sexta-feira, 2 de julho de 2010

MENINO SUPERPODEROSO

Os Superpoderosos
"É duro ser ignorado ou mesmo que finjam que não estou presente."

Jairo Marques


Complicado admitir isso publicamente por causa da repercussão que pode dar e dos favores que vão me pedir, mas vamos lá: tenho um superpoder, o da invisibilidade. Diversas vezes, não notam a minha presença nos lugares e não falam comigo.
Pessoas com deficiência e idosos, de forma geral, ganham dons sobrenaturais. Os cegos podem ficar resistentes ao som, pois há quem fale com eles gritando. Os velhinhos voltam a ser crianças e são tratados com "gut gut" e mimos. Já os surdos passam a ser imunes a emoção. Pode-se falar o que bem quiser na presença deles, afinal, eles não ouvem, logo não sentem.
Um dos locais em que meu superpoder mais se manifesta é em centros de compras. Entro na loja, rodo, me enrosco nas roupas e ninguém me vê nem me atende.
Minha invisibilidade, em alguns casos, é tão grande que, quando estou acompanhado, escolho lá uma pula brejo qualquer para comprar, experimento e, quando me dirijo ao caixa, é para quem está comigo que perguntam: "Vai ser com cheque ou com cartão?". Isso também é comum em bares e restaurantes: "Ele vai comer o quê?".
Já entrei no Museu Rainha Sofia, em Madri, sem que me falassem nada nem pedissem ingresso, como é feito com os outros visitantes. Fui considerado café com leite. Se tivesse uma pochete de turista um pouquinho maior, "Guernica", do Picasso, correria sérios riscos.
É duro ser ignorado ou mesmo que finjam que não estou presente. Talvez o fundo disso seja o conceito errado de que cadeirantes não falam ou mesmo que terão reações estranhas quando abordados.
Entendo que haja receio e uma falta de, digamos, habilidade para rolar uma interação entre uma pessoa com deficiência e um "mortal" comum. Mas o pior dos mundos é imaginar que quem tem algum tipo de limitação física ou sensorial não pode nada, é um estropício.
Mesmo nos casos de deficiências severas, as pessoas, à sua maneira, se comunicam, atuam em sociedade, são capazes de manter relação com o outro. Basta querer entendê-las. E outra: elas sabem que estão "em desvantagem".
Então, afora exceções, cegos podem ouvir perfeitamente. Não é preciso berrar no ouvidos deles. Os surdos são capazes de entender a comunicação dos falantes. E, por fim, cadeirantes podem interagir.

(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=29267 )

(O power pop século XXI da banda gaúcha Wonkavision.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário