Cego há 14 anos dirige filme com auxílio de sons e bengala
O Fantástico acompanhou os bastidores de um projeto original. João Júlio Antunes é o diretor. Ele ouve a cena, mas não enxerga.
“Cego? Como assim, um diretor cego? Mas a primeira reação que veio foi: eu preciso ver como isso funciona”, disse o ator João Campos.
O diretor usa os sons e tão fundamental quanto a câmera é a bengala. “Minha bengala tem 1m30, eu mais ou menos tenho essa noção. As pessoas ficam sem entender como eu meço os espaços”.
A equipe descreve para ele como vai ficar a imagem em todas as cenas. “Os olhos dele são os meus olhos”, diz o diretor.
“Eu estou criando a imagem do imaginário dele. Eu tenho que entrar na mente dele e ele dizer: ‘Eu quero isso’”, explica o diretor de fotografia Cláudio Luis de Oliveira.
João, de 44 anos, sabe o que quer. Cego há 14 anos, ele tem a memória repleta de imagens. Um grande branco é como João descreve sua visão. A dificuldade para enxergar começou na adolescência.
“O médico falou que tinha alguma coisa errada. ‘Até os 45 anos, você vai estar cego’. Eu fiquei cego com 30”.
João e os irmãos têm uma doença chamada retinose pigmentar. Uma das partes do olho é a retina, formada por células que recebem a luz. Na doença, essas células morrem aos poucos.
A visão periférica é a primeira a ser comprometida. A retinose pigmentar atinge uma em cada cinco mil pessoas e em metade dos casos pode passar de uma geração para outra.
“Alguns pacientes continuam com uma visão útil”, diz a genética ocular do HC - USP Simone Finzi.
A paixão pela arte é antiga. João era ator de teatro, mas a mãe, antes de morrer, há 20 anos, fez um pedido: “Você jura que você vai largar esse tal de teatro? Isso não dá camisa pra ninguém!”.
Ele também sofre de pressão alta, o que comprometeu seus rins. Em meio a uma crise, sonhou com a mãe.
“Aí eu falei: ‘Essa é a autorização pra eu voltar ao que eu gosto de fazer, cinema e teatro’. E aí foi quando eu comecei a correr atrás do meu sonho”.
‘Uma vela para Deus e outra para Beto’ é um filme simples e barato, com patrocínio público. A grande inovação do filme, que é feito todo em Brasília, é a possibilidade de inclusão de pessoas com deficiência. Isso acontece tanto no set de gravações, com um diretor cego, uma atriz cadeirante, quanto nas salas de cinema.
Haverá descrição falada das cenas para os cegos e linguagem de sinais para os surdos. “Mas não é um filme feito pra deficientes. É um filme feito pra todo mundo!”, esclarece o diretor.
“Acho que a arte tem um pouco essa função de quebrar limites. A visão é um detalhe”, finaliza João Campos.
(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=29528)
(No escurinho do cinema.... Provavelmente, assisti a esse Globo de Ouro...)
quarta-feira, 28 de julho de 2010
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