Roberto Rillo Bíscaro
A francesa Emilie Simon lançou uns 2 álbuns em seu país antes de ganhar reconhecimento mundial pela trilha sonora do documentário A Marcha dos Pingüins. Sua voz doce e algo infantilizada servia de complemento pra canções meio trip-hop, indie rock, pop. Agradável e bonitinho.
Há algum tempo, deu a louca na moça e ela se mudou pra Nova York (Chinatown) e gravou um álbum inteiro em inglês. O resultado dessa mudança pode ser ouvido em The Big Machine (2009), provavelmente uma alusão à Big Apple. A alteração de local, porém, veio acompanhada de uma viagem no tempo. Parece que Simon se mudou pra Londres do inicio dos anos 80!
The Big Machine soa como uma coleção de out-takes e B sides de Kate Bush. Já ouvi gente comparando-o a Tori Amos, mas quem faz isso esquece ou não sabe que a norte-americana também foi influenciada pela inglesa (embora no caso de Amos não se possa falar em cópia porque a artista tem seu caráter particular) .
A despeito de pitadas de contemporaneidade em algumas faixas, a cantora inglesa era mais moderna em 1985 (ano do soberbo The Hounds of Love) do que a francesa em 2009. Na verdade, a sonoridade de Emilie Simon remete aos álbuns de Bush de 79/80. Basta conferir a faixa Nothing to Do With You, que abre com teclados saídos do Genesis de Three Sides Live (1982) e clima e vocais que poderiam tranquilamente pertencer a Never For Ever, álbum de 1980, de Bush.
Imagino se Kate Bush não ganharia a causa em um processo de plágio contra Simon, porque os vocais por vezes são idênticos aos da mestra britânica. Aliás, Simon faz uso de alguns maneirismos vocálicos que Kate abandonou faz tempo.
The Big Machine me agradou de maneira bastante estranha. Gostei porque de certa forma me veio como uma dose inesperada (e deteriorada, claro) de Kate Bush, uma de minhas artistas favoritas. Entretanto, essa me parece uma razão equivocada pra se gostar de um álbum. É como se algum amigo 60tão me dissesse que gosta de minha amada Joy Division porque lhe lembra Elvis Presley! Quem não conhece a banda inglesa não se engane, os 2 artistas nada tem a ver um com o outro. Foi apenas um exemplo... Os vocais pós-punk de Ian Curtis são bem distintos da voz mais “certinha” de Presley. E eu sou da geração pós-voz certinha... Eu curto mesmo quando os mais velhos acham que Joy Division “não é música”! Me faz sentir pertencente a uma geração distinta da deles. Questões identitárias...
Fico imaginando a qual público The Big Machine se dirige. Mesmo gostando do álbum, não há comparação com a obra original e complexa de Bush, afinal, tudo o que Emilie Simon fez, a inglesa fizera há 30 anos! Será que a moçada mais jovem se interessará por essa sonoridade tão datada, que La Bush deixou pra trás há tantas décadas?
O problema não é meu, é de Emilie, mas, por mais que o álbum tenha me agradado, ele é um passo atrás. Talvez a moça devesse aposentar a máquina do tempo (será que é essa a tal Big Machine?) e buscar inspiração na cena nova-iorquina de agora ao invés de se refugiar numa Londres que deveria existir apenas na memória de 40tões como eu!
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