Roberto Rillo Bíscaro
O cinema e a TV não se cansam de adaptar as obras da escritora inglesa Jane Austen. Pensemos no romance Emma. Sem pesquisar, posso citar as adaptações da BBC em 1972 e 1996; a versão de Hollywood com a etérea Gwyneth Paltrow, também de 96; além da modernização da história, no filme As Patricinhas de Beverly Hills (1995).
Por que tantas? Creio que a resposta é simples: porque há público. As pessoas não se cansam de buscar refúgio na ruralidade algo aristocrática e irônica da Inglaterra de inícios do século XIX. Pra muitas pessoas, personagens como Mr. Woodhouse, Mr e Mrs. Elton, Jane Fairfax, Mr Weston e Frank Churchill são quase como velhos amigos. Sabemos o que dirão, como reagirão, conhecemos seus defeitos, mas, mesmo assim não enjoamos deles e sempre queremos sua companhia. Sentimos sua falta quando ausentes por algum tempo; por isso, às vezes, os procuramos pruma revisitada. Eles nos trazem o conforto dum mundo que já nos é familiar e onde nos sentimos e “em casa’.
Ano passado, a BBC exibiu outra mini-série baseada na historia da mimada, fofoqueira, inteligente e ingênua Emma. Pra alguns, nova chance de encontrar velhos amigos ficcionais, pra outros, oportunidade de conhecê-los e provável garantia de querer reencontrá-los de tempos em tempos.
A rica Emma Woodhouse decide que não quer se casar pra poder cuidar do pai, hipocondríaco. Pra compensar a solteirice, planeja atuar como cupido, com resultados desastrosos. O romance narra o amadurecimento da jovem, que tem o amor embaixo do nariz, mas não o enxerga.
À parte o tão celebrado amadurecimento da heroína, Austen caracteristicamente nos dá lição de mestre sobre o desejável das relações amorosas se manterem o mais dentro possível dos limites de cada classe social. O desastroso experimento matrimonial que Miss Woodhouse faz com a bastarda e pobre Harriet Smith, tentando casá-la com Mr. Elton, é exemplar. Emma persuade Harriet a recusar o pedido de casamento do fazendeiro Robert Martin, considerado simplório demais. Mr. Knigthley tenta em vão abrir os olhos de Emma pro abismo social entre Harriet e Elton. Segundo o Knightley, o “simples e honesto” Martin é bom demais pra Miss Smith, que não possui “renda ou conexões”. Ao final, cada macaco fica no seu galho: Smith e Martin ficam juntos: os 2 sobrenomes são os mais comuns da língua inglesa.
Sandy Welch, roteirista dos 4 capítulos desta Ema 2009 obviamente respeita a historia clássica de Austen, mas insere muitas cenas não escritas pela autora, o que alarga e aprofunda algumas personagens, mas pode ter despertado a ira dos austenmaníacos mais radicais, que cobram total fidelidade ao livro.
Romola Garai transmite com muito olho e boca a inteligência ainda imatura e ingênua de Emma. Embora bom ator, a aparência jovial de Jonny Lee Miller (Mr. Knightley) não combina com a diferença de 18 anos que separa o par romântico. Sir Michael Gambon - o Albus Dumbledore dos filmes de Harry Potter – está perfeito como Mr. Woodhouse, que ganhou mais espaço nessa adaptação. De quebra, o elenco sempre competente, prata da casa da BBC.
As produções inglesas, porém, deveriam adotar uma lei proibindo a filmagem duma grande árvore no meio dum campo vazio. Pelo menos por uns 10 anos. Todo filme inglês tem essa cena. Já devo ter visto todas as grandes árvores solitárias do campo inglês sem jamais ter pisado no país!
Novamente, essa inglesada, com trajes antiquados e rodeios intermináveis pra falar, veio pra conquistar corações e matar saudades. Pelo jeito, enquanto metade do planeta ainda mantiver os mesmos sonhos românticos dos contemporâneos de Jane Austen, continuarão retornando. E eu verei de novo, afinal, esses velhos conhecidos ficcionais fazem parte da minha história. E de muita gente mais, que ri e se emociona com eles.
(Parece que alguém picotou a série e a disponbilizou. Não garanto que esteja completa, porque não a vi no You Tube. Mas, deve estar. Sem legendas.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário