobre de enxergar. Dentro de mim, surgiu algo novo: o reconhecimento de um mundo diverso, com possibilidades diversas.
Como a de ver um eclipse como "um frio diferente". Não é curioso que tenha sido um cego a ampliar o meu olhar? Foi isso que Leniro tentou me dizer ao afirmar que é um mundo rico. Ele passou o final de semana no encontro anual do Dosvox, em Fortaleza. Nele, os usuários discutem o programa e ele sai de lá aprimorado.
Para um cego, desbravar a internet se assemelha a uma daquelas viagens dos grandes navegadores do passado. Os sites pouco se preocupam em ser acessíveis para quem não pode ver e há monstros marinhos escondidos logo ali. Para os cegos, uma mudança de layout é uma tempestade daquelas capazes de virar o barco.
Pesquisando na internet sobre o tema, encontrei a página pessoal da educadora cega Elisabet Dias de Sá. Em um dos textos, assim ela explica a epopéia: "Guardadas as devidas proporções, navegar na web é como aventurar-se pelas ruas e avenidas da cidade guiada por uma bengala, exposta ao perigo e a toda sorte de riscos decorrentes dos obstáculos, suspensos ou ao rés do chão, espalhados pelas vias públicas". Quem quiser ler mais, o endereço é: http://www.bancodeescola.com.
Em minha própria incursão por esse novo mundo, conheci nos últimos dias uma cega que compra livros, escaneia, corrige e envia para o grupo de amigo, para que todos possam alcançar a literatura pelo computador. Nem consegui esperar os e-mails. Tive de ligar para ela. "Quantos anos você tem?", perguntou-me ela.
"Quarenta e três", disse eu. "Pela voz, achei que você era mais nova", disse ela. "É essa maldita voz de criança que eu tenho", disse eu. "Não, é suave. Agora, quando eu ler seus textos, vou lembrar da sua voz", disse ela, generosa.
Conhecemo-nos pelas nossas vozes, numa ponte telefônica São Paulo-Rio de Janeiro. Ela explicou que, com esse programa, o Dosvox, cada um pode ler no seu ritmo. Mais lento, mais devagar. Pode parar, voltar, avançar. As letras são transformadas em voz. Há até um pequeno número de vozes, masculinas e femininas, para escolher. O computador é normal, os cegos conseguem usar o teclado porque fazem curso de datilografia. E o programa permite que leiam aquilo que escrevem. Podem até ler letra a letra, se quiserem. Tipo: escrevem "a" e o computador diz "a". Como ela coloca em volume baixo, essa voz repetindo as letras não incomoda. Assim, ela pode corrigir eventuais erros. Os cegos leem e escrevem pela voz, acessada pelo teclado.
Ela compra livros, passa um scanner que transforma cada página de papel em página digital e aí, com o programa, corrige eventuais erros e envia para o grupo de amigos.
Cada livro exige pelo menos uma semana para se tornar "um trabalho bem feito", explica. Só tem disponíveis as horas depois do expediente no Tribunal de Justiça do Rio, onde é funcionária concursada. Ela queria muito que os editores concordassem em vender os livros digitalizados, já que todas as editoras têm as obras guardadas em um arquivo do computador. Antes de virar papel, os livros são digitais.
Assim, ninguém precisaria depender da sorte de ter uma amiga bacana como ela para ler não só os últimos lançamentos, mas também toda a bibliografia que por séculos ficou exilada do mundo dos cegos.
Cega de nascença, ela nunca viu. "Não enxergo escuro ou claro. É um vazio", explica. Essa é a experiência dela. Não existem dois cegos com a mesma vivência do mundo.
Cada um encontra o seu modo de lidar com uma vida sem imagens. E como são seus sonhos?, insisti. "São sons, são sentimentos", ela diz. Senti-me cega no mundo dela.
Como é um sonho sem imagens? Ou, pelo menos, sem as imagens como eu as compreendo?
Conversamos sobre O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupery. Foi ele quem disse: "Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos". Ela adora O Pequeno Príncipe, eu também. E nenhuma de nós foi miss. Percebi, porém, que o meu Pequeno Príncipe é como o da maioria. Quando alguém pronuncia "Pequeno Príncipe", aciona uma tecla do meu cérebro que me devolve aquela imagem clássica do menino loirinho, diáfano, com seu manto verde. Mas esta é a imagem do ilustrador, não é a minha, nem a sua. Mesmo que eu quisesse, não conseguiria me livrar dessa ideia. O Pequeno Príncipe de minha nova amiga é só dela.
Como você imagina o Pequeno Príncipe?, perguntei. "Me vem aquela passagem de que somos responsáveis por quem cativamos". Para ela vem um sentimento, algo que ecoa nela. O pôr-do-sol vermelho descrito nos romances é também algo só dela, assim como o eclipse foi "um frio diferente" para a cega com quem fiquei de mãos dadas por um minuto compartilhado das nossas vidas, em que conectamos a diferença de nossos mundos.
Acho que há vários modos de ser cego. Aqueles com quem converso nessa coluna têm uma deficiência visual - orgânica, concreta. Mas criaram outras maneiras de se conectar ao mundo, outras formas de enxergar. O mais triste é quando nosso sistema visual funciona perfeitamente, mas só enxergamos o óbvio, o que nos foi dado para ver, o que estamos condicionados a ver. Quando acordamos, a cada manhã, e as cenas da nossa vida se repetem como se assistíssemos sempre ao mesmo filme.
Às vezes, choramos diante da tela não por emoção, mas pela falta dela. O filme é chato, mas sabemos o que vai acontecer em cada cena. É chato, mas é seguro. Em nome da segurança, abrimos mão de experimentar novos enredos. Tememos nos arriscar à possibilidade do diferente. Temos tanto medo que fechamos os olhos ao espanto do mundo.
Acho que ser cego é não ver o mundo do outro. Estar fechado ao que é diferente de nós. Isso vale para qualquer outro, para qualquer mundo. Nem sei dizer o quanto meu universo se ampliou ao ser vista por Leniro. A vida é sempre surpreendente quando não temos medo dela: foi preciso que os cegos me vissem para que eu os enxergasse.
E, depois deles, tornei-me menos cega. Para quem quiser iniciar seu próprio ensaio sobre a cegueira, sugiro começar por um texto de Leniro. Sim, porque Leniro não apenas lê no computador - ele também escreve crônicas e poesias. E escreve com muito humor. Leniro não só lê e escreve, como consegue rir da sua impossibilidade mecânica de ver com os olhos. E ser capaz de rir de si mesmo é sempre uma grande virtude. Nesse texto ele conta de sua iniciação na internet - e de seu primeiro encontro literalmente às cegas. Imperdível. Fiquei me coçando de vontade de contar essa história aqui na coluna, mas eu jamais conseguiria escrever com tanta graça. Confira: http://www.bancodeescola.com/leniro.htm.
(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=27185)
(Abaixo, Blind, dos nova-iorquinos Hercules & Love Affair.)
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
LA VENTANA
Voltei a ver filmes “sérios”, pelo menos por algum tempo. Pelo menos até começar a ver a terceira temporada de Dynasty...
Ontem, vi La Ventana (2008), produção argentina dirigida por Carlos Sorin. Sorin é o mesmo diretor de meus amados El Perro (2004) e Histórias Mínimas (2002). Adoro o modo como o argentino trabalhou com não-atores pra contar histórias tocantes e simples, longe do circuito Buenos Aires.
Quando fiquei sabendo sobre La Ventana fiquei seco pra assistir. A imprensa argentina, de modo geral, caiu de pau; pelo menos os críticos dos jornais maiores. Mas, eles vivem detonando o cine deles, então nem dei bola. Diziam que o filme é lento demais, que nada acontece e que é feito apenas prumas 200 pessoas freqüentadoras de festivais de cine.
Eles têm e não têm razão. O filme é lento e talvez agrade mais a público de festival, o que quer que seja isso; eu não sou público de festival, mas me agradou bastante.
Quanto a não acontecer nada, depende do que o analista chama de “acontecer”. Se forem reviravoltas nos moldes das narrativas dramáticas, não acontece mesmo. O filme se passa num dia da vida do octogenário Antonio.
Ele desperta pela manhã de um maravilhoso sonho com uma garota de quem não se lembrava há 80 anos. Depois disso, vemos diversas atividades do dia a dia: o ancião conversando com as mucamas, elas conversando entre si, o afinador de piano trabalhando. Antonio aguarda a chegada de seu filho, pianista mundialmente famoso, daí a “desculpa” pra afinar o piano, metáfora do arrumar a casa na mente de Antonio.
As cenas do dia de Antonio nos mostram a perda da liberdade de escolha imposta pela idade e por recente incidente cardíaco. São os outros quem decidem o que Antonio pode ou não fazer, onde pode ou não pode ir. A janela do título, refere-se à enorme janela de seu quarto, de onde vê a vastidão do pampa e por onde decide dar um passeio por conta própria, sem pedir permissão a ninguém.
Longos silêncios, moscas nas janelas, urina sobre esterco, a vastidão do pampa. A ação do melancólico e introspectivo La Ventana é sutil – inexiste pra certos olhares, como provaram os críticos argentinos -, mas está lá, acreditem. É aquela mesma ação que move o cotidiano, nesse caso, a relação de um velho com a impotência, as lembranças inesperadas, a memória, enfim.
Sorin continua muito bom diretor de atores não profissionais. As empregadas não são atrizes e os nomes das personagens são os mesmos dos de suas vidas reais. Fiquei curioso a respeito do octogenário Antonio e fui pesquisar na net. Não sou expert em cine argentino, mas já vi um bom punhado de filmes e não me lembrava dele. Descobri que também não é ator profissional, embora seja tradutor, roteirista e diretor de teatro famoso no Uruguai. Seu nome? Antonio Larreta. Antonio, o mesmo nome da personagem...
La Ventana é certamente menos “movimentado” do que os demais filmes de Sorin até porque é outro estilo de filme. Quem não curte narrativas lentas, apenas com ações rotineiras, silêncios e diálogos aparentemente simplórios, mantenha distância.
De minha parte, continuo mais devoto do que nunca de Carlos Sorin!
(Abaixo, trailer de la Ventana)
POEMA
Lu escreveu poema sobre a comunidade e gentilmente me enviou pra publicação. Obrigado, Lu.
OS ÍNDIOS MAXAKALI
Lu Dias BH (www.almacarioca.net)
O corpinho move nu, em chagas
ulcerado pelo sol escaldante,
ali no vai e vem de cabanas,
espalhadas à deriva, na taba
dos miseráveis índios Maxakali.
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Os moleques de tenra idade, já
com o sorriso apodrecido, e as
gengivas cuspindo sangue, não
têm a candura da infância, ou a
traquinice dos guris na puberdade.
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Os jovens homens da aldeia
movem como sonâmbulos,
carcomidos pela tuberculose e
sob a voracidade do vício/bacilo:
álcool e doença que os consomem.
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As jovens/velhas índias mirradas
com os bebezinhos às costas,
já perderam a beleza morena,
de nossas Iracemas cantadas,
tanto em versos quanto em prosa.
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Os anciãos nas rotas esteiras,
espalhadas por fétidas choças,
velados por cãezinhos sarnentos,
desamparados aguardam a hora,
em que irão adubar a terra morta.
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A contornar o horizonte da tribo
belas montanhas serpenteiam,
azuladas, faceiras e risonhas;
não sei se brincam entre si
ou apenas debocham da sina
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dos ÍNDIOS MAXAKALI.
(Em homenagem aos muitos fãs da Legião Urbana, aqui vai Índios.)
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
DICAS PRA PROFESSORES
Sempre é possível ajudar nossas crianças, menos favorecidas pela vida, que apresentam dificuldades de audição ou de visão, sentidos tão importantes para que possamos usufruir em plenitude dos bens que a vida nos deu. Portanto, damos abaixo sugestões da UNESCO, que poderão ser úteis aos professores:
- Descubram, através da criança, qual é o melhor lugar para que ela enxergue a lousa quando estiver sentada bem à frente da classe.
- A luz não deve refletir sobre a lousa e vocês devem se certificar de que o giz apareça com clareza na lousa.
- Se os olhos da criança forem sensíveis à luz, coloquem-na longe da janela. Façam com que use um boné com aba para deixar os olhos na sombra ou dê um pedaço de papelão para usar como sombra (ou tela) quando estiver lendo ou escrevendo.
- Assegurem-se de que a criança sabe como se movimentar pela escola e sala de aula. Os professores e alunos videntes devem conduzi-la, caminhando na frente com o aluno com deficiência visual levementre atrás e para um lado, segurando o cotovelo do guia. Avise-o sobre obstáculos, tais como degraus e portas estreitas.
Estratégias de ensino - Utilizem escrita grande sobre a lousa ou auxílios visuais. O uso de giz colorido é recomendado. Deixem que as crianças se aproximem da lousa ou dos auxiliares de ensino a fim de que possam enxergar mais facilmente.
- Leiam em voz alta o que está escrito no quadro negro.
