Atendimento ao deficiente
O Povo Online30/10/2009
Especialista em treinamento para inserir deficientes físicos no mercado fala da relação deste consumidor
A experiência como terapeuta ocupacional agregou conhecimento à, agora, consultora empresarial, Onilda Gomes. A especialista em treinamento para o mercado de trabalho atua há 15 anos no ramo e conhece bem o público de deficientes físicos, que, conforme garante, tanto são excelentes profissionais quanto consumidores desejados.
O POVO - Os trabalhadores do comércio estão preparados para atender o deficiente físico como cliente?
Onilda Gomes - Não, de jeito nenhum. Isso você vê o nosso mercado como um todo. Uma empresa que tenha um recurso humano convencional, ele não tem essa visão de que vai ter um cliente que tem uma deficiência física.
O POVO - Então o atendimento ao deficiente físico é deficiente?
Onilda Gomes - É deficiente. As pessoas têm receio, têm vergonha, têm medo de se aproximar de uma pessoa que usa muletas, que usa cadeira de rodas. Elas se constrangem e dizem: ``Como é que eu vou fazer?`` É simples. É só ela chegar e dizer assim: ``Boa tarde. Como é o seu nome? Qual a melhor forma que eu posso lhe atender?`` É perguntar.
O POVO - Quais os principais erros ao se atender um deficiente físico? Onilda Gomes - As principais falhas se tornam até cômicas. A pessoa vai falar com o deficiente visual e fala alto, gritando, como se ele fosse surdo também. Eles brincam na sala de aula: ``Professora, a gente já é cego, por que é que vocês, normais & dizem assim brincando &, só falam com a gente gritando?``. E isso é verdade, a gente procura uma carência em querer quebrar aquele mundo e fala com ele gritando. Você vai falar com um deficiente surdo. A pessoa que não sabe a linguagem dos sinais ou a libra, ela inventa outro tipo de gesto que passa a ser uma mímica, uma coisa de palhaçada. Um cadeirante, a primeira coisa que a pessoa faz é ficar com pena dessa pessoa. Além disso, ao invés de pedir para deslocar a cadeira, diz assim: ``Fulano, empurra a cadeira``. Ninguém empurra a cadeira de rodas. A gente empurra carrinho de supermercado, porque a cadeira é o próprio deficiente que está incorporado. Quando você toca a cadeira, você está tocando nele. É o mesmo respeito. A sociedade se preocupa só com a locomoção agora. Vamos fazer rampas e rampas, mas a relação interpessoal, como é que eu vou fazer? Em que aspecto está o problema? Acho que é um conjunto. Está na própria sociedade. Isso tem que ser colocado especificamente em um programa de atendimento. Atendimento com autoridade é uma coisa, com criança é outra coisa, com idoso é completamente diferente. São grupos de pessoas distintas, mas que devem estar no mesmo patamar de atendimento. O mercado do comércio tem que inserir, porque o deficiente é um cliente em potencial, é um consumidor. É também uma questão de educação de base, que passe por casa, passa pela escola, no ambiente de trabalho e repercute em tudo um grupo de mercado. Acima de tudo, é um direito.
O POVO - No lado, o que avançou na inserção do deficiente físico no mercado de trabalho para o comércio?
Onilda Gomes - Avançou em dois sentidos. Primeiro na quebra de um preconceito social, que as pessoas tinham muito. A sociedade, o próprio grupo familiar achava que aquela pessoa estava inválida. A própria nomenclatura leva a isso. ``Inválido, o aleijado``. E não é isso. Segundo ponto, pela necessidade de qualidade de profissional, o mercado mesmo descobriu que esses profissionais têm uma qualidade ímpar. Quando eles são bons, eles são bons mesmo. Todas as vezes, em qualquer área que você coloca aquela pessoa que tem uma deficiência física, ela sempre vai dar excelentes resultados para essa empresa, porque eles têm uma característica de dedicação, de responsabilidade.
O POVO - Então, os deficientes físicos, independente da sua limitação, podem estar capacitados a atuarem no comércio?
Onilda Gomes - Podem, com certeza, desde que eles tenham a capacitação. Se ele vai para dentro de uma sala de aula, ele vai pegar a mesma metodologia. O que vai ser diferente vai ser a locomoção, o tempo que ele vai ficar sentado, o tempo que ele precisa de descanso, mas isso ele mesmo tem a flexibilidade.
O POVO - Das deficiências físicas mais comuns, quais são as que estão mais inseridas no trabalho?
Onilda Gomes - Se a gente fala em preconceito, elas são todas iguais. A sociedade, quando ver o deficiente, ver como um todo, não especifica. Se eu preciso de um telefonista, esse telefonista pode ser deficiente visual ou um cadeirante. Um trabalho que não precisa de uma verbalização, só precisa da parte motora, o surdo vai se inserir muito bem aí, porque o poder de concentração dele é muito maior. Os ruídos que estão a nossa volta não vão atrapalhar de maneira nenhum. Um deficiente visual tem uma capacidade interpretativa e uma rapidez de raciocínio maior do que uma pessoa que tem visão. Eles são muito rápidos. É como se você fizesse só o deslocamento daquela competência. O que ele não tem no olho, por exemplo, ele vai ter mais sensibilidade, mais concentração, melhor memória. Quando você começa a ver o mundo da deficiência, praticamente a deficiência não existe.
O POVO - Professora, existe capacitação suficiente no Ceará para preparar o deficiente físico para o mercado de trabalho no comércio?
Onilda Gomes - Tem. Você hoje vê um leque maior de oportunidades, principalmente, nesses programas de Governo Federal, de governo local. O deficiente tem essa carência educacional, precisa sustentar um grupo familiar, ele vai mais em busca, ele luta muito mais do que aquele que está lá com tudo nas mãos. (Andreh Jonathas).
(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=27194)
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