terça-feira, 2 de março de 2010

EDITORIAL PRECONCEITUOSO EM JORNAL DE CABO VERDE

O jornal Liberal Online, de Cabo Verde, em editorial que trata de problemas políticos daquele país, brindou o mundo com outra visão preconceituosa e distorcida a respeito do albinismo (destaquei em vermelho no texto original).

O infeliz e desinformado uso de expressões como "metástase" e "pústulas que desfiguram" atrela o albinismo inexoravelmente à ideia de câncer. Que tolice! O albinismo, por si, nada tem a ver com isso. Câncer de pele pode se desenvolver se não tomarmos os devidos cuidados com relação ao sol, e, além do mais, isso não é prerrogativa apenas de pessoas com albinismo.

Faço votos de que os problemas políticos do país sejam resolvidos e os irmãos e irmãs de CAbo Verde sejam muito felizes e vivam em terra farta. Entretanto, sugiro ao douto editorialista que se atenha a elaborar comparações usando elementos sobre os quais conheça, a fim de evitar comentários desfigurados como os presentes em seu texto. Fica o conselho de Jane Austen: se você não tem nada de útil ou consequente a dizer, restrinja-se a falar sobre o clima!

Em tempo, assim que li o editorial, escrevi comentário de repúdio. Sugiro que nossos leitores façam o mesmo


SECÇÃO: Editorial
1 Mar, 09:02h
SINAIS DOS TEMPOS

Este Governo confessa-se incompatível com a democracia inerente ao Poder Local, cuja proximidade com as populações faz dele um incontornável Protagonista – e isso colide com a insistente marca ideológica que a propaganda governamentalista sintetizou no seu slogan: “assistam, assistam, assistam”
No seu afã de, a todo o custo, mesmo com o sacrifício de valores fundamentais para a vivência democrática do País, se manter estribado no Poder cujas rédeas vão cedendo tanto pelo cansaço próprio e pelo cansaço da montada como pela cada vez maior aspereza do caminho, José Maria Neves tem vindo a ferir gravemente as ilhargas da democracia cabo-verdiana. É disso exemplo o seu mais que desastrado relacionamento com o Poder Local democrático, esteio da II República resultante da liquidação da deriva totalitária para a qual Cabo Verde foi atirado no processo que conduziu à bênção da independência.
O Poder Local é, POR NATUREZA e definição, democrático: por isso foi que, durante a vigência do partido único, ele esteve entre nós denegado por uma espécie de satrapias exercidas por comissários que, funcionando à moda herdada das administrações coloniais, se comportavam e assumiam como delegados do Governo – tentação hoje mais que larvar na visão do agónico Poder de Neves, pese embora a resistência de autarcas da estirpe de um Orlando Sanches ou de um Vítor Baessa (e citamos só nomes na área da estrela negra), que, mau grado fidelidades partidárias e a consciência da dependência da vontade do Governo para ganharem recursos necessários à execução de obra, têm do municipalismo uma concepção moderna, não consentânea com o modo como o seu líder quer liquidar as veleidades democráticas que felizmente ainda existem na falange tambarina.
Dir-se-á que se trata de contradições que os autarcas em causa terão que resolver. É todavia indubitável que a operação de cosmética em curso com vista à “albinização” da I República (pigmentando de branco o que naturalmente o não é) ao ponto de pretender-se forjar o revisionismo da História, tem o custo de, querendo disfarçar o mal, permitir que as metástases se desenvolvam. Parecem esquecer os cirurgiões desta plástica que o albinismo é doença, não é virtude; e que ele sempre traz consigo pústulas que desfiguram.
Na verdade, o revisionismo exercitado por Neves e sua equipa como tentativa para salvar o corpo agonizante, vem acompanhado pela tentativa de estrangular a democracia que o Poder Local exige e o vivifica. Daí que chegue ao despudor de querer condicionar a admissão de quadros fundamentais ao desenvolvimento autárquico a decisões pontuais (e consequentemente arbitrárias) do Conselho de Ministros; daí que, enquanto se recusa cumprir à letra a Lei das Finanças Locais, a agónica equipa de Neves intenta limitar, senão impedir, que os Municípios achem valimento e ajuda na Cooperação Internacional.
Não: este Governo não endoidou. O que realmente acontece é que este Governo confessa-se incompatível com a democracia inerente ao Poder Local, cuja proximidade com as populações faz dele um incontornável Protagonista – e isso colide com a insistente marca ideológica que a propaganda governamentalista sintetizou no seu slogan: “assistam, assistam, assistam”. É a marca de um solipsismo conceptual que, por tanto, recusa outros protagonismos, sobretudo o dos parceiros constitucionais com os quais, funcionalmente e de maneira harmónica, deve compartilhar o poder.
Daí a revolta dos autarcas, fundamentada numa plataforma comum (aos autarcas MpD e aos autarcas PAICV) que é a Declaração de Assomada. O incidente da passada sexta-feira, que levou a maioria dos autarcas presentes no Palácio da Várzea a virar as costas ao Primeiro Ministro, foi disso um episódio. E talvez sinal de que o País se prepara para lhe virar as costas. E quando assim é…
Editorial

(Encontrado em http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?id=27484&idEdicao=64&idSeccao=549&Action=noticia)

(De Cabo Verde vem a incomparável Cesária Évora. Fiquemos com ela.)


Um comentário:

  1. É o velho problema com roupagem nova: a internet é como o papel: aceita de tudo...

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