- Preparem recursos complementares de ensino que as crianças possam ler mais facilmente, como acontece com materiais com letras de tamanho maior. Outras crianças na classe poderiam ajudar a preparar estes recursos. É possível fazer cópias xerox, aumentando o tamanho ou usando fontes maiores em impressões de computador. Isto também pode ajudar as crianças que têm dificuldades de ler.
- As crianças podem ter dificuldade de enxergar linhas no papel para escrever. Pode-se dar a elas papéis com linhas mais grossas riscadas sobre eles.
- Algumas crianças se beneficiarão utilizando lentes de aumento. Existem dois tipos disponíveis. Um que aumenta a página inteira ou aumentadores de linhas que são uma ajuda útil para leitura.
- Encorajem as crianças a usar um ponteiro ou o dedo quando estiverem lendo. Cubram o resto da página com papel exceto o parágrafo que a criança estiver lendo. Use um suporte para livros para evitar reflexos.
- As crianças que têm baixa visão precisam aprender através do toque bem como através de escutar. Elas devem ter oportunidade de manipular objetos.
- Coloquem o aluno(a) com dificuldade de ver junto com um colega de classe vidente que possa ajudá-lo(a) a organizar seu trabalho. O parceiro pode ajudar a encontrar a página certa; repetindo suas instruções e assim por diante.
- Usem elogio verbal ou toque para dar encorajamento à criança.
- Usem os nomes dos alunos durante discussões de classe a fim de que a criança saiba quem está falando.
- Os computadores oferecem apoio específico a alunos com limitações visuais, e cegueira. Os alunos podem imprimir uma cópia grande de impressão, ler o texto na tela, usando software de ampliação de tela, escutar o texto num sintetizador de voz ou convetê-lo ao Braille.
- Torne um ábaco (instrumento de calcular) disponível para a criança em aulas de matemática.
As lições podem ser gravadas usando um gravador para tocar de novo em casa ou como revisão. Os alunos que experimentam dificuldades em escrever também podem fornecer informações gravadas em audio. Versões gravadas de livros algumas vezes estão disponíveis em bibliotecas.
Vocês tentaram algumas destas adaptações ou estratégias em seu ensino?
Quais as que foram bem sucedidas?
(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=27166)
(Abaixo, vídeo do camaleão David Bowie e sua Sound and Vision. Nossa, como o teclado "gelado" desse álbum influenciou a cold wave inglesa...)
HAMLET FINLANDÊS
Tenho andado tão ocupado ou vendo coisas que não merecem comentário que acho mesmo ser esta a primeira e única postagem sobre cine deste mês, não? Desde ontem pela manhã, meu ouvido esquerdo está entupido, portanto, ontem à noite, resolvi ver um filme finlandês que tinha separado já há vários meses. Legendado em espanhol, não precisava me esforçar pra entender o que diziam porque não manjo nada de finlandês. Como as legendas são em espanhol, daria pra treinar leitura pelo menos.
Hamlet Liikemaailmassa (1987), do diretor Aki Kaurismäki, transporta o trágico Hamlet shakespeariano pro universo da comédia de humor-negro ambientada na contemporaneidade corporativa da Finlândia. Boa parte da trama da peça original é aproveitada, embora algumas coisas passem a ter efeito diverso quando situadas nesse novo contexto narrativo. Pra quem não lembra, Hamlet, príncipe da Dinamarca, tem que vingar o assassinato do pai e boa parte da peça consiste dos famosos solilóquios como o “ser ou não ser” e de Hamlet procurando a verdade dos fatos. O Hamlet elizabetano tem um problema duplo nas mãos: seu pai era o rei da Dinamarca e sua morte colocara o reino em perigoso estado de caos. Quer dizer, o jovem príncipe tem um problema pessoal, mas também um social nas mãos. Quando o rei da Noruega invade a Dinamarca ao final da peça, restabelece-se à ordem no reino. A passagem da fragmentação medieval pra coesão administrativa do Estado Moderno é o que mais me interessa em quase todas as tragédias do Bardo.
A versão cinematográfica em belíssimo branco e preto do diretor finlandês nos oferece um Hamlet egoísta, egocêntrico, desinteressado em especular sobre a vida, interessado basicamente nos prazeres da carne (em vários sentidos). Por isso, não há nenhum dos famosos solilóquios ou conflito interno. O Hamlet corporativo é um bastardo que literalmente auxilia na morte do pai. Desprezível, como de resto, quase todas as demais personagens.
A peça de Shakespeare levou Harold Bloom a exageradamente afirmar que o homem moderno, psicologizado e dividido, foi inventado em Hamlet. O tom pastichento do filme finlandês revela a rasura do homem pós-moderno, à mercê de gratificações instantâneas e inexoravelmente narcisista.
Não é mau filme, pelo contrário, mostra quão perturbadoramente rasa e sem sentido é a existência pós-moderna, corporativista e midiática. A corporação da família de Hamlet pretende inundar o planeta com seus patinhos de borracha porque “aqueles japoneses nanicos” lhes estavam passando a perna no negócio madeireiro, que de resto, era de plástico. Simulacro sobre simulacro.
(Falando em Finlândia, deu vontade de ouvir Tabula Rasa, grupo de rock progressivo de lá. A canção abaixo, está no álbum homônimo dos rapazes, lançado em 1975. )
NEM OS BOXERS ALBINOS SE SALVAM!
