No dia das mães, um relato emocionado de Miguel Naufel, a respeito de sua mãe. Aposto que vocês vão gostar!
A história é dedicada a todas as mães, quer sejam de filhos albinos, quer não; afinal, são todas mães!
Nasci em janeiro de 1959 em São Paulo capital. Era um bebê diferente: pele clarinha, cor de rosas, cabelos encaracolados branquinhos, os olhos quase não se abriam devido ao desconforto causado pela claridade. Meus pais moravam em um apartamento na Barra Funda, um bairro na capital.
Quando eu chorava, ligavam ao meu lado um radio com o volume bem baixinho; logo me acalmava.
Detesto sopas. Quando tinha que tomar, chorava tão alto que o prédio inteiro sabia que o bebê albino do apartamento 22 estava tomando sopa.
Nos meus primeiros passos, todos os objetos que representavam perigo a um bebê com baixa visão eram retirados do meu caminho.
Um ano depois do meu nascimento nasceu o Paulo, meu irmão. Mudamos para Mococa: interior do estado, terra natal de meu pai. Mococa era uma pequena cidade, onde nasceram minhas irmãs: Marilidia e Márcia: agora éramos 4 filhos, eu sou o único albino.
Logo comecei a brincar com os garotos na rua, de fronte a minha casa. Tinham muito medo que eu atravessasse as ruas e fosse atropelado por um carro. Uma vez fui atropelado por uma bicicleta... Nada grave, mas me serviu de lição... Eu tinha 6 anos.
Sempre que saia às ruas para brincar, um amigo mais velho era alertado: Cuidem do Miguel!
Na pré-escola minha professora foi informada de minha baixa visão e que eu não deveria me expor ao sol durante muito tempo.
No meu primeiro ano escolar descobri que meus cadernos eram diferentes dos cadernos de meus amigos. Eram de tamanho maior, papel verde com linhas grossas e bem largas. Eu sentava na primeira carteira da classe, bem ao lado da mesa da professora. As lições eram anotadas em meus cadernos em letras bem grandes com canetas especiais, de cores fortes.
Assim conclui o Ensino Fundamental. Naquele tempo, tínhamos que prestar exame de adimissão para entrar no colegial. Fase muito difícil de minha vida: muita depressão insegurança...... Terminei o colegial com 2 anos de atraso, estava com mais de 18 anos.
Surgiu uma oportunidade de trabalho. Teria que investir algum dinheiro no futuro. Meu pai foi convencido a me emprestar dinheiro; assim, Passaram-se mais 15 anos de minha vida...
Em 1986, uma crise econômica e outros fatores arruinaram minha vida profissional. Procurei me empregar em alguma empresa. Minha baixa visão me limita muito e não me encaixo no mercado de trabalho.
Meus irmãos se casaram e seguiram suas vidas. Meu pai faleceu em 1999. Eu tinha 40 anos. Comecei a mover uma ação civil contra o INSS pedindo minha aposentadoria, tentei cursar uma faculdade, não consegui... Lá se foram mais 10 anos de minha vida.
De meu nascimento ate os dias de hoje passaram-se mais de 51 anos. Durante todos estes anos ela sempre esta lá, sabe quando estou triste, quando estou alegre. Sorri quando sorrio, chora quando choro, corre quando eu chamo.
Viveu cada minuto dos meus 51 anos a meu lado. Nunca abandona nenhum de nos, sempre esta lá.
Não teve um segundo de férias, nesses 51 anos.
Lembro-me de um almoço em casa, uma de minhas irmãs sentou-se em meu lugar, por infantilidade, brigas de crianças: era a cadeira que ficava na cabeceira da mesa, era o meu lugar.
Ela falou:
- Sai daí, este é o lugar de teu irmão, ele se senta nesta cadeira ai. Ele fica de costas para a janela e a claridade não o incomoda.
Agora estou mais velho, não tenho a mesma saúde nem a mesma disposição da juventude.
Ela continua a mesma. Aqui a meu lado.
Não tenho como retribuir tudo àquilo que ela me dá. Estou vivendo aqui. Sob sua proteção.
Ela aceitou o bebe diferente.
Ela ligava o radio pra que eu me acalmasse.
Ela me obrigava a tomar sopa pelas vitaminas contidas nos legumes e verduras.
Ela retirava os objetos que poderiam me machucar nos meus primeiros passos.
Ela sempre alertava um amigo mais velho: Cuide do Miguel.
Ela informou minha professora na pré escola de minha baixa visão e que eu não poderia me expor ao sol durante um tempo muito longo.
Elase informou a respeito de meus cadernos, canetas e tudo mais, pra que eu pudesse freqüentar a escola.
Ela convenceu meu pai a investir dinheiro no meu futuro negócio.
Ela me levava nas consultas no oftalmologista.
Ela me amparou durante estes 10 anos de lutas no INSS.
Ela nunca abandonou a mim ou a nenhum de meus irmãos.
Ela é a maior prova da existência de Deus.
Hoje todos os dias é o dia DELA.
Deus lhe Page MÃE.
Não é fica com Deus, Mãe. É
continua com Deus, Mãe.....
Miguel José Naufelmiguel_naufel@hotmail.com
(O título desta postagem é a tradução do título duma canção da cantora britânica Kate Bush.)
domingo, 9 de maio de 2010
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Hoje vcs dois, seus danadinhos, me fizeram chorar aqui, lendo este texto! Tens toda razão, Miguel! um beijo para as mães que leem este blog e pra vcs dois, seus provocadores das lágrimas alheias!rs.
ResponderExcluirbjo
Emocionante! Mãe é mãe!
ResponderExcluirbjs
Fiquei a pensar no que é o milagre da vida e o amor incondicional de mãe.
ResponderExcluirParabens pelo texto.
Muito bacana o depoimento do Miguel, pessoa de DEUS com muito amor no coração.Parabéns Miguel, parabéns mamãe pela sua formação.
ResponderExcluirDeus abençoe a família toda.
Estava procurando um texto de homenagem às mães que não fosse os futeis de sempre.Encontrei.Vou postar em meu blog"blogdemazza"sem autorização..rsrsrsrsr
ResponderExcluirEstava procurando um texto de homenagem às mães.Taí...este é o que eu procurava.Vou postar em meu blog(blogdemazza)sem autorização... rsrsrsrs
ResponderExcluirFavor manter só um comentário...Por engano enviei dois.Grata e parabéns pelo trabalho no blog...
ResponderExcluirMIGUEL ... PARABÉNS ,NÃO SO PELO RELATO... MAS PELA MÃE MARAVOLHOSA ,QUE TE ENSINOU SER O QUE VC É HOJE!
ResponderExcluirLENA LEITE
Nossa sem palavras!!!
ResponderExcluirLINDA!