terça-feira, 27 de abril de 2010

O FOGO DO MIGUEL NAUFEL

Outra deliciosa situação vivida pelo albino de Mococa (SP), Miguel Naufel.

O presente de aniversario:
Garçom, aqui nesta mesa de bar!


Vivíamos em mundos diferentes: eu trabalhando com som em festas e clubes. Chicão – meu melhor amigo - estava em Campinas, trabalhando com um primo no ramo de secos e molhados. Naquele tempo, não havia celulares. Só nos falávamos nos finais de semana.

Nas raras vezes em que nos encontrávamos, Chicão se mostrava diferente. Cabisbaixo, fisionomia triste, quieto... Não era mais o mesmo Chicão! Aquilo me incomodava muito.

Aquela sexta feira era sete de janeiro, meu aniversario! Encontramo-nos na porta do cine Mococa. Devido à baixa visão, tenho dificuldade em localizar pessoas na rua, mas Chicão sempre me achava. Ao lado do cinema havia uma choperia, o point da cidade.

Chicão disse:

– Migué, vamos tomar um chopp pra distrair, hoje é teu aniversario...

Acomodamo-nos na primeira mesa, bem na entrada do choperia, em frente a um orelhão que se localizava na calçada..

- Garçom, dois chopp!

Depois de alguns minutos:

- Garçom, Mais dois!

Chegaram alguns amigos.

- Garçom, mais chopp!.

Chicão pediu uma caipirinha de pinga pra esquentar.

Papo vai, papo vem e descobri que Chicão estava apaixonado por uma moça de Campinas. Segundo ele, uma garota de programa...

- Ela não quer namorar comigo, Migué!..

Depois de algumas horas, entre chopps, caipirinhas de pinga, risadas e muito barulho, o garçom, que era nosso amigo, recebeu ordens do dono do bar:

- Não atenda mais aquela mesa!

Chicão gritava:

- Garçom, garçom, garçom.

Nada. José Luiz, o garçom, nem olhava pra nós...

Chicão bateu de leve no meu ombro e me deu uma ficha telefônica. Apontando para o orelhão em frente ao bar, me disse:

- Telefona pro garçom e pede mais chope.

Respondi:

- Não sei o numero do telefone!

Chicão levantou a cabeça e leu no luminoso, fixado em um poste acima do orelhão. Ele me ditou o numero.

O telefone ficava no balcão do caixa. Levantei da cadeira, dei alguns passos, e, mesmo sem enxergar os muneros do teclado do telefone devido a minha baixa visão e aos vários chopes com caipirinha de pinga, disquei os números sem ler. Sabia de cor a posição deles...

De onde estava, ouvia o telefone tocar dentro do bar. Alguém atendeu:

–Alô!

- De onde falam?

- Da choperia.

- Gostaria de falar com o garçom José Luiz.

- Um momento..

Alguns segundos depois:

– Alô...

– É o garçom José Luiz?

– Sim.

– Olha pra rua! Tá me vendo aqui no orelhão?

José Luiz se virou para a rua e disse:

- Tô te vendo, Miguel.

- Então, traz chopp pra nós aqui na mesa, pomba!

Não preciso dizer que a noite terminou em gargalhadas e mais chopp, né??....

Chicão voltou a ser o mesmo. Foi meu presente de aniversario. Ter de volta o mesmo Chicão de sempre...

Miguel José Naufel
Miguel_naufel@hotmail.com

2 comentários:

  1. Olá, te vi na TV heimmmm, ficou lindo seu depoimento.
    E adorei esta comemoração de aniversário, quantos de nós precisamos de um "Chicão".
    Abraços apertados :)

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  2. Hi, a sua passagem pelo programa do Jô foi um acontecimento notável. A despeito do entrevistador revelar-se desinformado sobre o entrevistado,você se houve com leveza e distinção. Simplicio Rocha-Brasilia

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