Os Boxers brancos não são permitidos desde 1925, mas até hoje nascem mas ninhadas e não recebem pedigree. Há quem diga que são albinos e livros estrangeiros da raça alegam que, mesmo não sendo albinos, podem produzir filhotes com tal anomalia em duas ou três geraçõ, sendo esse o motivo da proibição. Tudo indica que isso não é verdadeiro, seja pelo que se sabe pela teoria genética de cor dos cães, como por experiências práticas. Há, na realidade, uma certa confusão que leva muita gente a achar que todo animal branco é albino, já que tudo albino é branco. O albinismo é a ausência total de pigmentos, traz também pele e mucosas cor-de-rosa, e olhos vermelhos, segundo os ratos de laboratório. Segundo Clarence Little, autor do livro The Inheritance of Coat Color on Dogs, não há nenhum indício que olhos azuis caracterizem o albinismo. O Boxer branco apesar da pele rosa, tem, na grande maioria das vezes, todas as mucosas pigmentadas e olhos escuros. Little vai mais longe, além de afirmar que o fenómeno do albinismo é raríssimo nos cães, no caso do Boxer ele específica o gene que causa o branco, chamando-o de "sw". Já o gene no albinismo é o "ca". Os dois são completamente independentes. Portanto, não se tem por que achar que cruzando várias gerações de brancos, ou seja exemplares que podem conter o fator "sw", se chegará num cão albino, que necessariamente porta o factor "ca". Beatriz Goldschmitd, geneticista animal da Universidade Federal Fluminense, reafirma que o albinismo é raro em cães e qualquer raça está igualmente sujeita a ele, mesmo que de forma eventual. "O Boxer branco não é mais predisposto ao problema que os outros cães", completa. Pela experiência prática, Hilda Drumond cinóloga que já leccionou genética de cor de animais, atesta que já fez mais de 10 cruzamentos entre brancos e misturou pelo menos 3 gerações consecutivas, sem que nunca aparecesse um albino. Mas, há um caso ou outro que pessoas contam que já viram Boxers de olhos vermelhos. E daí, das duas uma. Ou o exemplar era mesmo albino, pois como já dito qualquer raça de cão ou espécie de animal pode ter eventualmente sê-lo, o que nem de longe significa que seja uma característica do Boxer branco. Ou quem viu, se confundiu, pois a terceira pálpebra às vezes é rosada e pode dar falsa impressão de que a íris é de cor vermelha. Ainda assim, mesmo descartando a ideia do albinismo, alguns podem dizer que por ser "sw" um gene recessivo, poderia causar sensibilidade ao sol e doenças de pele. Mas, nem isso é observado em Boxers brancos. Hilda, que já teve diversos, nunca teve qualquer problema. Regina, que tem uma fêmea branca, comenta que ela adora ficar exposta ao sol e também nunca manifestou nada de errado na pele. Vale dizer que o branco existe na raça pois ela nasceu – no final do século passado – da mistura do pequeno Bullenbeisser, antigo cão de caça que imobilizava a presa, com um Buldogue totalmente branco, cujo nome era Tom. Daí por diante a raça passou a ser oficialmente chamada de "Boxer" e inúmeros cães brancos nasceram e foram registados, inclusive a primeira grande reprodutora, chamada Meta, que tinha apenas uma mancha tigrada na cabeça e uma pinta ao lado esquerdo do corpo. O resto era branco como neve. Seria então este "outro" motivo para proibi-lo, ou seja uma tentativa de tirar a influência do Buldogue? Não, isso não é, em momento algum, alegado na bibliografia da raça.
REVISTA CÃES & CIA
(Encontrado em http://oboxerbranco.blogspot.com/2009/10/discriminacao-do-boxer-branco.html)
(Vamos relembrar a canção Pequenino Cão, sucesso nos anos 80?)
terça-feira, 27 de outubro de 2009
EXCLUÍDOS
El 95% de los niños con discapacidad no va a la escuela
El 95% de los niños del mundo que padece algún tipo de discapacidad no va a la escuela. Así lo indicó un documento realizado por Inclusion International, entidad que nuclea más de doscientas organizaciones de 115 países diferentes, situados en los cinco continentes.
Este documento, realizado por Inclusion International, revela datos tales como que de los 77 millones de niños en el mundo que no están en la escuela, un tercio de ellos tiene algún tipo de discapacidad.
En este sentido, el director de Educación Inclusiva de Canadá, Gordon L.Poter, señaló que en la actualidad "se habla más" de las necesidades educativas de los discapacitados pero los miembros de este colectivo "continúan estando segregados y recibiendo mucho menos de lo esperado".
En este sentido, manifestó que en los países desarrollados también sigue habiendo deficiencias. "No es una cuestión de dinero, es una cuestión de derechos, de liderazgo y de políticos". Añadió que es preciso que "sean tratados como iguales, que salgan de colegios especiales".
Inclusion International reúne en su seno la presencia de más de doscientas organizaciones de 115 países diferentes, situados en los cinco continentes, y es una federación mundial basada en la búsqueda del cumplimiento de los derechos de las personas con discapacidad intelectual.
(Encontrado em http://www.elcisne.org/ampliada.php?id=1228)
ALBINOS DE ALAGOAS
Excelente a iniciativa dos professores. Estão de parabéns, trabalhando dentro das necessidades emergenciais que se apresentam.
Entretanto, não seria o caso de se pensar propor em Alagoas Projeto de Lei que garanta bloqueador solar grátis a todos os albinos para sempre, sem necessidade de renovações? O albinismo dessa população, como de resto, todo albinismo, é perene, não sazonal. Onde estão os políticos de Alagoas? E a mídia que não apresenta propostas de solução ao invés de apenas casos lacrimosos? Também cabe aos leitores alagoanos deste blog enviar emails a políticos e órgãos de mídia daí, como tenho feito no Brasil todo.
19.10.2009 17h40
Quilombolas albinos recebem assistência médica
Iniciativa será coordenada pela gerência do núcleo Afro quilombola
Agência Alagoas
A comunidade quilombola Filus, em Santana do Mundaú, recebeu nesta segunda-feira (19) da gerência do núcleo Afro quilombola, da Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, uma visita de médicos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
A missão médica vai planejar ações para a comunidade, que concentra um grande número de albinos. A visita conta também com a parceria da prefeitura municipal.
Fazem parte da equipe, o diretor do departamento de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário da Ufal, médico Fernando Gomes, e a médica Lydia Masako, da Universidade Federal de São Paulo.
A iniciativa é uma continuidade do projeto Pró Comunidade Quilombo Filus. Foi feita uma avaliação mais profunda acerca da população quilombola albina, caso único na história da medicina. A equipe vai elaborar uma série de projetos e propostas de implementação de políticas públicas para a comunidade com bases nos dados colhidos nesta segunda-feira.
De acordo com a gerente Elis Lopes, o projeto foi iniciado pela Superintendência de Política e de Promoção dos Direitos Humanos, através da gerência Afro Quilombola, no início de 2008, em parceria com a Ufal. “O professor Jorge Luiz Riscado apresentou a comunidade albina ao médico Fernando Gomes. O acompanhamento médico, que deveria ter começado em maio deste ano, será feito no Hospital Universitário. As chuvas e a dificuldade de acessibilidade à comunidade prejudicaram o início dos trabalhos. Por isso, todos os tratamentos,ações e projetos devem ser implementados no período do verão”, informou.
Ainda segundo Elis Lopes, a Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos já encaminhou solicitação a Secretaria de Estado da Saúde pedindo a disponibilidade continuada de bloqueador solar, durante o período de, no mínimo um ano, com renovações.
“Informaram-nos da Secretaria da Saúde que o processo já foi encaminhado à Procuradoria Geral do Estado (PGE) para avaliação. É importante a agilização dos bloqueadores solar pois a comunidade, principalmente os albinos, têm predisposição ao câncer de pele, caso já existente no quilombo, inclusive com óbito”, alertou a gerente.
