quarta-feira, 17 de março de 2010

O DESABAFO DE MIGUEL

Ontem, publiquei matéria sobre a luta de Miguel Naufel contra o descaso. Hoje, a palavra é dele.

DO ORGULHO À MÁGOA
Meus avós vieram para o Brasil do Líbano, fugindo das guerras. Eram três irmãos; com o tempo, trouxeram os seus pais, meus bisavós.

Nas tardes de minha adolescência, eu não tinha namoradas. Além de ser albino, tinha cravos e espinhas, inclusive no rosto. Dois motivos pra todas as garotas fugirem de mim. Também não podia jogar futebol devido à baixa visão e por não poder me expor ao sol. Então, enquanto meus amigos jogavam futebol aos sábados à tarde, ia ate a casa de minha avó e ficava horas ouvindo histórias de meu avô paterno.Desta maneira, descobri muitas coisas a respeito da família, que muitos não sabem. Meu avô, Miguel Naufel, e seus irmãos eram mascates: vendedores ambulantes. Com o tempo, se estabeleceram em Mococa, onde possuíam um armazém de tecidos e alimentos.

O Brasil para eles era uma terra estranha, sofriam muitos preconceitos, não falavam a língua e não tinham nenhum conforto. Muitas vezes dormiam em redes ao ar livre ou sobre as sacarias, dentro das carroças em que transportavam suas mercadorias.

Eram muito unidos; todos da família trabalhavam no mesmo negocio, e, quando fixavam residência, moravam todos juntos: pais, filhos, irmãos, netos sobrinhos.

Hoje, tenho familiares advogados, engenheiros, médicos, professores etc. Tem gente na minha família que já foi vereador e prefeito de Mococa, cargo que exerceu por duas vezes. Inclusive, é o atual prefeito da cidade. Quando me lembro das histórias sobre as lutas de meus avós e vejo meus familiares hoje, sinto orgulho. Afinal, os netos de meus avós conquistaram este país.

Meu avô acordava às três horas da manhã para sair com suas mercadorias. E acordava os filhos que iriam com ele. Chamava uma vez só; todos levantavam na primeira chamada. Era bem clara a importância do chefe de família, a união entre os familiares, a luta pra conquistar o pão de cada dia... Meus avós venceram na vida e nos deixaram um grande ensinamento.

Será que estamos praticando estes ensinamentos?

* (Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?) *.
E, tendo vindo para casa, reuniu-se aí tão grande multidão de gente, que eles nem sequer podiam fazer sua refeição. – Sabendo disso, vieram seus parentes para se apoderarem dele, pois diziam que perdera o espírito.
Entretanto, tendo vindo sua mãe e seus irmãos e conservando-se do lado de fora, mandaram chamá-lo.
- Ora, o povo se assentara em torno dele e lhe disseram: tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te chamam.
-Ele lhes respondeu: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
- E, perpassando o olhar pelos que estavam assentados ao seu derredor, disse Eis aqui minha mãe e meus irmãos; - pois, todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. (S Marcos ,cap.III, vv, 20, 21, e 31 a 35. – S Mateus, cap. XII, vv 46 a 50).

Os advogados, engenheiros, médicos, professores,
políticos (enfim, todos nós somos da mesma família!)...
Será que estamos fazendo a vontade de Deus?
Miguel_naufel@hotmail.com

(Será?)

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