segunda-feira, 18 de outubro de 2010

CAIXA DE MÚSICA 10

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A ESCRITA DO AMOR


Roberto Rillo Bíscaro
Segunda-feira passada, os escoceses do Belle and Sebastian lançaram Belle and Sebastian Write About Love. Difícil ficar indiferente á banda; parece haver apenas 2 posições possíveis: amor extremo, beirando à idolatria ou desprezo, beirando o ódio. Os vocais delicados assumidos por mais de um vocalista, as letras agridoces, detalhistas e algo cínicas de Stuart Murdoch, a sonoridade sessentista, que teima em permanecer a mesma, com melodias preciosas, lotadas de detalhes e multi-instrumentais, tudo leva detratores a afirmar que a banda é insossa, derivativa e os fãs a louvarem o luxuoso pop de câmara. Idiossincrático demais pra se permanecer neutro ou indiferente.
O oitavo álbum do Belle and Sebastian não vai mudar opiniões. A sonoridade continua a mesma mistura de folk rock com a Swinging London, dos anos 60: guitarras de surf rock; harmonias vocais preciosas, oriundas da Motown; flashes de rock alternativo dos anos 80. Murdoch e sua turma não vieram pra mudar, ao contrário, voltaram ao estilo original, deixado ligeiramente de lado em The Life Pursuit (2006). Belle and Sebastian Write About Love é Belle and Sebastian até o maís minúsculo osso e, por isso, é fenomenal. Conciso e homogêneo, suas 11 faixas exalam excelência, frescor, ternura, melancolia, sem jamais cair de qualidade. Twee até a medula.
O álbum abre com I Didn’t See It Coming, com os vocais de fada de Sarah Martin. Pandeiros, guitarra 60s, que se tornam mais incisivas e o vocal de Sarah meio que se dissolvendo lisergicamente no meio da canção, numa melodia cujo tempo vai crescendo. Quando Stuart desfere o fatídico e fatal “make me dance/I want to surrender”, a gente já está flutuando e jogando flores em quem estiver ao redor. I Want the World to Stop, com sua guitarra dedilhada de 12 cordas, baixo gordo e rebolativo, órgão vintage e luxuriante orquestração não deixa os pés parados e os dedos sem estalar. I’m Not Living in the Real World, com sua harmonização vocal perfeita com direito a eco, caberia tranquilamente nalgum álbum psicodélico inglês de fins dos anos 60, tipo Flaming Youth (primeiro grupo de Phil Collins, que lançou apenas um álbum, Ark 2).
Na melancólica The Ghost of Rockschool, Murdoch afirma ter visto Deus em diversos lugares. Deve ser verdade. Só isso explica o esplendor celestial de I Can See Your Future, novamente com os vocais de sílfide de Sarah Martin.
O álbum fecha com Sunday’s Pretty Icons, com guitarra que orgulharia Johnny Marr. Os vocais e a melodia não me deixam esquecer de Being Boring, do Pet Shop Boys. Ambas parecem ter sido cortadas da mesma pedra filosofal. Apenas o talhe é distinto. Smiths e Pet juntos? Só Belle and Sebastian pode realizar essa façanha e fazer com que soe sem forçar a barra.
Morrissey é um dos ídolos máximos de Stuart Murdoch. Certa vez, o escocês disse que seu amor pelo ex-Smiths é tanto, que não gostaria de conhecê-lo pessoalmente. Nem precisa. Os 2 estão no mesmo nível. Belle and Sebastian é a melhor banda saída das Ilhas Britânicas depois dos Smiths.

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