quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

TORCENDO PRAS PLANTAS CARNÍVORAS

Roberto Rillo Bíscaro

The Day of the Triffids é um livro já adaptado 3 vezes pras telas. Em 1962, numa produção B pra cinema, estrelada pelo ator-cantante Howard Keel (que nos anos 80 reencontraria a fama interpretando Klayton Farlow, na minha venerada DALLAS). Em 1981, uma adaptação seriada pra TV, pela BBC, que, embora simples, era efetiva. Ano passado, a mesma BBC resolveu filmar a história de novo, repetindo o formato de minissérie. Cada filmagem apresenta alguns elementos distintos pra tornar a história mais significativa pra época de produção. Nada de errado nisso.
O enredo é basicamente o seguinte: devido à crise do petróleo, os seres humanos procuram um combustível alternativo fornecido por uma espécie de planta, as Triffids. Há um inconveniente, porém. Elas são capazes de se movimentar, comunicar entre si e, pra completar, são ferozes carnívoras. Por isso, são mantidas em fazendas secretas pelos governos ao redor do globo. A história de The Day of the Triffids inicia com um especialista nessas plantas se ferindo nos olhos e sendo obrigado a passar a noite no hospital, vendado. Acontece que, praquela noite, astrônomos previam uma série de explosões solares, que proporcionariam um espetáculo inofensivo de luz e calor por todo o planeta. Desse modo, a população da Terra fica de olho no céu pra ver o show pirotécnico grátis. O que ninguém previra era que em determinado momento, a luz se tornaria tão intensa que cegaria quem estivesse olhando. Resultado: a maior parte da espécie humana fica cega e o caos se instaura em um mundo sem governos e com milhões de cegos indefesos, porém lutando pela sobrevivência. Apenas a minoria que não olhou pro céu escapa da cegueira. Pra completar o caos e justificar o nome do filme, as Triffids escapam em massa e começam a devorar os incautos.
A história é boa pra fãs de ficção-cientifica e, como gostei das 2 outras versões – especialmente a de 1962 - minha predileta – não poderia perder a produção contemporânea, com grande orçamento e elenco contando com participações de Vanessa Redgrave e Brian Cox. A presença de Joely Richardson, filha de Redgrave, também me era convidativa, afinal os clãs Redgrave-Richardson são basilares nas artes cênicas britânicas.
Na cena do cegante clarão solar noturno, pensei: “Jesus Luz, isso vai ser um desastre!” Todos os passageiros e obviamente os pilotos, perdem a visão, exceto por um que dormia. Ele acorda em meio ao tumulto e em silêncio dirige-se ao banheiro enquanto o avião perde altitude. No cubículo, ele infla um montão de airbags ou sei lá o quê e aguarda a queda da aeronave, que deve ter durado muito afinal, deu tempo de o cara inflar e arrumar todos os airbags a seu redor! Não entendo nada de física, mas me parece que um avião nessas condições cairia de bico praticamente, mas não é isso que ocorre. Ele cai de barriga em plena Londres e o tal passageiro sai caminhando com arranhões e cara de pastel!
Depois disso, tudo vira um festival de implausibilidades, ações não explicadas/justificadas, coincidências forçadas, atitudes sem cabimento. Pra vocês terem uma idéia, 2 ou 3 dias após o acidente, o tal passageiro já era líder de uma organização paramilitar, que dominava toda Londres! Como assim? Qual a legitimidade do cidadão pra conseguir ser tirano tão rapidamente? Que motivação seus seguidores tinham pra fazê-lo?
E olha que estou dando apenas um par de exemplos, mas o roteiro é péssimo, horrivelmente lotado de furos, de falta de lógica. Motivação e verossimilhança não constam do vocabulário de quem o escreveu. As personagens tomam decisões estúpidas, que surgem do nada. O tal tirano quer eliminar o protagonista e por isso manda que seus asseclas o transportem pra longe de Londres pra fazer o serviço. Pra quê??? A cidade toda está cega e mergulhada no caos!! Qualquer lugar seria lugar pra executar o dito cujo.
Com material tão estúpido nas mãos, não tem Redgrave ou Cox que salvem o dia, até porque as personagens são mal construídas, enfim, é tudo um grande equívoco que merece ser esquecido.
Ao final, pra sinalizar os tempos da falácia pós-colonial, o gênio roteirista desencavou uma espécie de cerimonial africano com máscara e tudo pra garantir imunidade contra as plantas.
Eu sequer pausava o DVD pra ir ao banheiro ou beber água; o botão não merecia trabalhar pra isso, tadinho... Enfim, ao assistir a versão 2009 de The Day of the Triffids a gente torce pra que as plantas devorem todas as personagens, sem exceção, e livrem o planeta de tanta gente idiota!
(A versão pra cine, de 62, atingiu status tão cult que inspirou o nome duma banda australiana da década de 80. Eles chegaram a ter um álbum lançado no Brasil, na época.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário