GLOBO MAR E OS ALBINOS DA ILHA DE LENÇOIS

Quinta feira, a Rede Globo levou o tema do albinismo novamente para a telinha e o resultado foi muito bom.

O programa Globo Mar tratou da região das reentrâncias maranhenses, área fascinantemente complexa em termos de biodiversidade e também em nível cultural.

A primeira parte do documentário enfocou a região litorânea do manguezal e apresentou um diário de bordo resumido da viagem da equipe global, acompanhada pelo cantor Toni Garrido. Chapante a coloração escarlate dum pássaro chamado Guará. A repórter Mariana Ferrão deliciosamente afirmou que a cor era quase escandalosa, de tão bela. Um achado de afirmação (adoro tiradas bombásticas!).

A segunda parte chamou mais minha atenção como blogueiro e ativista pela causa albina, afinal, centrou-se na Ilha de Lençóis e sua forte concentração de pessoas com albinismo. Dado que o programa propunha-se a uma visão panorâmica de região tão extensa e diversa, penso que dedicar metade dele à ilha dos “Filhos da Lua” foi mais um triunfo de nossa luta por visibilidade.

A repórter mostrou alguns aspectos do imaginário místico que envolve a ilha e tangenciou o modo como a lenda do sebastianismo informa a visão que os ilhéus possuem do local.

A curta duração do Globo Mar não permitiu que o tema fosse aprofundado, mas Mariana Ferrão não se esqueceu do fato que para mim é o mais importante. Ela afirmou que os albinos vivem num local de calor e sol escaldantes, mas que, apesar disso, não contam com distribuição de protetor solar, acrescentando que o produto é muito caro. Ponto para a produção: além de informar, o programa reiterou a necessidade de que algo seja feito para reverter esse quadro. Não pude deixar de pensar que a mobilização das pessoas com albinismo possa ter influenciado esse comentário da repórter.

Gostei bastante da abordagem nada sensacionalista em relação aos albinos da ilha. Definiu-se albinismo, apresentou-se a possibilidade de que a endogamia seja o fator determinante da alta taxa da característica em Lençóis, mostrou-se a dificuldade enfrentada e exibiram-se imagens de albinos dançando reggae e nadando. Nada daquele clima de ”curiosidade”, beirando o freak show.

Parabéns á equipe do Globo Mar por esse acerto de foco e pelas belíssimas imagens captadas. Imagino o quanto não deva ter ficado de fora, por conta da necessária edição para tornar o programa do tamanho exato para exibição.

Novamente, cobro a produção de um Globo Repórter específico sobre albinismo. A emissora é poderosa e tem plenas condições de ir até à Tanzânia também. Sem contar com o que está ocorrendo aqui no Brasil. Daria um programa maravilhoso, não acham?

(Em homenagem à produção do Globo Mar.)