quinta-feira, 1 de abril de 2010

UMA POLACA DO BATUQUE


Roberto Rillo Bíscaro

Sade Adu, Corrine Drewery e Basia Trzetrzelewska trabalharam no mundo da moda ao mesmo tempo em que faziam backing vocals pra bandas influenciadas por sons latinos, jazzísticos e afins. No início dos anos 80, na Inglaterra. 3 mulheres chiques, sem dúvida. Adu explodiu em 84 e virou diva. Drewery teve alguns hits com seu Swing out Sister, continua chique até hoje e faz sucesso em círculos que curtem acid jazz, Burt Bacharach. É bastante popular no Japão.

A polonesa Basia juntou-se ao Matt Bianco em 1982. O grupo fazia jazz-pop, influenciado por bossa nova, jazz e ritmos caribenhos. Junto com Evertything But the Girl, Working Week e outros, foram juntados pela crítica britânica sob o termo New Bossa.

Matt Bianco teve música na trilha da novela De Quina Pra Lua (1985), embora os vocais não sejam de Basia, e sim do Danny White. Aliás, na mesma trilha havia With Everything to Lose, do Style Council, outra banda da New Bossa. O sambinha Half a Minute – esse com vocais de Basia – chegou a tocar por aqui também.

Em 1987, a moça levantou vôo solo e emplacou 2 álbuns que ganharam discos de ouro na Europa e EUA. A fórmula foi a mesma: produção lisinha e limpa, ênfase em bossa nova, samba, pitadas de Caribe. Música elegante,embora eu sempre achava que as baladas podiam ter um pouco de Burt Bacharach nelas. A maioria não me agrada tanto. O álbum de 93 falhou e Basia ficou anos sem lançar álbum de estúdio. Houve um ao vivo e diversas participações em projetos de outros artistas, como na radiante Springtime Laughter, do norte-americanos do Spryo Gyra. Em meados da década passada, uma agradável volta aos tempos de parceria com Danny, resultando em Matt’s Mood, típica new bossa, parecia que ainda estávamos nos anos 80. Nada contra, diga-se de passagem.

A carreira solo de Basia estava tão quieta que sua volta aos estúdios, em março do ano passado, passou batido pra mim! Não faz um mês, descobri o álbum It’s That Girl Again. Não sosseguei enquanto não o escutei, afinal, a voz da polaca é afinada e cheia de bossa.

A primeira faixa, If Not Now Then When, entrega o ouro: Basia mudou, mas muito pouco. Trata-se dum samba de gafieira com sax e tudo. Uma gostosura chique pra animar qualquer vernissage, coquetel ou jantar de 40tões sofisticados! A novidade é que a sonoridade é menos sintetizada do que aquelas dos anos 80, encharcados de teclados. Mudou pra melhor!

A cantora continua preferindo os ritmos brasileiros. Blame It on the Summer dá vontade de flanar pela orla de Ipanema com a Helô Pinheiro! (bem no finalzinha da tarde, pra evitar o sol, claro!). Two Islands oscila entre balada e samba agradável. Winners é sambão com cuíca, apito e tudo! Prum álbum com 13 canções, o Brasil mostra que continua com tudo pra batuquieira Basia!

Mas, também há o cha cha cha que vira meio rock no meio (I Must), a mudérrrrna Everybody’s On the Move, que é um dance funkeado. A cantora abre brecha pra cantar em polonês na interessante Amelki Smiech. Continuo achando que a voz de Basia merecia baladas melhores. Ah Burt, você faz falta nessa salada de influências! There’s a Tear, por exemplo, não ultrapassa o status de “bonitinha”, mera canção de fundo.
A canção final é a que nomeia o álbum. Balada sem graça, salva pelo vocal de Basia, como em quase todas suas demais baladas. Espero que a volta da garota, anunciada na canção, signifique também permanência. Tomara que Basia não fique tantos anos mais sem gravar.