Nesta quarta-feira, o escritor Cristovão Tezza vem à Penápolis participar de um debate na Biblioteca Municipal. Isso me motivou a ler o fartamente premiado O Filho Eterno, publicado em 2007, pela editora Record.
O Filho Eterno é, dentre outras coisas, sobre um pai jamais nomeado, que tem a surpresa de ter um filho com Síndrome de Down. Como o nascimento ocorreu no início dos anos 1980, o narrador usa a expressão mongolismo/mongolóide. O desespero do pai é flagrante: homem dedicado às letras, gerou um filho que jamais conseguiria desenvolver noções corriqueiras como tempo e espaço, quanto mais aprender a ler e escrever.
O Filho Eterno é, dentre outras coisas, sobre um pai jamais nomeado, que tem a surpresa de ter um filho com Síndrome de Down. Como o nascimento ocorreu no início dos anos 1980, o narrador usa a expressão mongolismo/mongolóide. O desespero do pai é flagrante: homem dedicado às letras, gerou um filho que jamais conseguiria desenvolver noções corriqueiras como tempo e espaço, quanto mais aprender a ler e escrever.
O livro é de uma sinceridade louvável. Sabendo que pessoas com a síndrome podem morrer mais facilmente, o pai não esconde o desejo de que isso aconteça ao filho. E logo, para se ver livre do fardo e começar de novo.
O toque autobiográfico da obra é flagrante, posto que Cristovão Tezza tem um filho com Síndrome de Down.
A narrativa alinhava habilmente os percalços, experiências e a convivência com Felipe – o filho é o único que tem nome – com as experiências do pai como aspirante a escritor, ator itinerante de teatro e imigrante ilegal na Alemanha.
De linguagem densa e rica em citações intelectualizadas, a narrativa atinge vôos mais emocionantes quando Tezza salienta menos sua identidade de professor universitário da área de letras e entrega-se à identidade de contador, de narrador. Ele emociona, faz rir e pensar quando escreve sobre a longa negação da diferença de Felipe, sobre o trabalho no hospital alemão, sobre os brutais tratamentos de adestramento da criança. E encanta quando dá voz a Felipe e, aos poucos, percebemos que aquele menino que viverá sempre no presente eterno conquistara o coração do pai; mas sem descambar para a facilidade da aceitação da diferença ocultando certos mal-estares que a vida em sociedade apresenta. O processo é muito sutil, composto de idas e recuos, jamais saltando miraculosamente de um estado a outro, absoluto e totalmente bem resolvido.
Às vésperas da Copa do Mundo, o papel do esporte me foi revelador. Depois de confessar que, apesar de todas as mazelas e acusações (ingênuas) de fator alienante, o pai é vidrado em futebol, o narrador conta os visíveis progressos de Felipe no que diz respeito á percepção temporal e espacial, precisamente porque se interessava demais por futebol. As tabelas, campeonatos e a própria necessidade de fidelidade a um único time trouxeram resultados impressionantes. Pai e filho irmanam-se assistindo às partidas do Atlético Paranaense. É quando percebemos que, afinal, o “normal” e o “diferente” não são tão diferentes assim. E isso é muito bom.
(Pro Tezza e pro Felipe!)
O toque autobiográfico da obra é flagrante, posto que Cristovão Tezza tem um filho com Síndrome de Down.
A narrativa alinhava habilmente os percalços, experiências e a convivência com Felipe – o filho é o único que tem nome – com as experiências do pai como aspirante a escritor, ator itinerante de teatro e imigrante ilegal na Alemanha.
De linguagem densa e rica em citações intelectualizadas, a narrativa atinge vôos mais emocionantes quando Tezza salienta menos sua identidade de professor universitário da área de letras e entrega-se à identidade de contador, de narrador. Ele emociona, faz rir e pensar quando escreve sobre a longa negação da diferença de Felipe, sobre o trabalho no hospital alemão, sobre os brutais tratamentos de adestramento da criança. E encanta quando dá voz a Felipe e, aos poucos, percebemos que aquele menino que viverá sempre no presente eterno conquistara o coração do pai; mas sem descambar para a facilidade da aceitação da diferença ocultando certos mal-estares que a vida em sociedade apresenta. O processo é muito sutil, composto de idas e recuos, jamais saltando miraculosamente de um estado a outro, absoluto e totalmente bem resolvido.
Às vésperas da Copa do Mundo, o papel do esporte me foi revelador. Depois de confessar que, apesar de todas as mazelas e acusações (ingênuas) de fator alienante, o pai é vidrado em futebol, o narrador conta os visíveis progressos de Felipe no que diz respeito á percepção temporal e espacial, precisamente porque se interessava demais por futebol. As tabelas, campeonatos e a própria necessidade de fidelidade a um único time trouxeram resultados impressionantes. Pai e filho irmanam-se assistindo às partidas do Atlético Paranaense. É quando percebemos que, afinal, o “normal” e o “diferente” não são tão diferentes assim. E isso é muito bom.
(Pro Tezza e pro Felipe!)
Professor. Sua reflexão sobre a livro do Tezza é interessante e convidativo para quem não ainda saboreou essa leitura. Li e também gostei da escrita e da magia produzida por essa literatura premiada.
ResponderExcluirPartilho da opinião do CAVERNA...achei muito interessante e senti vontade de ler o livro....
ResponderExcluir