Na crônica de hoje, o historiador José Carlos Sebe reclama a posse brasileira sobre a região amazônica e nos indaga a respeito de nosso papel como donos e preservadores do pulmão do planeta.
AMAZÔNIA: NOSSA? CLARO QUE SIM!
José Carlos Sebe Bom Meihy
De quando em vez, o tema da Amazônia reponta no cenário discursivo, sempre carregado de emoções capazes de destilar paixão, nacionalismo e disputas. E, no caso brasileiro, não há quem deixe de se valer da palavra “defesa” como pressuposto de conversa. Com razão, falamos de um patrimônio integrado, pela própria natureza, ao corpo físico do país. Mas há momentos em que a defesa da Amazônia carece de argumentos importantes, de teor argumentativo que supere os limites do pertencimento justificado pela graça da geografia. O que faz a Amazônia brasileira?
Sem dúvida, temos que repetir “Amazônia é nossa”, mas, cabe alguma precisão nessa afirmativa. Ela é nossa porque pela história temos assumido esse imenso e complexo território, lutado pela integração em nosso ideário político e de desenvolvimento histórico. E que luta! Sendo um território que repartimos com mais oito países, temos deste imenso espaço 60% que estão em nossas terras. E que terras! Imaginemos que 10% de toda a água do planeta nos pertence e que desse manancial 8% provém daquelas plagas. Não resta dúvida de que realmente “somos o pulmão do mundo” e que, por isso, temos que preservar a floresta, a mais exuberante e fundamental do mundo. Mas, nessa enigmática riqueza situa-se o problema central de sua ocupação. Toda a Amazônia tem 17 milhões de habitantes, praticamente o mesmo total da grande São Paulo. Não há como deixar de reconhecer nisso o grande problema que, aliás, desenrola-se na questão de sua exploração.
No momento são identificados três tipos de exploração: o avanço da pecuária que implica devastação da floresta em favor dos campos para o pastoreio; o avanço da agricultura, em particular para o plantio da soja e a exploração mineral. Em uma ou outra situação, o preço pago é a contaminação das águas e a derrubada indiscriminada da fabulosa floresta. E as conseqüências se abrem como formidável maldição: madeireiras que comerciam ilegalmente, fomentando redes de transporte e contrabando; invasão de terras indígenas e uso dos nativos como moeda de troca de fatores humanitários por dividendos. Não bastasse, acresce a esse elenco de questões o fato da injusta condenação internacional que trás, por sua vez, dois outros pontos problemáticos: a interferência estrangeira que, por meio das ONGs e da compra de terras, se vale de falhas flagrantes de nossa legislação e a má reputação de nossa capacidade administrativa.
Recentes manifestações mostram que o problema urge por soluções. De um lado, pessoas das Forças Armadas instituem o caso como “de segurança nacional” ou como “ameaça de fronteiras”. Na outra ponta, os preservacionistas, antropólogos, botânicos, ambientalistas, ecologistas em geral, se propõem à busca de alternativas que não prejudiquem os povos da floresta e que, ao mesmo tempo, garantam a sustentabilidade da floresta. Mas, seria possível? Temos gente preparada para isso? O que falta?
É possível programar um desenvolvimento sustentável da Amazônia. Temos equipes preparadas para tanto, cientistas capazes de garantir a ocupação com desenvolvimento sem devastação. Como já apontou Assis Ab Saber, é preciso identificar os bancos de plantas, determinadas regiões onde o potencial reprodutivo das sementes seja natural e conservá-lo como base reprodutiva. A integração da população nativa em espaços planejados juntamente com o fabuloso conhecimento das populações locais são condições que permitem supor uma Amazônia saudável, nossa, e capaz de desmentir frases como a atribuída a Al Gore, ex vice-presidente do Estados Unidos, que teria dito que “a Amazônia não pertence ao Brasil, mas é do mundo”. Ah! Sabe mais o que falta? Falta que saiamos da comodidade de nossas defesas e comecemos a estudar melhor essa situação. Sem base instruída, não dá mais para garantir que a Amazônia é nossa. Qual sua contribuição para corrigir o atual quadro?
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
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