quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

ALUNO COM ALBINISMO NA CLASSE REGULAR – III

Terceira e última parte do artigo O Aluno com Albinismo na Classe Regular, escrito pela norte-americana Julia Robertson Ashley.

Aprendizado especializado com professor especializadoOs alunos com albinismo devem receber certas orientações específicas, que os ajudarão a compensar suas limitações visuais. O professor especializado irá instruí-los em práticas como o uso do teclado da máquina de datilografia, a audição, a orientação e mobilidade (viajar e utilizar o meio ambiente) e as atividades da vida diária. O conhecimento do teclado é importante, porque o aluno pode, assim, preparar seus deveres de casa, de modo menos cansativo, reproduzindo-os, depois, em tipos ampliados. A escrita pode ser uma atividade muito difícil para alunos com visão limitada. Gravações, que são utilizadas por qualquer aluno, são especialmente importantes para os deficientes visuais. Muitas das informações que as outras crianças captam pela visão, o deficiente visual só terá acesso pelos ledores e/ou pelas fitas de áudio.
O tamanho das letras nos impressos usados com os alunos deficientes visuais buscará satisfazer, sempre, às necessidades individuais, assim como o uso ou não do Sistema Braille, normalmente desnecessário ao aluno albino. Quanto ao aprendizado pelo Sistema Braille, a Divisão de Deficientes Visuais, Conselho para Crianças Excepcionais, escreveu: “não pode haver meio de leitura arbitrário e predominante para todos os alunos de uma categoria, devendo ser reafirmado o princípio de educar-se a cada um de acordo com suas necessidades e capacidades individuais” (Koenig; Sanspree & Holbrook, 1990:10). E ainda: “cada aluno com uma deficiência visual deve ter certeza de que as decisões sobre o meio utilizado para leitura estejam baseadas na observação de seu desempenho sensorial, e não em critérios arbitrários como a acuidade visual do aluno ou definições legais de deficiência visual” (Koenig; Sanspree & Holbrook, 1990:11).
O professor especialista deverá também orientar seu aluno no conhecimento das estruturas e das divisões setoriais da escola. É bom lembrar que os pontos distantes e as áreas extremamente claras são os locais que geralmente apresentam as maiores dificuldades para uma criança albina.



(Finalmente, a Julia dos Beatles pra encerrar nossa série de Julias musicais.)

Recursos óticos e não-óticosAs necessidades de uma criança com albinismo serão supridas com vários recursos óticos e não-óticos, que poderão ser recomendados por um oftalmologista, um optometrista, um especialista em baixa visão ou um professor especializado.
Os suportes de livros, que permitirão à criança posicionar o material de leitura próximo dos olhos, serão, geralmente, inclinados de um certo ângulo, sobre a sua carteira. Se a criança não tem este suporte, tente colocar um dicionário grosso ou vários livros sob o material de leitura para deixá-lo mais próximo dos olhos.
Os livros impressos em tipos ampliados têm o mesmo conteúdo dos textos escolares. A legibilidade da impressão é muito importante. O adequado espaçamento entre linhas e letras é uma garantia de qualidade de impressão. Infelizmente, alguns materiais acabam sendo apenas ampliações dos impressos padrões e podem manchar facilmente.
Folhas que possuem linhas muito escuras e mais espaço entre elas podem facilitar a escrita de alunos com albinismo. O professor pode experimentar diferentes cores de papel, a fim de ver qual a de melhor resultado com cada criança. Os professores já devem ter ouvido ou lido o termo “preferencial”, usado com alunos deficientes visuais. Um assentamento ou uma seleção preferencial não estão baseados em capricho ou temperamento, mas significa, tão-somente, que o aluno tem algumas técnicas visuais próprias que funcionam melhor para ele, tornando-se uma preferência sua.
Os alunos devem usar óculos especiais, do tipo bifocal, para leitura. Estas lentes devem ser coloridas, a fim de ajudar a reduzir o brilho. Uma criança extremamente sensível à luz deve usar óculos escuros, dentro e fora da sala de aula. As crianças com albinismo podem apresentar flutuações na acuidade visual de um dia para outro. Mas cada uma delas tem muitas características particulares, sendo impossível classificar todas num único grupo visual.
Equipamentos telescópicos, como monóculos, devem ser usados para a leitura do escrito no quadro e para o alcance de objetos distantes. Os monóculos são pequenos telescópios manuais que podem ser ajustados pelo aluno. Óculos binoculares, que possuem telescópios em suas lentes, também podem ser utilizados para visão à distância em atividades como cinema, jogos escolares ou eventos esportivos.
Pode ser desejável o uso de canetas e lápis bem escuros. Os materiais escritos com canetas de ponta grossa e cor escura são mais fáceis de ler. Se tiver de usar lápis, tente o que tem o grafite mais escuro.
Folhas de acetato, de filme ou plástico colorido, colocadas sobre uma página, podem facilitar a leitura. O professor deverá experimentar qual cor do acetato é melhor para o seu aluno.
O material manuscrito pode ser de leitura difícil para a criança albina, devendo seus testes serem datilografados ou escritos no quadro-negro.
Aplicação de testes
A maioria das escolas usa testes padrão durante o ano. O aluno visualmente limitado poderá fazê-los, obtendo-os pelo meio que lhes convier: tanto por impressos em tipos ampliados, quanto por letras de tamanho normal, mediante o uso de auxílio ótico. Os alunos com visão reduzida têm, geralmente, o tempo normal mais a metade para realizar tais testes, contando os intervalos de descanso ocular.