“Nosso papel é de articular a implementação de políticas de promoção da igualdade racial, políticas afirmativas que buscam reparar uma historia de exclusão social e racismo que perdura desde o início da colonização do Brasil”, concluiu Elis Lopes.
(Encontrado em http://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=187904 )
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
MORDOMO ROBÔ
MIOPIA VIRTUAL
http://miopiavirtual.blogspot.com/
Nele, Albino Silva reúne histórias ficcionais de sua lavra, além de fatos pessoais, como fotos de seu noivado (com uma albina).
Bom ver a albinaiada produzindo coisas, se mostrando.
Ele me contou que costumavam chamá-lo de Ovelha, por causa do cantor. Por isso, de presente pro Albino Silva, um vídeo do Ovelha.
domingo, 25 de outubro de 2009
SESSÃO DE FOTOS
Os leitores mais antigos já leram várias vezes sobre o trabalho que Lacerda vem desenvolvendo desde o primeiro semestre. Não muitas semanas após ter iniciado o blog, ele me contatou contando que tencionava fotografar pessoas com albinismo pra montar um projeto pessoal, que, no futuro, poderia resultar em exposição fotográfica. Achei a idéia excelente porque a beleza albina deve realmente ser valorizada e tal projeto me soou como grande oportunidade pros albinos envolvidos – mas não apenas eles – aumentarem sua auto-estima. Desde então, estamos em contato. O site do estúdio dele, inclusive, faz parte da lista de Territórios Amigos, à direita de sua tela, caro leitor.
Apesar de tantos emails trocados, até então não havia surgido oportunidade de eu participar do projeto. Sequer conhecia Gustavo pessoalmente. Eu já o apresentara online prum grande amigo, que, juntamente com seus filhos, jantou com Lacerda, mas eu mesmo ainda não o vira pessoalmente.
A audiência na ALESP caiu como luva preu poder participar duma sessão. Precisamente pro sábado, Gustavo havia marcado nova sessão com alguns outros albinos. Maravilha, dessa vez eu poderia ir! Acariciaria 2 coelhos com uma mão só!
Sábado de manhã, por volta das 10:00, o prof. Sebe e eu chegamos ao estúdio. O professor adorara a experiência com os albinos na ALESP e decidira ficar em SP mais um pouco pra comparecer à sessão de fotos, conversar com as pessoas, ver como ocorria a interação entre os albinos, afinal, haveria pelo menos uma meia dúzia de albinos juntos e isso é raríssimo de acontecer, especialmente porque não temos ainda movimento organizado por aqui. Além disso, Sebe representa a universidade e isso pra nós é importante. Somos invisíveis também na academia, por isso, se conseguirmos despertar a atenção de pesquisadores, nossas experiências e reivindicações ganharão novas vias de divulgação. Quando ele contou que iria comigo, adorei a oportunidade de passarmos mais algumas horas juntos e também tinha certeza de que os albinos o “fisgariam” de vez. Afinal, como resistir à nossa simpatia (E MODÉSTIA!)? Acho que ele não resistiu mesmo (risadinha de “albino perverso”...).
Miguel Naufel, o simpático mocoquense, já estava lá pra sessão. Aos poucos, foram chegando mais albinos e até uma equipe de TV (ainda não poso dar detalhes, mas vem coisa por aí, aguardem!). No total, 8 albinos seriam fotografados: um casal de irmãos, um casal de esposos, uma garotinha de 2 anos, o rapper Gaspar, Miguel e eu.
Não sei se Gustavo realmente faz idéia do bem que este projeto está fazendo pros albinos envolvidos. O benefício começa pelo fato de propiciar oportunidade pra que os albinos se encontrem. Temos muita necessidade de compartilhar nossas experiências, de trocar informações sobre estratégias de sobrevivência, de contar histórias que serão plenamente entendidas pelo interlocutor. Enfim, trata-se de necessidade grupal de encontrar uma identidade comum, creio. Um dos partícipes me mandou email dizendo que saiu da sessão sentindo-se mais forte, mais conectado no mundo.
Também é marcante o fato de servirmos como modelos em estúdio profissional, clicados por alguém acostumado a fotos com moda e publicidade, mundos que valorizam outro tipo de beleza. Acostumados a ter nossa aparência desvalorizada, foi ótimo ter sido maquiado e produzido pras fotos. Descobri os albinos muito vaidosos, por sinal. Ótimo isso! Se a gente não se gosta primeiro, difícil gostarem de nós. Parece clichê, mas aprendi isso na prática e garanto que funciona.
Eu, particularmente, amei bancar o modelo fotográfico! Gustavo fez uma luz que não afetou nossa fotofobia e deixa a gente bem confortável com suas indicações do que quer que façamos. Mas, deixa muito espaço pra criatividade. Marinheiro de primeira viagem, estava algo nervoso no início; aquela coisa de sentir os braços sobrando, sabe? Essa tensão com a câmara, todavia, interessa muito a Gustavo, acho que porque pode captar momentos e expressões mais espontâneas. Aos poucos, fui me soltando e as poses foram ficando mais fáceis. Sabe aquela coisa? Eu sempre chamo a atenção por ode passo, muita gente olha. Então, eu meio que assumi isso perante a câmera. Ah é, querem olhar? Então olhem só quanta pose! Deu pra entender?
Todo mundo experimentando roupas, dando entrevista, rindo, trocando idéias. Albinos e não-albinos numa boa, sem encarar um ao outro. Foi um dia delicioso ao qual quero agradecer ao Gustavo e aos demais albinos e não-albinos presentes.
sábado, 24 de outubro de 2009
HOMENAGEM AO ALBINO HERMETO
AUDITÓRIO IBIRAPUERA RECEBE HERMETO PASCOAL E HAMILTON DE HOLANDA QUINTETOEvento, intitulado Encontro com a Música Brasileira, é gratuito e acontece na platéia externa do Auditório Ibirapuera
Dia 25 de outubro, a partir das 18h30min, Hermeto Pascoal e Hamilton de Holanda dividem o palco para a platéia externa do Auditório Ibirapuera.
O evento, uma iniciativa da Fnac Brasil e patrocinado pela Redecard, será um espetáculo-homenagem que Hamilton de Holanda e Quinteto farão ao "Bruxo" Hermeto Pascoal, em presença dele e tocando o seu repertório, conjuntamente.
Além dos shows, haverá também a gravação de um documentário sobre o encontro. A filmagem começou por Arapiraca, cidade do Estado de Alagoas onde Hermeto nasceu, e vai até Paris, na França. Foi na cidade luz, quando passou uma temporada de um ano, que Hamilton agregou duas cordas, ao total são dez, ao seu bandolim, tornando-se o primeiro bandolim do mundo de dez cordas.
