quinta-feira, 17 de junho de 2010

O AMOR E SEU(S) OPOSTO(S), SEGUNDO TRACEY THORN


Roberto Rillo Bíscaro

No início da década de 80, 2 universitários ingleses – Bem Watt e Tracey Thorn - formaram o  Everything But the Girl, que durante sua longa carreira, incursionou pelo pop, folk, samba, jazz, até desembocar no trip-hop e drum’n’bass de sua última fase, já na virada do século.
Além dos arranjos sofisticados e letras tangenciando temas políticos e amorosos, destacava-se a voz quente de Tracey Thorn. Basta conferir sua participação no álbum Café Bleu (1984), do Style Council. The Paris Match, esfumaçada à la Chet Baker, atinge as vias do sublime com os vocais de Tracey. Dói de tão chique.
No Brasil, o EBTG foi um prazer para poucos na década de 80. Sade, Style Council, Matt Bianco – representantes do que aqui se chamou New Bossa – chegaram a ser tema de novelas globais. Não lembro disso ter ocorrido com a dupla Watt-Thorn. Apenas quem tinha grana pra comprar edições importadas ou ouvia as chamadas FMs “alternativas” conhecia o grupo. Aqui, eles estouraram com Missing, do álbum Amplified Heart, de meados da década de 90, quando iniciava sua fase eletrônica.
Depois de Temperamental (1999) a dupla silenciou. Embora ainda vivam juntos, Ben e Tracey não gravam como EBTG desde então. À parte, algumas colaborações aqui e ali, Tracey Thorn ficou criando seus 3 filhos e não lançou álbum até 2007, quando saiu Out of the Woods, bastante salpicado de elecronica.

Mês passado, Tracey lançou Love and Its Opposite, ainda informado pelo electro-pop, mas agora temperado com momentos que lembram o EBTG pré-drum’n’bass/trip-hop.
O álbum abre com Oh, the Divorces, misto de valsa com canção de ninar, que começa ao piano até incorporar cordas. Thorn reflete sobre a quantidade de divórcios a seu redor (And this one is different/And each one of course is/And always the same) e questiona se o próprio coração está em mãos seguras. Parece que sim, Bem e Tracy até se casaram há pouco, depois de 30 anos juntos. Em 1985, Phil Collins já se perguntava por que ninguém ficava mais junto... Tracy, uma década mais jovem que Collins, se deu conta disso agora.
Singles Bar, com sua melancólica levada folk, fala com sensibilidade sobre os medos, dúvidas, inseguranças e desejos de uma mulher madura que passa boa parte de seu tempo procurando alguém em um bar para solteiros. Can you guess my age in these jeans? Can you tell me what any of this means? A canção termina com a questão que parte o coração: Can you smell the fear? Medo da solidão. Thorn não julga a personagem, a maturidade a fez compreender os subterfúgios usados para mascarar a falta de amor.
O ponto alto do álbum é Hormones, onde a cantora estabelece uma comparação entre uma mulher na menopausa e uma adolescente. A letra inicia com Yours are just kicking in/mine are just checking out e segue comparando os diferentes estados emocionais e comportamentais das 2 etapas da vida até chegar à pergunta da garota a respeito de porque se sente daquele jeito. A mãe apenas balança a cabeça e diz “Hormones, babe.”, e repete os versos iniciais. Outono e primavera dialogando. Mas, o clima não é de velório. A melodia brejeira exala o aroma das flores. Uma estação não é melhor que a outra, apenas distintas. Dá vontade de sair saltitando por entre eucaliptos...
A lingüística nos ensina que não existe sinônimo perfeito. Sendo assim, não deve haver apenas um antônimo para as palavras. O oposto de amor, indicado pelo título do álbum, não é apenas ódio. Certamente varia de acordo com a significação que se empreste ao termo amor. Pode ser solidão, separação, medo, insegurança... Quem sabe até morte? Tracey canta sobre diversos amores e distintos opostos num álbum maduro e coeso, que reúne pontas a princípio tão opostas como folk e eletrônica.
Love and Its Opposite é prova de que Tracey Thorn ainda tem muita coisa relevante a dizer. Ao contrário da alfinetada da letra de Oh, The Divroces, onde deseja “bad karma” prum marido galanteador, só posso pedir por um ótimo karma pra ela.

Um comentário:

  1. Ola albino conheço eles desde que lancaram o album Love Not Money. pra mim um dos melhores da musica em geral. Não curto muito a fase eletronica. mas foi uma grande banda. Um abraço e obrigado por dar noticias dessa banda.

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