segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

UM DIA SEM LATINOS

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Roberto Rillo Bíscaro


O “problema” da imigração dos latinos pros EUA tem sido assunto candente há anos. A entrada de mexicanos e de demais nacionalidades hispânicas no país atingiu níveis tão elevados que uma muralha foi construída pra barrar imigrantes. Há algumas semanas a mídia mundial celebrou entusiasticamente a queda do muro de Berlim. Engraçado como não há o mesmo repúdio perante esse Muro , né???

Alguns estados norte-americanos, entre eles a Califórnia e o Texas, eram originalmente parte do território mexicano, “cedidas” ao vizinho do norte.

Desde meados do século XIX, toda vez que os EUA necessitam de mão de obra barata, ocorrem tratados bilaterais ou programas de incentivo à imigração. Foi o caso do Bracero Program (pelo nome percebe-se o tipo de trabalho oferecido...) de 1917, instaurado pra suprir a demanda causada pela Primeira Guerra Mundial.

Quando a mão de obra latina por algum motivo não é necessitada, os chicanos são imediatamente percebidos como invasores, ilegais e armam-se ferozes esquemas de captura e deportação de imigrantes ilegais. Entre 1954 e 1959, cerca de 3 milhões e meio deles foram expulsos na chamada Operation Wetback (wetback significa “costas molhadas” e é expressão ofensiva usada pra descrever imigrantes que cruzam o Rio Grande, que separa México e EUA).

Atualmente, cerca de um terço da população californiana é composto por “mexicanos”. As aspas justificam-se porque mexicano passou a designar qualquer pessoa que fale espanhol. Assim, uma moça loira argentina pode ser chamada chicana, apesar dos prováveis protestos...

A maciça presença latina no estado levou o roteirista Yareli Arizmendi a pensar no que seria da Califórnia se todos os latinos sumissem bem no meio de suas atividades, deixando o estado sem esse contingente populacional duma hora pra outra. O resultado dessa idéia pode ser vista no filme A Day Without A Mexican (2004), dirigido pelo mexicano Sérgio Arau.

No contexto do teatro negro, o dramaturgo Douglas Turner Ward escrevera peça com enredo semelhante chamada A Day of Absence, em 1965.

Em A Day Without a Mexican, uma névoa cor de rosa envolve a Califórnia deixando-a incomunicável com o resto do mundo. Enquanto isso, todos os hispânicos vão gradualmente desaparecendo do estado. Conforme os latinos diminuem, o caso impera.

Como os latinos são os maiores responsáveis por atividades como agricultura, limpezas de toda espécie e uma gama variada de atividades manuais (mas não apenas), as reservas de comida começam a escassear levando ao pânico e ao caos generalizado, com saques de mercados e a necessidade de comprar comida como se fosse droga. As cidades viram montanhas de lixo e as branquelas ianques têm que botar a mão na sujeira e no pesado.

A narrativa é composta em grande parte por programas de TV como jornais, propagandas, talk shows, entrevistas, o que dá um ritmo dinâmico ao filme porque tais mensagens estão inseridas em meio à ação dramática. Esse recurso também permite que as cenas televisivas interajam de várias maneiras com a ação dramática, comentado-se reciprocamente de modo geralmente irônico.

Em diversos momentos, legendas são inseridas quando alguma personagem fala absurdo a respeito de latinos. Uma norte-americana surpreende-se que uma tal Monica tenha desaparecido. “Eu achei que ela fosse normal, como eu”, diz. O marido a corrige dizendo que Monica é argentina. Nessa hora, aparece uma legenda explicando que existem 40 países ao sul da fronteira norte-americana.

O filme tem claramente a proposta didática de mostrar a importância dos latinos na economia norte-americana e o prejuízo que trariam caso sumissem. No mundo capitalista, mesmo que se esteja recheado de boas intenções, é vital ressaltar o valor econômico dos grupos...

Como obra didática, A Day Without a Mexican funciona bem, malgrado o final liberal e otimista demais. Se os mexicanos realmente desaparecessem como no filme, há um exército de reserva gigantesco pra suprir a falta deles!

Como diversão, a película apresenta diversos momentos divertidamente sarcásticos como quando um maluco levanta a teoria de que os latinos foram abduzidos por aliens, cujos discos voadores nada mais são do que os sombreros dos chicanos! Ajuda saber que os imigrantes ilegais são chamados illegal aliens, ou seja, a mesma palavra usada pra designar ETs...

O filme também dá uma piscadela para o gênero telenovela sacarinada, tão querido pelos latinos. Há uma revelação bombástica e lacrimosa a respeito duma maternidade secreta...

Um comentário:

  1. bem interessante a abordagem das estatísticas, a mesclagem dos casos. a "Rosa Selvagem" não faltou a marca do dramalhão mexicano, lá pelos 1:18 de filme. pena q o final americanizou c excesso de ufanismo q é só deles.

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