Em 1987, passava férias do trabalho em casa dum tio em São Paulo. Fazia isso desde guri. Quando mais jovem, via muita TV pra aproveitar a maior quantidade de canais do que a que havia no interior. Na adolescência e juventude, preferia escutar algumas FMs paulistanas pra ficar por dentro das novidades do rock/pop inglês, sobre o qual lia numa famosa revista de musica da época. Ouvia umas 2 ou 3 estações apenas; só as “alternativas”, nada dessas rádios que tocavam o hit parade!
Certo dia, ouvi uma canção chamada Me and the Farmer. Foi paixão instantânea. Recém-órfão dos Smiths, que se separaram naquele ano, babei pelo curto e rápido rockinho e pelo vocal delicado. Melodia grudenta, levada por baixo, bateria e guitarra. O nome da banda: Housemartins. Lembrei-me de que já lera o nome na revista de música que assinava; haviam estado nas paradas de singles e álbuns independentes inglesas. Em 1987, isso pra mim era sinônimo indiscutível de qualidade!!
Enquanto permaneci em Sampa, não ouvia outra estação de FM a não ser aquela que tocara Me and the Farmer pra poder escutá-la tantas vezes quanto pudesse.
Fiquei meses sem ouvir a canção novamente porque o álbum demorou a sair no Brasil. Creio mesmo que só foi lançado em 1988, pouco antes duma canção dos Housemartins estourar nas rádios do país todo, porque foi tema da novela Bebê à Bordo, da Globo. Era a balada Build, que ficou conhecida como Melô do Papel, na época.
Quando os Husemartins estouraram no Brasil, a banda já não mais existia; desintegrara-se poucos meses antes. O vocalista Paul Heaton adicionou alguns elementos mais sofisticados de jazz pop e formou o Beautiful South, popular na Inglaterra nos início dos anos 90. O baixista Norman Cook estava interessado em dance music. Primeiro fundou o Beats International, que lançou um par de álbuns criticamente aclamados e depois partiu pra discotecagem e remixagem solo, transformando-se no todo-poderoso Fatboy Slim.
Ao longo das décadas, jamais esqueci dos Housemartins e frequentemente ouço os 2 álbuns e a coletânea de singles e raridades, que constituem seu legado. Injustamente acusados de cópia ou derivativo dos Smiths, os meninos da pequena Hull eram mais do que isso. Embora as guitarrinhas jangle e os vocais evoquem por vezes os garotos de Manchester (especialmente no primeiro álbum), os Housemartins tinham elementos de Motown e gospel que não eram proeminentes nos Smiths. Isso sem contar as ácidas letras abertamente mais pró-trabalhistas do que as de Morrissey (não direi mais anti-monarquistas porque os Smiths tem um álbum chamado The Queen is Dead!).
É justamente o assombroso impacto e influência dos Smiths na música pop há mais de 25 anos, que fizeram com que os Housemartins caíssem num semi-esquecimento injusto. Ninguém tira de Morrissey, Marr, Joyce e Rourke o cetro de guardiões do guitar pop numa era infestada de sintetizadores. Deus os abençoe por isso!
Entretanto, não podemos esquecer dos momentos divertidos e politicamente antenados proporcionados por 4 garotos ingleses de aparência tão comum, tão cotidiana, o quê aliás, era parte refrescante da postura da banda, nos cabeludamente armados e gelidificados anos 80...
Quem viveu a década de 80, que relembre. Quem é jovem demais, que conheça. Mas, não podemos deixar que caiam no esquecimento.
Obs. Só soube dessa matéria agora, rs !!!
ResponderExcluirPoxa, eu não vivi muito na década de 80: Só 3 anos da minha vida! Não sabia que os Housemartins tinha mais sucesso e como foi sua vida também. Só conhecia a do Melô do Papel...
Legal a matéria!
bjs