terça-feira, 7 de setembro de 2010

EMMANUEL RI

Em uma das noites quando o Cine Lumine, aqui em Penápolis, exibia a cinebiografia de Chico Xavier, à hora da saída de uma das sessões, encontrava-me na bombonière comprando pipoca com uma amiga (era pra ela, eu nunca compro pipoca...). A sala estava lotada e não pude deixar de notar a quantidade de gente idosa que se despejava no hall do cinema. Pessoas que normalmente não freqüentam o local, porque não se interessam por alices, piratas caribenhos, solteironas nova-iorquinas pseudo-sofisticadas ou seres azuis em 3D. Os avós de uma aluna vieram me cumprimentar e disseram haver adorado o filme, o qual, “todo mundo devia ver”. É uma lição de vida”, complementaram. Não sei se o fenômeno se repetiu nas metrópoles, mas acredito que deva ter acontecido em outras cidades interioranas como Penápolis. Mas, quem disse que “gente do interior” não merece o direito à diversão?


Não pude ver o filme no cinema, mas ontem o assisti, em companhia duma pessoa que nunca vê filmes: minha mãe. Novelas (poucas), esporte (são paulina fanática) e jornalismo compõem a dieta televisiva de Dona Néia. Filmes com cães falantes e profusão de pancadas, nunca. Jamais mesmo. Nem filmes românticos ela assiste, porque não tem paciência e não conhece os atores. Quando a chamei pra ver o filme do Chico Xavier ela topou na hora. “Olha, a Letícia Sabatella, nossa, que papel que ela fez na novela da Índia, não?”. “O Tony Ramos é espírita, sabia?” “A Cristiane Torloni... acho que ela é espírita também, que papel lindo. É, ela sabe o que essa mãe está sentindo...” “Todo mundo do Caminho da Índia tá nesse filme! É da Glória Perez? Ela perdeu a filha, coitada, é uma das provações mais difíceis.”

Enfim, mamãe reconhecia elenco familiar e se identificava com uma historia sobre um brasileiro o qual admira e com uma realidade e cenários que são dela. A familiaridade com o elenco e sua vida pessoal permitia que traçasse paralelos com as personagens.

Quiçá o cinema brasileiro continue investindo na tendência de narrar filmicamente a vida de personalidades nacionais. Que venham cinebiografias de gente como Carolina Maria de Jesus, a catadora de papel, que alcançou fama com a publicação de seus diários, nos anos 60, para depois cair no esquecimento. Há muita historia a ser contada. Numa entrevista, o celebrado ator norte-americano Robert Duvall disse que se os jovens cineastas consultassem os arquivos de histórias pessoais de “gente comum”, haveria material inesgotável para filmar. O cinema norte-americano é farto em biografias de gente famosa, daí a afirmação de Duvall. No nosso caso, há farto material a ser explorado nas duas searas.

Daniel Filho merece aplauso por contar nas telas a história do médium brasileiro e, sobretudo, por realizar um filme que humaniza Chico e seu mentor, o espírito Emmanuel. Fugindo do caminho fácil de tornar os 2, um poço de lições de moral, o roteiro introduz momentos de pura cotidianidade, como a vaidade de Chico ao usar uma peruca para esconder a calva que o incomodava e a briga que teve com o guia durante uma turbulência em pleno vôo. Chico Xavier era do bem, e também era humano, como eu, como mamãe. Ser do bem, ser humano e ser bem humorado não são categorias excludentes. Na última cena, Emmanuel aparece às gargalhadas. Ser de luz, ser espírito e rir com os humanos também não são categorias excludentes.

Em tempo, devoramos duas 2 bacias enormes de pipoca durante o filme. Eu estourei.

2 comentários:

  1. O Brasil é o coração do mundo é a patria do evangelho, abriga todas as raças todas as crenças .O Brasil vai mostrando ao mundo a verdade de cada um ...Vem ai o filme :Nosso Lar . Não percam!.
    Miguel

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  2. Outro filme interessante sobre Chico Xavier é "Joelma 23° Andar". A obra mostra como a jovem Lucimar foi recebida no plano espiritual após sua morte no incêndio no Edifício Joelma, em São Paulo no ano de 1974.

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