Sabe aquelas cerimônias de casamento no religioso, onde o padre/pastor/pai de santo não pára de falar nunca e a gente não vê a hora que acabe pra ir pra festa se divertir e encher a pança? Ontem á noite, participei dum casamento assim, não no religioso. Foi ainda pior, a festa é que foi entediante! Ainda bem que não precisei sair de debaixo do cobertor pra participar, senão teria ficado mais contrariado do que fiquei.
É que assisti a Rachel Getting Married (2008), dirigido por Jonathan Demme. Não vi muitos filmes do diretor; na verdade, lembro-me de apenas 2: The Silence of the Lambs (1991), que catapultou Anthony Hopkins ao mega-estrelato e é excelente estudo de personagem, e Philadelphia (1993), oscarizada e sacarinada película que tem o mérito de trazer o tema da AIDS pra platéias maiores. Um de seus defeitos, porém, é que as personagens gays habitam um mundo familiar onde são plenamente aceitas, sem problemas, sem escaramuças. Isso levou um ativista gay mais ácido a dizer que a família de Demme podia ser daquele jeito, mas a da maioria que habitasse o mundo real não.
Se o crítico assistiu a Rachel Getting Married deve ter concluído que Demme vive literalmente em outro planeta e apenas vem à Terra pra dirigir filmes e entediar espectadores!
A trama é simples: Kym deixa a clínica de recuperação pra narco-dependentes à tempo de participar do casamento de sua irmã, Rachel. O filme nos mostra o dia que precede a cerimônia, o casório propriamente dito e a festa. Claro que as tensões familiares são deflagradas com a chegada de Kym e o diretor desperdiça a ótima chance de tratar do relacionamento agridoce entre as 2 irmãs e suas relações com os pais, tudo em nome de uma utopia (nesse caso, cheirando à ingenuidade tola) politicamente correta que se leva a algum lugar, só pode ser ao nada.
O noivo de Rachel é afro-descendente e isso vira desculpa pra uma série de cenas e falas que nada acrescentam – na verdade, emperram – ao fio dramático de Rachel, Kym e seu relacionamento, que apenas tem espaço entre monótonas cenas de personagens falando, falando, falando, falando. Gente que não fomos preparados pra nos importar e que sequer servem pra conhecermos as personagens que deveriam ser centrais.
Há um melhor amigo de descendência asiática, há um convidado que parece ser gay, a julgar pela fala estereotipada e há brancos de todas as idades. De crianças, só ouvi o choro de uma. Poder-se-ia escrever algo a respeito disso e da esterilidade que permeia o filme...
Durante a festa há uma longa sequência onde somos brindados com a diversidade sônica que também encontra abrigo na família de Rachel. Vários ritmos e estilos musicais são tocados na festa, afinal, o mundo irreal do diretor é aberto a tudo e a todos. De repente, eis que aparece um americano tocando apito e outras pessoas tocando tambor e uma passista de escola de samba, com pouca roupa, detalhes em verde e amarelo e tudo! Sério, eu não estava sonhando não! Eles aparecem do nada e ficam sambando pra nós por alguns segundos e o espectador se perguntando em que isso contribuiu pro enredo caminhar. Pior, o casamento é numa cidadezinha em Connecticut!! Passistas de GRES numa festa de casamento no provinciano interior branquelo da região nordeste dos EUA? Jonathan Damned!
Formalmente o filme se contradiz. O diretor escolheu uma câmera não-fixa, que invade salas e mostra rostos de perto; às vezes dá uma balançadinha. Mas, pra que essa intenção de querer mostrar as personagens mais familiar e intimamente se a todo momento a narrativa é quebrada pra que o diretor pudesse inserir seu proselitismo inclusivo, que nos afastava de Kym & Co?
Demme perdeu uma boa possibilidade de drama e também ótimos atores, que até fizeram muito nos poucos momentos em que o drama realmente decola. Os vôos não duram muito porém. São logo cortados porque o diretor precisa nos ensinar como viver em harmonia (embora quase nenhuma personagem negra tenha realmente algum DIÁLOGO no filme...)
Ah, eu já contei que há uma outra longa cena onde 2 personagens apostam pra ver quem consegue encher uma lavadora de louça em menos de 2 minutos? Interessante pra trama isso, vocês não fazem idéia!
Se a família de Rachel me convidar pralgum outro casamento, não irei. A chatice desse de ontem foi o bastante e vocês nem sabem da missa a metade!
(Por favor, pare esse casamento!)
sexta-feira, 28 de maio de 2010
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um filme só é óbrigado a ter lógica dentro de sua própria história. tu sabe se o diretor queria fazer uma história crível ao mundo real ou se ele quis mostrar aquilo que deveria ser?
ResponderExcluiraliás, eu ultimamente tenho preferido ver filmes que mostrem aquilo que deveria ser do que aquilo que é. pois, pelo que tenho visto, mostrar as como elas são não tem ajudado em nada e só serve pra aumentar ainda mais o preconceito...
pois cinismo e raiva é o que não falta às pessoas