Dia: 25 de Outubro de 2009
Horários: Domingo, 18h30
Duração: 90 min (aproximadamente)
Ingressos: GRATUITO - Platéia Externa do Auditório
Gênero: MIB
Classificação Indicativa: Livre para todos os públicos
Programação: Homenagem a Hermeto Pascoal. Parceria: Fnac e Redecard GRATUITO. Platéia Externa do Auditório.
(Encontrado em http://www.auditorioibirapuera.com.br/detalhe_eventos.aspx?id=414 )
(Uma de minhas favoritas do Hermeto, a Sinfonia do Alto Ribeira.)
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
FOTOS NA ALESP
CONTO
Achei um conto com personagem albina no blog Midnight Shadow
http://ouivodaraposa.blogspot.com/
A autora, Roxy Foxy, explicita, em nota de rodapé, a intenção de conferir imagem de “normalidade” à pessoa com albinismo. Que bom, Roxy Foxy! Precisamos de mais representações culturais com essa mesma aspiração.
Alvorecer
Os passos que dava do quarto até o banheiro pareciam escorregar, como se patinasse pelo piso de tacos do apartamento. Parou em frente ao espelho, o grande espelho que colocara na parede para se obrigar a olhar para si mesmo, e encarou o fantasma que olhava de volta. Pálido, desbotado, com cara de doente por causa dos cinco dias que estava passando sem dormir direito, sorriu fracamente para o espelho e pegou o frasco de protetor solar na bancada da pia.
Derramou parte do conteúdo do frasco na palma da mão e começou a espalhá-lo pelo rosto, testa, nariz, queixo, bochechas, cada parte do seu rosto branco era coberto de loção, item imprescindível para sair de casa. Depois de espalhar protetor pelo corpo, passou a mão pelos cabelos se olhando novamente no espelho.
- Ah, foda-se!
Voltou ao quarto sem fazer barulho e abriu o guarda-roupas, pegando uma camiseta e uma bermuda antes de fuçar todo o interior atrás de um boné. Vestiu-se em silêncio e saiu do quarto na ponta dos pés, voltando ao banheiro para novamente se olhar no espelho e sair de casa para sua caminhada matinal.
O bom de caminhar bem cedo, pensava, era o fato de o sol estar fraco, ter acabado de amanhecer, além, é claro, da falta de pessoas para olhá-lo como se vissem um alien. Sempre se sentira incomodado com isso e a questão só se agravara na adolescência, período em que qualquer estudante considerado estranho ou diferente é sumariamente excluído dos grupinhos mais populares. Mas agora as coisas eram diferentes.
Trabalhava em um escritório de contabilidade onde conhecia a todos e ninguém mais se espantava com sua aparição.
Passo após passo, metro após metro, sua caminhada evoluía e pensava em quantas coisas tivera de passar para conseguir olhar para si mesmo hoje. Quanta insegurança, quanto medo de rejeição, quanto nervosismo... Passado, porra! Esquece isso, Álvaro! Idiotice pensar nisso agora. Tinha uma vida boa agora. Casa, trabalho, noiva. Coisas que toda pessoa normal quer para si. O que estava pensando? Ele era normal! Tinha pernas, braços, cabeça, um cérebro, nenhuma parte de seu corpo faltava, e ainda tinha a petulância de se achar anormal? Ingrato.
Passou pela padaria e encontrou seu Felipe, o proprietário, fazedor dos melhores pães que conhecia e que sempre fora extremamente simpático com ele. Foi com parte do café da manhã que ele chegou em casa, pondo as chaves em cima do criado-mudo e ouvindo o barulho do chuveiro sendo fechado. Lavínia vinha saindo do banho enrolada na toalha laranja florida e sorria de forma deliciosa. Sua pele morena de sol e suas curvas sinuosas pareciam flutuar pelo corredor sem tocar o chão.
- Bom dia, amor! - ela o envolveu com os braços e o beijou.
- Eu tô todo suado, querida...
- Não tem problema, eu tomo banho de novo. Dessa vez você me ajuda... - sussurrou maliciosamente, arrastando - para dentro do banheiro.
De repente, todas as suas dúvidas e frustrações pareciam sumir, como que diluídas e levadas pela água do chuveiro. Perfeitamente normal.
Nota: Infelizmente eu não tenho nenhum amigo albino pra colocar na foto do post. Então a foto ficou sendo de um personagem meio contraditório que é o Silas, de O Código DaVinci. Digo contraditório porque ele é retratado de forma negativa, um fato criticado pelos próprios albinos. Na minha opinião, o Silas não é vilão por ser albino nem por ser monge, e nem sequer é vilão, é apenas uma pessoa que faz o que acha certo por uma coisa em que acredita. Quanto ao fato de os albinos raramente serem retratados de forma positiva, bem, eu tô fazendo a minha parte.
(De presente pra Roxy Foxy, o Roxy Music e sua chiquérrima Same Old Scene.)
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
PROJETO DE LEI EM MATO GROSSO
Eu não vivo falando que a gente tem que botar a boca no trombone senão as pessoas não vão nunca saber dos problemas que enfrentamos??? Não há de ser coincidência que tal projeto tenha sido apresentado neste ano, quando o tema do albinismo explodiu na mídia e nós albinos começamos a fazer reivindicações. Os argumentos usados pelo deputado - corretíssimos - ecoam até mesmo na escolha dos termos, os comentários que tenho feito em tantas entrevistas e postagens aqui. Bom saber que mais gente bem intencionada fala a mesma língua.
Há pelo menos mais um estado onde há deputado interesssado em apresentar projeto semelhante. Quando tiver dados concretos, conto a vocês.
Já li a matéria sobre o projeto em 2 jornais de Mato Grosso.
CIDADES-MT * 21/10/2009 - 09:35:00
SES deverá fornecer protetor solar a albinos
Proposta é uma medida preventiva aos albinos que são mais propensos a desenvolver doenças de pele
O Governo do Estado deverá fornecer gratuitamente protetor e bloqueador solar às pessoas albinas. É o que prevê o projeto de lei apresentado nesta terça-feira (20) pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado José Riva (PP). Serão contemplados os albinos de baixa renda que comprovarem a necessidade do produto por meio de laudo médico do Sistema Único de Saúde (SUS). O laudo deverá especificar o modelo apropriado do protetor solar.