A fotofobia e o ofuscamento
As crianças com albinismo geralmente possuem fotofobia, que é uma extrema sensibilidade à claridade, e o professor deve colocar a criança distante de janelas e luzes intensas. Saiba, também, que a visão da criança pode variar de um dia para outro e ser afetada por fadiga, emoções e medicamentos.
O ofuscamento é um problema distinto para crianças com albinismo. Visores ou protetores para os olhos podem ser úteis para reduzir a luz e o brilho. O professor deve evitar parar em frente à janela na sala de aula, pois o clarão que dela provém dificulta a criança a olhar para ele. É, normalmente, difícil para uma criança com albinismo sustentar o foco ocular; tentar mantê-lo com um clarão, compondo a cena, é, virtualmente, impossível.
Atividades extra-classe
Seu aluno com albinismo estará pronto para participar da maioria das atividades, com pequenas modificações, mas algumas considerações especiais devem ser feitas, por medida de segurança.
Em reuniões ou apresentações de grupo – A maioria das escolas posiciona os alunos menores nas primeiras e os maiores nas últimas filas de um auditório ou local similar. Mas o aluno albino pode necessitar sentar-se perto do palco ou usar um monóculo para ver adequadamente. Permitir que um amigo o acompanhe, ser-lhe-á mais agradável, especialmente se o aluno estiver sentado próximo das crianças mais novas. Não insista em mudar a criança de lugar, se ela prefere permanecer com os colegas de turma.
Passeios – Informe aos funcionários de museus e teatros que você tem um aluno com deficiência visual. Se forem previamente avisados, algumas providências especiais podem ser tomadas para que tenha uma visão mais aproximada ou possa tocar em algumas peças. Em ambientes desconhecidos, uma criança com baixa visão fica em grande desvantagem; assim, é indispensável que se informe disto a pessoa responsável por seu grupo.
Aulas de Educação Física e aulas externas – As atividades externas podem ser difíceis para a criança com albinismo. Aulas de Educação Física que envolvam esportes como softball ou basquete, podem causar-lhes problemas, em virtude de suas condições visuais. Outras atividades, como track, natação e aeróbica, podem ser agradáveis às crianças com albinismo e elas podem atuar bem nestas áreas. A fotofobia pode causar desconforto em atividades externas, mas o uso de bonés, viseiras, lentes coloridas e filtros solares pode ajudá-las a desfrutar delas. Entretanto, Janice Knuth, Presidente da N.O.A.H., assinala que existe um porém no uso de lentes coloridas – a cor reduz o desconforto da claridade, mas reduz, também, a nitidez e a clareza dos detalhes. As pessoas com albinismo podem, às vezes, resistir ao uso de óculos de sol, porque, segundo elas, não vêem tão bem com eles.
Treinamentos para incêndios – Não peça a outro aluno que assista à criança com albinismo durante treinamentos ou incêndio real. O aluno visualmente limitado pode necessitar de ajuda numa emergência, e a outra criança pode entrar em pânico. Não é recomendável esperar que um aluno seja responsável por um companheiro. Um adulto sempre deve manter a responsabilidade por crianças com necessidades especiais.

Alguns pensamentos finais
Sua escola e sua sala de aula serão partes do mundo da criança, e você, professor, não deve sentir pena dela, pois isto só pode prejudicá-la grandemente. Feitas as adequações e as adaptações indispensáveis, o aluno com albinismo não lhe tomará demasiado tempo, e você não terá que negligenciar os demais alunos para atender as suas necessidades. Muitas crianças com necessidades especiais estão, hoje em dia, em escolas regulares. Uma criança com albinismo deve ser capaz de divertir-se e aprender como qualquer criança.

Bibliografia1. ASHLEY, J. R. The student with albinism in the regular classroom. U.S.A.: NOAH/NAPUI, 1992.
2. BARRAGA, N. & ERIN, J. Visual handicaps and learning, revised edition. Austin, TX: Pro-Ed Publishing Co., 1991.
3. BAILEY, I. L. & HALL. Visual impairment. New York: American Foundation for the Blind, 1990.
4. EFRON, M. Efron visual acuity test. Columbia, SC: Marvin Efron (West Columbia Optometric Group, P. O. Box 4045, West Columbia, SC 29171), 1980.
5. HAEFEMEYER, J. W. et al. Facts about albinism. Minneapolis: University of Minnesota International Albinism Center, 1986.
6. KOERING, A. J.; SANSPREE, M. J. & HOLBROOK, M. C. Determining the reading medium for students with visual handicaps. DVH Quarterly, 36 (1):10-11, 1990.
7. SCHOLL, G. Foundations of Education for the blind and visually handicapped children and youth. New York: American Foundation for the Blind, 1986.
8. SORSBY, A. Noah—an albino. British Medical Journal. 12:1587-1589, 1958.
9. TORRES, I. & CORN, A. When you have a visually handicapped child in your classroom, second edition. New York: American Foundation for the Blind, 1990.
10. WAUGH, J. The human aspect of albinism. Unpublished Masters thesis, University of California at Hayward, CA., 1988.

Julia Robertson Ashley tem mais de 20 anos de experiência no magistério em Educação Especial (área da deficiência da visão) pela Universidade da Carolina do Sul e é Mestra em Educação pela Nova University, FT. Lauderdale, Flórida, U.S.A. Tradução de Paulo Felicíssimo Ferreira, adaptação de Sonia Maria Dutra de Araújo.

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