quinta-feira, 29 de outubro de 2009

LA VENTANA


Voltei a ver filmes “sérios”, pelo menos por algum tempo. Pelo menos até começar a ver a terceira temporada de Dynasty...

Ontem, vi La Ventana (2008), produção argentina dirigida por Carlos Sorin. Sorin é o mesmo diretor de meus amados El Perro (2004) e Histórias Mínimas (2002). Adoro o modo como o argentino trabalhou com não-atores pra contar histórias tocantes e simples, longe do circuito Buenos Aires.

Quando fiquei sabendo sobre La Ventana fiquei seco pra assistir. A imprensa argentina, de modo geral, caiu de pau; pelo menos os críticos dos jornais maiores. Mas, eles vivem detonando o cine deles, então nem dei bola. Diziam que o filme é lento demais, que nada acontece e que é feito apenas prumas 200 pessoas freqüentadoras de festivais de cine.

Eles têm e não têm razão. O filme é lento e talvez agrade mais a público de festival, o que quer que seja isso; eu não sou público de festival, mas me agradou bastante.

Quanto a não acontecer nada, depende do que o analista chama de “acontecer”. Se forem reviravoltas nos moldes das narrativas dramáticas, não acontece mesmo. O filme se passa num dia da vida do octogenário Antonio.

Ele desperta pela manhã de um maravilhoso sonho com uma garota de quem não se lembrava há 80 anos. Depois disso, vemos diversas atividades do dia a dia: o ancião conversando com as mucamas, elas conversando entre si, o afinador de piano trabalhando. Antonio aguarda a chegada de seu filho, pianista mundialmente famoso, daí a “desculpa” pra afinar o piano, metáfora do arrumar a casa na mente de Antonio.

As cenas do dia de Antonio nos mostram a perda da liberdade de escolha imposta pela idade e por recente incidente cardíaco. São os outros quem decidem o que Antonio pode ou não fazer, onde pode ou não pode ir. A janela do título, refere-se à enorme janela de seu quarto, de onde vê a vastidão do pampa e por onde decide dar um passeio por conta própria, sem pedir permissão a ninguém.

Longos silêncios, moscas nas janelas, urina sobre esterco, a vastidão do pampa. A ação do melancólico e introspectivo La Ventana é sutil – inexiste pra certos olhares, como provaram os críticos argentinos -, mas está lá, acreditem. É aquela mesma ação que move o cotidiano, nesse caso, a relação de um velho com a impotência, as lembranças inesperadas, a memória, enfim.

Sorin continua muito bom diretor de atores não profissionais. As empregadas não são atrizes e os nomes das personagens são os mesmos dos de suas vidas reais. Fiquei curioso a respeito do octogenário Antonio e fui pesquisar na net. Não sou expert em cine argentino, mas já vi um bom punhado de filmes e não me lembrava dele. Descobri que também não é ator profissional, embora seja tradutor, roteirista e diretor de teatro famoso no Uruguai. Seu nome? Antonio Larreta. Antonio, o mesmo nome da personagem...

La Ventana é certamente menos “movimentado” do que os demais filmes de Sorin até porque é outro estilo de filme. Quem não curte narrativas lentas, apenas com ações rotineiras, silêncios e diálogos aparentemente simplórios, mantenha distância.

De minha parte, continuo mais devoto do que nunca de Carlos Sorin!

(Abaixo, trailer de la Ventana)


2 comentários:

  1. Humm, que bacana, vc tbm curte Sorín! Eu adorei 'histórias mínimas'. e gostei dessa dica, vou tentar encontrar e assistir. Lembra do 'malacara'?, amei o D. Justo. valeu pela dica.
    Abraço!

    ResponderExcluir
  2. legal Robert....nao sou nada conhecedora do cinema argentino. estou vendo indicações suas. vz ou outro, passei por alguns e gostei - Medianeras (Gustavo Taretto). neste filme q vc indica, esperar "baladas" e outros "agitos" é muito para um octogenário, não é mesmo? valeu por mais este.

    ResponderExcluir