“A aprovação desse projeto possibilitará que esses cidadãos, atualmente excluídos da sociedade, passem a ter uma vida mais digna”, destaca o parlamentar. Para isso, será elaborado e publicado semestralmente um cadastro dos portadores de albinismo, já que não há estatísticas com relação ao número de albinos, até porque o censo do IBGE os classifica como brancos. “Desse modo, os albinos são invisíveis aos olhos do poder público”, questiona Riva.
Na justificativa do projeto, o presidente destaca a Bahia, onde é feita a distribuição gratuita de oito frascos de protetor solar ao ano por pessoa. A medida foi implantada pela prefeitura desde 2007. Por isso, Mato Grosso também precisa estabelecer políticas públicas de atenção a esses portadores, contemplando-os nas diversas fases da vida, desde o nascimento até a fase adulta, com ênfase para o atendimento nas áreas de Dermatologia e Oftalmologia.
“É preciso dar visibilidade à luta dos portadores de albinismo. Sensibilizar o poder público para os problemas enfrentados por eles. Acredito que a distribuição de protetores solar é o começo desse processo”, argumenta, ao ressaltar o alto custo do produto.
Por ser considerada uma pessoa portadora de necessidades especiais, o albino depende do filtro solar para a execução das atividades durante o dia. No entanto, o preço do produto dificulta o acesso das pessoas de baixa renda, que são obrigadas a passarem a maior parte do dia em casa, para evitar a exposição aos raios solares.
ALBINISMO - É uma hipopigmentação congênita – ausência parcial ou total do pigmento na pele, nos cabelos e nos olhos. Existem vários tipos de albinismo, entretanto a forma mais perigosa é a que determina a total ausência de pigmentação por todo o corpo, denominado albinismo óculo-cutâneo. Esta patologia, que decorre de um bloqueio incurável da síntese de melanina, ao afetar os olhos, sob a forma de nistagmo, redução da acuidade visual, estrabismo, fotofobia, perda da percepção de profundidade, causa deficiência visual de moderada a séria.A pele afetada tem grande propensão ao câncer de pele. O cotidiano do albino, portanto, é marcado pela intolerância à luz solar, ameaçado constantemente, pelos riscos da cegueira e do câncer de pele.
Autor: Assessoria
Fonte: O NORTÃO
(Encontrado em http://www.onortao.com.br/ler.asp?id=28406 e em http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?noticia=Albinos_poderao_ter_protetor_solar_gratuitamente&edt=34&id=58193)
(Abaixo, vídeo mostrando um pouco do Mato Grosso.)
ALBINO INCOERENTE NA REVISTA ÉPOCA
Outro dia fui entrevistado via telefone pelo Fausto Spósito, da revista Época SP. O resultado foi a excelente matéria abaixo. Obrigado ao Fausto pela bela reportagem e à Época pela oportunidade de divulgar a causa albina.
Deputado propõe distribuição de protetor solar a albinos em São Paulo
POR FAUSTO SPÓSITO
Um projeto de lei apresentado pelo deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) prevê a distribuição gratuita de protetor solar para pessoas albinas no Estado de São Paulo. A ideia, que surgiu após reivindicação do professor Roberto Biscaro, do Blog do Albino Incoerente, está em tramitação na Assembléia Legislativa, mas só deve entrar na pauta de votação em 2010.
Giannazi, que já foi diretor de escola pública, explicou que os albinos enfrentam sérios problemas para praticar atividades à luz do sol, como aulas de educação física. Para ele, o custo com a prevenção de doenças seria muito menor do que o valor do tratamento. “A grande maioria das quadras esportivas de escolas públicas não tem qualquer tipo de cobertura”, lembrou o deputado, que indicou que novas propostas podem surgir na audiência pública programada para o próximo dia 16. “Um dos objetivos é pressionar o poder público e incentivar a discussão do tema”, disse. Segundo Giannazi, o projeto de lei que prevê a distribuição de protetor solar veio de uma reivindicação do movimento de pessoas com albinismo liderado pelo professor Roberto Biscaro.
Um dos principais articuladores da causa, o professor diz que espera mais medidas de inclusão de albinos na sociedade. Ele, que criou o blog para discutir a questão, disse que o tema é praticamente invisível no debate político e acadêmico. “Nós não constamos nem no censo demográfico. Não existem dados sobre quantos albinos existem no Brasil”, contou indignado.
O professor explicou que, segundo pesquisas internacionais, o albinismo é muito mais comum entre a população afro-descendente. De acordo com ele, a média mundial gira em torno de um albino para cada 17 mil pessoas e, no Brasil, deve ser bem maior. Biscaro ainda explicou que a grande maioria dos albinos desenvolve sérios problemas de visão e também precisa de atendimento oftalmológico especializado.
SAIBA MAIS
O professor disse aplicar protetor solar de três em três horas e utiliza óculos de sol para diferentes situações de luminosidade. Para ele, a maioria dos albinos não consegue arcar com o custo desta prevenção. Além disso, ainda defendeu outras medidas de inclusão de pessoas com albinismo. “A maioria não completa nem o ensino médio. Como vai conseguir entrar no mercado de trabalho?”, questionou.
Roberto Biscaro é morador de Penápolis, no interior do Estado de São Paulo. Único albino da cidade de quase 60 mil habitantes, o professor também defende uma representação positiva do albinismo na mídia. Ele, que superou tantas dificuldades e preconceitos, não perde o bom-humor para falar da questão: “Os albinos são mostrados como vilões em vários filmes. Lembro de um, que tinha um albino atirador de elite. Sorte das vítimas, pois a maioria das pessoas com albinismo não enxerga muito bem. Isso tem de mudar. Já imaginou uma novela da Gloria Perez com um albino simpático?”
(Encontrado em http://revistaepocasp.globo.com/Revista/Epoca/SP/0,,EMI97003-15367,00.html)
(Pra homenagear o Fausto, Joe Esposito, cantando Lady, Lady, Lady. Um dos temas do filme Flashdance. Nossa, isso deve ser de 1983; não admira o jovem Fausto não conhecer o Joe quando o mencionei ao fone...)
terça-feira, 20 de outubro de 2009
A VOZ DA CIDADE
Causa albina
Existem diversos grupos ideológicos no mundo que tentam defender sua individualidade, seus objetivos e opiniões. É o caso dos negros, das feministas, dos portadores de deficiência, enfim, o que não falta são minorias lutando por uma causa. A partir disso, o professor de inglês e literatura da Fundação Educacional de Penápolis, em São Paulo, Roberto Rillo Bíscaro, criou um blog com a intenção de difundir a causa albina pelo mundo. De acordo com ele, a página foi criada para mostrar que os albinos são pessoas comuns, e não “morcegos ou vampiros”, como comenta o professor que também é albino. Bíscaro afirma ainda que os albinos devem se juntar e reivindicar seus direitos, atitude comum em outros grupos, mas rara na comunidade albina. Quem quiser conhecer o blog é só acessar http://albinoincoerente.blogspot.com/
(Encontrado em http://www.avozdacidade.com/portal/colunas/zapeando/htm000020060.asp)
Abaixo, John Farnham, cantando You're the Voice)
NA ALESP
Almocei com o professor José Carlos Sebe Bom Meihy e seguimos juntos ao prédio da ALESP, uma vez que ele também comporia a mesa, juntamente com o deputado Carlos Giannazi, a Andreza Cavalli e eu. Foi ótimo ter almoçado com o Sebe, fazia anos que não passávamos tanto tempo juntos sem tanta pressão de hora pra ir embora. Morando longe e com agendas sempre cheias (a dele cheia de modo diferente da minha) e conflitantes, pouco nos vemos.
Chegando à sala do deputado fomos recebidos pelo simpático Edson Gabriel e depois pelo Luiz Ferreirinha e pelo próprio Giannazi que se encontravam em outro compromisso quando chegamos.
Pouco antes das 19:00, descemos para o auditório José Bonifácio e no caminho encontramos Andreza. Ao adentrar o auditório, a primeira pessoa que vi foi o Miguel Naufel bebendo café. Quem lê o blog sempre, já se divertiu com algumas de suas histórias pessoais. Tomara que ele continue mandando mais, pois elas fazem sucesso!
Fomos devidamente entrevistados por um dos jornalistas do Diário Oficial e, em seguida, a audiência teve início. O deputado Giannazi abriu a sessão e chamou cada um dos componentes da mesa.
Andreza e eu falamos principalmente de nossas experiências pessoais como albinos no que tange a discriminação e demos sugestões de ações que poderiam ser tomadas nas esferas da educação e saúde. Particularmente, expliquei sobre o blog e a utilidade e necessidade de lei que forneça bloqueador solar a albinos, além de ter tido oportunidade de poder responder publicamente à ironia maldosa contida na coluna da... jornalista Sônia Racy de 30 de setembro. A sessão foi televisionada, então, tomara que esse pessoal veja a alfinetada! O professor Sebe insistiu basicamente na necessidade de darmos passos seqüentes ao projeto, especialmente no que tange à auto-estima das pessoas com albinismo e também no que diz respeito à discussão de cotas, procedimento, aliás, ao qual sou totalmente favorável.
Prometeram-me DVD da sessão, por isso, assim que recebê-lo, os leitores poderão conferir tudo no meu canal no You Tube.
Ainda que a audiência não tenha contado com número muito expressivo de espectadores, creio que foi um primeiro passo significativo na jornada para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde para albinos. Acredito que as experiências pessoais relatadas pela Andreza, seus pais, o Miguel e por mim servirão para que os telespectadores tenham uma noção das dificuldades pelas quais as pessoas com albinismo e seus familiares podem passar. Esperemos que isso evite novos ataques de ironia rasteira e desinformada de que fomos alvo no jornal O Estado de São Paulo e que as pessoas realmente se conscientizem da seriedade do projeto, que precisa ser aprovado.
Por outro lado, a pouca platéia deve servir de motivação aos próprios albinos para que nos mobilizemos mais e percebamos que se nos unirmos e lutarmos conseguiremos algo. Aliados, temos; porém, temos que recrutar mais e tornar mais abrangentes nossos espaços de atuação ativista.
Excetuando os albinos baianos, não somos minoria organizada no restante do território nacional. Temos que pensar seriamente em nos organizarmos. Esse é um dos próximos passos que devemos dar e que foi apontado pelo professor Sebe.
Avalio como positiva a audiência por ter sido a pioneira nesse sentido. Os albinos paulistas jamais tiveram destaque na TV Assembléia ou no Diário Oficial. Certamente, ganharemos aliados novos. E isso certamente repercutirá em outros estados, gerando mais ativismo e mais aliados.
Agradeço imensamente ao deputado Giannazi pelo Projeto de Lei e a toda sua equipe pela presteza e interesse em agendar a audiência e em efetivamente participar dela. Coloco-me à disposição de vocês em tudo que puder colaborar para viabilizar a aprovação deste Projeto.
Agradeço ao professor Sebe, que generosamente empenhou seu tempo e entusiasmo pelo projeto.
Agradeço a todos os presentes na platéia, especialmente aos albinos Miguel e ao Everton e sua irmã, que não obstante problemas visuais compareceram à ALESP.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
ALBINO INCOERENTE NO DIÁRIO OFICIAL
Cabe um aperitivo, porém. O Diário Oficial do estado publicou, no sábado, matéria sobre a audiência púbica a respeito do Projeto de lei 683/2009, que prevê a distribuição gratuita de bloqueador solar para albinos, de autoria do deputado Carlos Giannazi.
sábado, 17 de outubro de 2009 D i á r io O fi c i a l P o d e r L e g i s la t iv o São Paulo, 119 (194) – 5
Audiência pública quer inclusão de albinos na
sociedade
Joel Melo
Por iniciativa do deputado Carlos Giannazi (PSOL),
realizou-se nesta sexta-feira, 16/10, audiência pública para
discutir o preconceito, os problemas de saúde e as dificuldades
financeiras que os albinos encontram, principalmente em
regiões carentes e de baixa escolaridade.
A audiência discutiu também o projeto 683/2009, de
autoria de Giannazi, que determina a obrigatoriedade
de distribuição de protetor solar pela rede estadual
de saúde, além de atendimento oftalmológico, ambos
gratuitos, para os albinos.
Presente na audiência, o professor doutor Roberto
Rillo Bíscaro, que mantém o Blog_do_Albino na internet,
falou sobre sua experiência pessoal de não aceitar que
o preconceito o impedisse de levar uma vida normal,
frequentando a universidade e tornando-se professor. Mas
comentou a dificuldade dos albinos que, por problemas
financeiros ou baixa instrução, passam a maior parte
de sua vida reclusos em casa. Sobre as estatísticas com
relação ao albinismo, o professor Bíscaro não soube dizer
quantos são portadores dessa doença, até porque “não
existimos no Brasil porque não constamos do Censo do
IBGE; desse modo, somos invisíveis aos olhos do poder
público”, declarou. O professor esclareceu também que,
por não ter melanina, o albino não tem defesa contra os
raios solares. Daí a necessidade do uso de filtros solares
para impedir o câncer de pele.
Ao encerrar a audiência, o deputado Giannazi falou da
“necessidade de dar visibilidade à luta das pessoas com
albinismo e, principalmente, sensibilizar o poder público
para os problemas enfrentados pelos albinos”.