Nosso blog é bastante acessado nos demais países de língua portuguesa, especialmente na pátria-mãe, Portugal. Desse modo, é com prazer que publico a primeira história de uma pessoa albina daquele país. Trata-se de Antonio Figueiredo, os qual dou as calorosas boas vindas merecidas à nossa comunidade.
Lembrando que este espaço está sempre aberto a receber e publicar histórias de pessoas com albinismo, que sempre fazem muito sucesso, vide o caso da alta popularidade dos textos constantemente enviados pelo Miguel Naufel.
Sem mais delongas, vamos à narrativa do Antonio.
Sou uma pessoa com 39 anos de idade, fiz universidade em ciências de educação e actualmente estou a fazer mestrado em educação especial na área das dificuldades da aprendizagem. Encontro-me a leccionar numa escola de educação especial e do ponto e vista social penso que estou relativamente integrado. Isto não significa que não seja discriminado, ainda hoje não lido bem com algumas situações quotidianas. Posso exemplificar com idas ao cinema, quando refiro que tenho necessidade de ficar nas filas da frente, as reacções nem sempre são as melhores. Quando se trata de consultar mapas ou ler informações, pensam que estou a ser preguiçoso. Confesso que muito poucas pessoas têm noção das minhas reais dificuldades de visão e sinceramente não faço nada para mudar. Até nas aulas de mestrado ouvi comentários depreciativos de uma professora afirmando que esteve até às 3 ou 4 horas da manhã a preparar actividades por minha causa, no meio de uma aula. Isto ocorreu por mais que uma vez. Realmente não está a ser fácil, até já equacionei desistir! Vamos ver…
Relativamente à minha infância foi muito complicado, foi alvo de discriminação, insultos, acusado de me estar a aproveitar da minha incapacidade visual para ser beneficiado nos resultados. Penso que é comum a todos os albinos... Chegava ao ponto de rejeitar auxílio para não ser alvo de comentários depreciativos. Foi muito difícil. Eu adorava jogar futebol, só que quando o número de jogadores era ímpar, bom, lá tinha eu de ficar de fora. Uns anos mais tarde, deixei de jogar, pura e simplesmente.
Já na idade adulta, houve melhorias significativas. Depois de nos primeiros anos de faculdade ter muitos problemas em ler os documentos, lá consegui uma lupa de ampliação com a qual comecei a devorar livros. Os resultados passaram de suficiente para muito bom. No primeiro ano de mestrado tive media de 18 valores.
Paralelamente a tudo isto, contraí matrimônio e dai resultou uma linda filha (não é albina), hoje com 16 anos. Nesta altura sou divorciado, mas naturalmente irei voltar a casar no futuro. Tenho como hobbies a leitura, informática, yoga e as viagens. Com o tempo fui-me habituando a viajar para fora do país. Faço imensas viagens, umas a título pessoal outras de âmbito profissional, visto que sou um dos impulsionadores de intercâmbios internacionais na escola onde trabalho.
Para terminar, gostaria de referir que eu sou uma pessoa positiva, optimista e que luta sempre pelos objectivos. O que fiz aqui foi falar um pouco da discriminação, que em pleno sec. XXI é inacreditável.
Deixo um abraço enorme
António Figueiredo
(Saudando nosso novo amigo português, com uma linda canção de seu país.)
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
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António Figueiredo. A partilha desta bela exposição, da sua vida, focando desafios e vitorias...é deveras precioso! O António aborda o assunto da falta de visão, tema para o qual deveriam estar elucidados professores e não só... que lidam com pessoas apresentando dificuldades em algumas áreas da saúde. O meu abraço.Filomena Gomes Camacho
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