Outra deliciosa situação vivida pelo albino de Mococa (SP), Miguel Naufel.
O presente de aniversario:
Garçom, aqui nesta mesa de bar!
Vivíamos em mundos diferentes: eu trabalhando com som em festas e clubes. Chicão – meu melhor amigo - estava em Campinas, trabalhando com um primo no ramo de secos e molhados. Naquele tempo, não havia celulares. Só nos falávamos nos finais de semana.
Nas raras vezes em que nos encontrávamos, Chicão se mostrava diferente. Cabisbaixo, fisionomia triste, quieto... Não era mais o mesmo Chicão! Aquilo me incomodava muito.
Aquela sexta feira era sete de janeiro, meu aniversario! Encontramo-nos na porta do cine Mococa. Devido à baixa visão, tenho dificuldade em localizar pessoas na rua, mas Chicão sempre me achava. Ao lado do cinema havia uma choperia, o point da cidade.
Chicão disse:
– Migué, vamos tomar um chopp pra distrair, hoje é teu aniversario...
Acomodamo-nos na primeira mesa, bem na entrada do choperia, em frente a um orelhão que se localizava na calçada..
- Garçom, dois chopp!
Depois de alguns minutos:
- Garçom, Mais dois!
Chegaram alguns amigos.
- Garçom, mais chopp!.
Chicão pediu uma caipirinha de pinga pra esquentar.
Papo vai, papo vem e descobri que Chicão estava apaixonado por uma moça de Campinas. Segundo ele, uma garota de programa...
- Ela não quer namorar comigo, Migué!..
Depois de algumas horas, entre chopps, caipirinhas de pinga, risadas e muito barulho, o garçom, que era nosso amigo, recebeu ordens do dono do bar:
- Não atenda mais aquela mesa!
Chicão gritava:
- Garçom, garçom, garçom.
Nada. José Luiz, o garçom, nem olhava pra nós...
Chicão bateu de leve no meu ombro e me deu uma ficha telefônica. Apontando para o orelhão em frente ao bar, me disse:
- Telefona pro garçom e pede mais chope.
Respondi:
- Não sei o numero do telefone!
Chicão levantou a cabeça e leu no luminoso, fixado em um poste acima do orelhão. Ele me ditou o numero.
O telefone ficava no balcão do caixa. Levantei da cadeira, dei alguns passos, e, mesmo sem enxergar os muneros do teclado do telefone devido a minha baixa visão e aos vários chopes com caipirinha de pinga, disquei os números sem ler. Sabia de cor a posição deles...
De onde estava, ouvia o telefone tocar dentro do bar. Alguém atendeu:
–Alô!
- De onde falam?
- Da choperia.
- Gostaria de falar com o garçom José Luiz.
- Um momento..
Alguns segundos depois:
– Alô...
– É o garçom José Luiz?
– Sim.
– Olha pra rua! Tá me vendo aqui no orelhão?
José Luiz se virou para a rua e disse:
- Tô te vendo, Miguel.
- Então, traz chopp pra nós aqui na mesa, pomba!
Não preciso dizer que a noite terminou em gargalhadas e mais chopp, né??....
Chicão voltou a ser o mesmo. Foi meu presente de aniversario. Ter de volta o mesmo Chicão de sempre...
Miguel José Naufel
Miguel_naufel@hotmail.com
terça-feira, 27 de abril de 2010
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Olá, te vi na TV heimmmm, ficou lindo seu depoimento.
ResponderExcluirE adorei esta comemoração de aniversário, quantos de nós precisamos de um "Chicão".
Abraços apertados :)
Hi, a sua passagem pelo programa do Jô foi um acontecimento notável. A despeito do entrevistador revelar-se desinformado sobre o entrevistado,você se houve com leveza e distinção. Simplicio Rocha-Brasilia
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