Nosso cronista das quartas está meio bravo hoje, com as propagandas que vê na TV. E pede sua ajuda, leitor!
“ME ENGANA QUE EU GOSTO”...
José Carlos Sebe Bom Meihy
A frase de Nelson Rodrigues serve de pretexto para ponderações atentas à loucura das propagandas correntes na vida contemporânea. Sou dos que acham que alguma coisa deve ser feita, caso contrário podemos cair numa rotina ilógica que diviniza a insanidade. Dia desses, me detive relacionando algumas situações que, de duas uma: ou me fazem sentir pouco inteligente ou vítima indefesa da mais gritante imposição do mercado capitalista. Não custou para que esbarrasse na fronteira da paciência e tive que respirar fundo para não desatinar e cair em depressão profunda. Passados alguns minutos, feita uma lista de situações, até me diverti, mas não sem constrangimentos. E passei a enumerar alguns dos comerciais em curso nas mais importantes emissoras de televisão. Vejam só:
1- Gisele Bündchen ostentando roupas da C&A. Com a graça que a transformou na Top Model mais bem paga do planeta, a incrível personagem das mais importantes passarelas do mundo propagandeava roupas de R$ 19,00. Tudo como se fosse verdade, como se de fato ela as usassem;
2- Xuxa, sim, a “rainha dos baixinhos”, a profissional mais bem paga da televisão brasileira, mostrando que se vale da loção Monange para proteger sua delicada pele. E, para garantir tudo, dá uma pitadinha no belo nariz;
3- Suzana Vieira, aquela namoradeira que nos faz esquecer a idade, anuncia nada mais, nada menos do que a massa Corega e garante segurança de dentaduras, como se as usasse;
4- Pelé, nosso rei do futebol, quase convence ao dizer que se vale de Vitasay para justificar sua invejável performance.
Seria exaustivo enumerar casos, que se multiplicam tornando familiar algumas falsidades. O incrível é que a qualidade dos comerciais corrobora para que se veja tudo como natural, verdadeiro e legítimo.
Além das fantasias propostas por esses anúncios malucos, para uma avaliação mais correta é preciso considerar sua localização nos horários nobres. Mais do que isso, nos intervalos de programas. Sendo notável o custo desses momentos, devemos lembrar que há escolas que se aprimoram na composição desses enredos. Se de fato ocorre uma espécie de “cientificização” dos comerciais, o mesmo progresso não se nota em relação ao público. Estou dizendo que, como público, somos sempre tratados como idiotas. Quem não se lembra, por exemplo, da velha propaganda de um sabonete popular que dizia que “nove entre dez estrelas de Hollywood usam sabonete Gessy”. Fico imaginando as musas de minha juventude – Ava Gadner, Lana Turner, Elizabeth Taylor – se banhando com os mesmos produtos acessíveis à tanta gente.
Na medida em que arrolava estes argumentos, cresciam em mim indignações, afinal, temos culpa em nos deixar ser considerados tão passivamente. Tudo parece tão normal, corriqueiro, que nos acomodamos. Mas, ao mesmo tempo, me questiono sobre como reagir. Creio que o melhor a fazer é usar a reputação de bem humorados e começar por ridicularizar as besteiras que nos impõem. Nesse sentido, vale propor um começo imediato. Vamos, em conjunto, arrolar situações e fazer o possível para demover a proposta de consideração dessas coisas como “artísticas” ou “profissionais”. Até achei um fundamento filosófico para tanto: vamos arrastar a discussão para o campo ético e vejamos a impossibilidade de sustentar mentiras que só se explicam em sociedade de consumo. Também seria viável escrever cartas a estes “heróis” e pedir que nos considerem mais. Aliás, se alguém tiver o endereço deles, por favor, repasse esta mensagem.
(Lembram do Propaganda, duo alemão de synth pop?)
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
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Ola meu querido professor. esqueceu das sandalhas :avaianas (todo mundo usa ) ho ho ho
ResponderExcluirMiguel .Naufel
Ola meu querido professor .esqueceu das sandalhas avaianas ;todo mundo usa .ho ho ho
ResponderExcluirMiguel Naufel