Hoje conheceremos um pouco sobre a carreira de Miguel Naufel como DJ!
Como tenho albinismo, me sinto mais à vontade à noite... Não tem o sol escaldante do dia e nem a claridade que me causam tantos desconfortos. A temperatura noturna é bem mais amena, portanto, mais confortável. Pode se dizer que sou um homem da noite...
Atualmente, tenho ficado todas as noites em casa. Mas, nas noites de minha adolescência procurava lugares para ir, principalmente nos finais de semana.
Mococa era uma cidade pequena: tinha um clube e poucos bares. Por isso, eu e alguns amigos resolvemos marcar uma reunião com a diretoria do clube, para promovermos alguns bailes. Depois de muita conversa, conseguimos o salão de bailes do clube, com um porém: o clube cederia o salão, mas não daria dinheiro para contratarmos a banda.
Bem, nós éramos estudantes de colegial. dinheiro que é bom, não tínhamos. Solução? Baile com fitas k7... Um tinha um gravador de fitas k7, outro tinha amplificadores de som, com caixas potentes, outro era expert em eletrônica e montaria um jogo de lâmpadas seqüenciais, que funcionariam no ritmo das musicas... Tudo combinado. Juntamos todo o equipamento de som em minha casa. Afinal, eu tomara a iniciativa e convencera a diretoria do clube a ceder o salão.
Combinamos de gravar as musicas em fitas K7. Musicas lentas, baladas... Cada musica no seu tempo...
Na sexta feira à noite, iríamos gravar as fitas, mas um foi namorar, outro foi beber, outro dormir... Fiquei sozinho na minha casa com todo o equipamento de som.
Eu havia me comprometido com a diretoria do clube em organizar tudo. Um amigo locutor da Rádio Clube de Mococa havia feito a divulgação do baile, que seria naquele final de semana.
E eu lá, sozinho, sem ninguém pra me ajudar a gravar as fitas!
Com uma lente de aumento, demorei algumas horas para ler os teclados dos gravadores. Lia as teclas e colava em cada uma o que cada tecla significava, com pedaços de fita crepe em letras bem grandes:
Play=toca
Record=grava
Com a mesma lente, lia e colava os adesivos, também com letras bem grandes, nas entradas e saídas atrás dos amplificadores e caixas de som.
Em um trabalho exaustivo - que durou toda a madrugada - liguei o equipamento de som. Na manhã do sábado, estava com os gravadores e os toca discos ligados. Naquela época, era disco de vinil... Escolhi as músicas marcando “vinil um, musicas 1, 4 e 5”, “vinil dois, músicas 6, 7 e 8”...
Ao meio-dia, estava com todas as canções marcadas em um papel com letras bem grandes. Comecei a gravar as fitas k7... Às 18:00, tinha gravado quatro horas de fitas, com musicas selecionadas para tocar no baile.
Quem conheceu esses toca-discos, sabe da fragilidade das agulhas... Elas deslizavam sobre o vinil, por isso, era enorme a a delicadeza que tínhamos que ter para lidar com o equipamento.
Quando meus amigos chegaram à minha casa, no sábado às 19:00, me ajudaram a levar todo o equipamento ao clube e eu dei as dicas para montarem tudo, pois havia ficado mais de doze horas fuçando e sabia manuseá-lo melhor do que qualquer um! Daquela noite em diante, foram mais de dez anos trabalhando com equipamento de som, como autônomo...
Sempre tinha um amigo para me ajudar. Para ler um contrato de serviço, para dirigir um carro, para montar o som em algum evento fora da cidade... Em todo equipamento que chegava a minhas mãos, eu colava as fitas adesiva nos painéis, com letras ampliadas.
Com o tempo, sabia e cor todo o manuseio dos teclados dos gravadores e amplificadores... Sem falar na facilidade que tinha para equalizar o som; tudo de ouvido:
Graves.
Agudos.
Médios...
Microfones, guitarras, baixos bateria, teclado etc.
Nunca usava o gráfico dos equalizadores, nem as escalas das mesas de som, pois não conseguia lê-los! Fazia tudo de ouvido mesmo... Mesmo quando fazia som para bandas ao vivo.
Mas, o tempo passou, a diretoria do clube foi mudando... Meus amigos foram se casando, alguns mudaram de cidade. Mococa crescia e não tive como continuar meu trabalho porque surgiram grandes profissionais na área. Afinal, minha deficiência visual fazia de mim um concorrente desigual...
Surgiam os computadores, os videocassetes, o CD, o DVD... A tecnologia exigia cada vez mais profissionalismo e minha baixa visão não me permitia acompanhar a tal desenvolvimento...
Sou fã dos tempos modernos; o computador faz parte de minha vida diária. A tecnologia faz com que eu – mesmo com minha deficiência visual - tenha acesso aos jornais e à escrita.
M permite comunicar com o mundo todo, de igual pra igual.
Pena que as empresas não usem destas novas tecnologias para poder contratar deficientes.
Miguel José NaufelMiguel_naufel@hotmail.com
(Em homenagem ao DJ Miguel e também a Malcolm McLaren, falecido esta semana. Que ingrata surpresa!)