Mamãe conta que, quando criança, havia uma mulher famosa na cidade porque nunca parava em casa. Andava todo o tempo, e, por isso, sabia de tudo o que acontecia. Como acontece em cidadezinhas, tornou-se figura folclórica. Chamava-se Gabriela. O nome próprio transformou-se em verbo na comunidade e gabrielar virou sinônimo pra bater perna. 60/70 anos depois, mamãe ainda diz que alguém está gabrielando, ou que alguém parece a Gabriela. Agora, ela tem que contextualizar o termo senão ninguém entende.
Semana passada, gabrielei um bocado. Além das viagens à Birigui pra lecionar, tive que ir à Araçatuba, na quinta, pra renovar o passaporte. Sorte que na Argentina aceitam o RG de brasileiros, caso contrário estria frito. Percebi que o passaporte estava vencido apenas na véspera da viagem!
Araçatuba é a cidade grande da região e fica a uns 50 minutos daqui. Quase nunca vou lá, então, não fazia idéia donde fica a Polícia Federal. Essas coisas não me metem medo mais, porém. Antes, ficava aflito e receoso de como encontraria o caminho. Sempre se dá um jeito. Todo mundo fica um pouco ansioso quando tem que ir a locais com os quais não tem familiaridade. Visão baixa é empecilho, mas não é motivo pra não sair de casa. Na verdade, quando desci na rodô, vi um cego saindo do prédio. Se ele estava lá botando a cara no mundo, por que eu, que ainda enxergo, recearia?
Meu plano era pegar um moto-táxi. Sempre há algum perto de rodoviárias no interior, e, mesmo que não houvesse, alguém sempre tem o fone de algum.
Não precisei. No caminho, enviei mensagem a um amigo que vive na cidade e ele me respondeu que estava em um hipermercado ao lado da rodô; eu que fosse até lá encontrá-lo. Oba, vou ganhar carona até a PF, pensei. Quando o busão parou, Carlos Eduardo estava me esperando na plataforma. Não sou bobo de negar que me facilitem a vida: se não tive que procurá-lo, melhor. Se bem que mesmo que tivesse ido ao mercado, certeza que seria ele a me achar, afinal, chamo mais a atenção! Melhor pra mim...
Enquanto conversávamos na frente do prédio, um moto-taxista estacionou pruma moça descer. Imediatamente, pedi o cartão dele com o celular. Pronto, tudo resolvido. Quando tiver que retornar pra buscar o documento já tenho moto-táxi pra chamar, quando terminar.
E sabem do que mais? Quando o ônibus entrou na cidade, vi que passa em frente ao prédio da Polícia. Não precisarei ir à rodô; pedirei ao motorista do ônibus que dê uma paradinha pra eu descer. Se ele o fizer, economizarei uma corrida de moto-táxi...
Na hora de tirar a foto pro passaporte, grata surpresa. Um funcionário se aproximou da moça que me atendia e instruiu-a sobre como regular a luminosidade do programa de computador pra tirar fotos de pessoas albinas. Ele me explicou que em experiências passadas com albinos, o programa recusava as fotos com a luminosidade padrão porque devido á nossa alvura, o fundo branco e à própria luz da câmera, os rostos albinos ficavam indistinguíveis. O simpático jovem me confidenciou que aos poucos aprendeu a regular a luz corretamente pra peles muito brancas. Não que o programa ofereça tal possibilidade, fiquei sabendo. Mas, ele descobriu que botando a mão numa das lâmpadas, a foto fica adequada. É o famoso jeitinho brasileiro, concluiu sorrindo. E eu sorri de volta e agradeci. Bom ter nossas especificidades reconhecidas e tratadas como se deve. Melhor ainda, sair bonito na foto!
Esta semana também gabrielei muito e na próxima gabrielarei mais porque tenho que buscar o passaporte.
Em breve, contarei tudo sobre todas as gabrielices, mas antes, fiquemos com Gal Costa cantando a Modinha pra Gabriela. Super brejeira!
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
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