Roberto Rillo Bíscaro
Depois de alguns anos filmando fora de sua amada Nova York – devido a questões econômicas, portanto, puramente materiais – o veterano diretor norte-americano Woody Allen voltou a ambientar sua mais recente produção na Grande Maçã. O resultado é o desanimador Whatever Works (2009)
Requentando temas recorrentes em sua filmografia, Allen abre o filme com o protagonista 60tão, Boris, conversando com amigos e supostamente com a audiência. Depois de descartar a validade de narrativas explicativas e totalizadoras como o marxismo e o cristianismo, Boris – físico que se considera um gênio – expõe sua misantropia e descrença no universo, o qual, segundo ele, é brutalmente determinado pelo caos, pela estupidez e pela gratuidade errática dos eventos. Perante esse estado de coisas, ele conclui que o indivíduo deve agarrar qualquer oportunidade de ser feliz, mesmo que por uma fração temporal porque é o máximo que se pode almejar da vida.
Boris é a repetição de várias personagens de filmes anteriores do diretor. Sua hipocondria e sarcasmo niilista me remeteram a Mickey, de Hannah and Her Sisters (1986) e suas elocubrações sobre física quântica a Lloyd, de September (1987); isso pra citar apenas 2 personagens!
Pouco depois, Melody, jovem sulista que fugira do repressivo ambiente religioso caseiro, pede comida e abrigo ao físico, que quase foi indicado ao Nobel. A diferença de idade e de educação das 2 personagens não impede que a exuberante jovem se apaixone e case com o mal vestido e manco Boris. Relações intergeracionais entre parceiros cujo desnível educacional e temperamental são abissais, também é velho tema de Allen. Frederick e Lee em Hannah... são exemplos disso.
Um ano se passa e os pais de Melody, cada um por sua vez, descobrem a filha vivendo em Nova York e vão para a cidade, onde têm suas antigas convicções conservadoras totalmente alteradas pelo contato com a cosmopolita Nova Roma. É Allen com sua eterna mania de glorificar o cosmopolitismo de Manhattan (NYC pra ele é Manhattan, ou não?), dialeticamente transformando-o em provincianismo... Uma personagem vira fotógrafa, outra assume suas tendências homossexuais, tudo fácil e rapidamente! Em Nova York tudo voa e tudo acontece!! Ela torna as pessoas “melhores”...
Ao final, como nas comédias-românticas, todo mundo tem seu par, todos estão aproveitando como podem os fugazes momentos de prazer da vida. Nada de errado com essa idéia; cada um deve mesmo ser feliz como pode e da maneira como funciona melhor pra ele/ela (daí o título do filme).
Acontece que os fatos narrativos desmentem a premissa tautologicamente pontificada durante a película: longe de representar um universo brutal e caótico, a simetria final acaba descambando pruma espécie de noção de auto-ajuda de que “o universo conspira a seu favor”.
Quase nada funciona em Whatever Works. Antes, autor de tiradas engraçadas (as “one-liners”, em inglês), desta vez Allen se saiu com diálogos repetitivos, que terminam por cansar. O melhor do filme fica por conta das atuações, especialmente da atriz Patrícia Clarkson, que interpreta Marietta, mãe de Melody.
Em tempo: a cena final é a chegada do Ano Novo, com todos os casais celebrando, inclusive o casal gay. Os heteros se beijam, ao passo que os gays trocam fortuito abraço no fundo do cenário. Nossa Glória Perez é mais cosmopolita que Woody Allen! Pelo menos, ela fez a cena do beijo gay pra novela América; se não foi ao ar, a culpa não é dela...
(Woody Allen também toca jazz.)
errado Hannah e suas irmãs e 'setembro' que repetem Boris, pois o roteiro desse filme foi escrito ainda nos anos 70 e esquecido por Allen e agora resolveu filmar. pesquise mais antes de criticar negativamente algo!
ResponderExcluircara, ninguém levou em consideração esse filme. allen podia te-lo esquecido pra sempre.