quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

UM HAL 9000 DO BEM

Roberto Rillo Bíscaro

Estava curioso pra assistir a um filme de ficção-cientifica chamado Moon (2009), estréia na direção do inglês Duncan Jones, filho de David Bowie. Soube que a película lembrava bastante algumas produções do gênero, dos anos 70. Sem efeitos especiais de última geração, Moon se centrava mais na história do que em fogos de artifício. Como não sou afeito a rojões, decidi vê-lo.
A cena inicial explica a premissa do enredo. Um comercial de TV revela que uma corporação transnacional, a Lunar, resolvera o problema energético do planeta através da exploração lunar dum gás chamado Helium 3. As imagens claras e otimistas mostram crianças negras sorrindo e a promessa de que a empresa se importa com o bem estar humano, provendo energia limpa pra 70% da Terra. Enfim, um show de responsabilidade social.
Em seguida, aparece o protagonista Sam Bell, que há 3 anos vive sozinho na lua, onde é responsável por toda a extração do gás. Quando o espectador se dá conta disso, o comercial de TV da abertura, assume tom totalmente irônico, de “verdade oficial”, contrastante com o real. Se um único funcionário é responsável pelo fornecimento de matéria-prima capaz de garantir o domínio do mercado global á corporação, imaginem o lucro! Investimento baixíssimo, ganhos astronômicos.
O contrato de Sam estava a 2 semanas do fim, quando um novo funcionário seria enviado pra substituí-lo e ele poderia voltar à sua esposa e filha. Tendo como companhia apenas um computador que gerencia toda a sua vida (2001, Uma Odisseia Espacial!), Sam espera pela volta à Terra, mas começa a sofrer alucinações, que culminam num acidente e na descoberta dum outro Sam. A partir daí, começa a cair a máscara da responsabilidade social da Lunar Corporation.
Sam e seu duplo seriam a representação do trabalhador a quem se pede pra “vestir a camisa” da “família” que é a empresa, mas que na verdade não passa de peça facilmente substituível no grande exército de reserva do capitalismo tardio? Moon nos faz supor que sim, com sua inquietante alusão à clonagem e reposição, além de condições laborais pra lá de estressantes e desumanas.
Tenso, claustrofóbico e muito bem atuado, o filme peca pelo epílogo, porém. Diferentemente do HAL 9000 da obra-prima de Stanley Kubrick, o GERTY, de Moon, mostra-se inverossímil demais pro meu gosto. Não acredito que tendo sido projetado pela Lunar Corporation, ele faria o que fez no final. Talvez isso tenha sido uma tentativa de reviravolta na trama que fizesse GERTY diferente de seus predecessores mais sinistros. Mas, faltou preparar melhor o terreno.
De qualquer modo, o filho do roqueiro que deu ao mundo Space Oddity e seu Major Tom, rendeu competente homenagem aos filmes de ficção-científica produzidos na era em que Bowie era a estrela mais instigante do planeta, com seu visual extraterrestre.
(Contrariando as expectativas, ao invés de Bowie, me deu vontade de ouvir a maravilhosa Shy Moon, dueto de Caetano Veloso e Ritchie, lá dos meados dos anos 80.)

Um comentário:

  1. Assisti a Moon, umas oito vezes.....
    Muito leve e interessante.
    Gostei....Mas....Não se trata de nenhuma pérola.

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