Roberto Rillo Bíscaro
A banda mineira Pato Fu recém lançou um álbum de covers. Nada demais se não houvesse um detalhe muito especial: é tudo tocado com instrumentos ou brinquedos infantis. Daí, o nome do álbum, Música de Brinquedo.
Brincadeira que resultou em um trabalho que é a essência do espírito pop: irreverente, divertido, criativo, alegre, grudento e antropofágico. Pop é assim mesmo, que nem Pac Man, vai comendo tudo o que vê pela frente, sem medo de misturar Beethoven com Donna Summer, Shakespeare com biscoito verde de monstrinho. Afinal, nós que temos abaixo de 50 geralmente crescemos expostos a tudo, de Mazzaroppi a Monet; aquela coisa Beatles que misturava Bach com blues... E a gente acaba gostando de tudo um pouco.
O Brasil é macaco velho nessa mistureba de chiclete com banana, vide a Antropofagia Modernista, a Tropicália, o Mangue Beat, o trabalho dos contemporâneos como Zeca Balero, que citam com desenvoltura/desinibição Cartola e hip hop.
Roberto Rillo Bíscaro
Música de Brinquedo é mistureba criativa. Os músicos escolheram repertório que vai de Love me Tender, de Elvis Presley, a Pelo Interfone, sucesso oitentista de Ritchie, inglês radicado no Brasil. Tem desde a cafonice gostosa de Rock and Roll Lullaby aos descolados japas do Pizzicato Five. Mas, peraê! O P5 era descolado justamente porque havia boa dose de glamour kitsch em sua mistureba! A seleção de canções reflete muito bem nossa geração de 40tões, que curte tanto My Girl quanto o Frevo Mulher, da Amelinha!
Os arranjos seguem o mais perto possível as versões originais, mas a criatividade está em fazê-los soar bem com mini-instrumentos e toda sorte de bonequinhos e bugigangas que fazem barulhinho. São bichos de borracha que apitam, os sons do Genius (que não é oitentista, procure no Google ou veja o making of do álbum, que coloquei na postagem!), xilofones, cornetinhas de plástico e tantas coisas mais.
Além de criativo, Música de Brinquedo arranca gargalhadas, basta comparar os sax ensandecidos da versão original de Ska, dos Paralamas, na versão do Pato Fu. Mas não é piada que perde a graça passada a primeira audição. Cada ouvida traz á tona um novo detalhe e as canções se sustentam depois que perdem a graça, por um motivo simples: são bem tocadas, os arranjos são criativos, os instrumentos bem tocados e a voz de Fernanda Takai continua etérea, puro twee pop.
Mistura de público também é a tônica do CD. Porque, se a abordagem é infantil e há até um delicioso acompanhamento de 2 crianças fazendo backing vocal, o repertório não é “infantil’. Em uma entrevista, Fernanda contou que uma das crianças perguntou o que significava o verso “outonos caindo secos na palma da minha mão” . A vocalista disse pra garota “não se preocupe, a gente também não entende o que quer dizer”. Quem entende? Quem se importa? A gente curte Frevo Mulher desde 1979 e nunca se preocupou mesmo em querer saber o significado da letra. A música é uma diliciaaaaa, pronto!
Mas, então, o álbum é pra crianças ou adultos? Música de Brinquedo é pra todo mundo que curta pop de verdade, independente de idade. Outro grande mérito do Pato: criar um álbum que pode ser curtido por pais e filhos, tios e sobrinhos. O dia das crianças está aí, o CD mais recente do Pato Fu é dica moderna, esperta e brasileira de presente pra baixinhos e altinhos, que tenham senso de humor e curtam pop ousado, criativo e ainda assim, acessível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário