quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ME AMO EXATAMENTE DO JEITO QUE SOU

O blog recebeu outro relato de pessoa albina, escrito especialmente pra nós. Obrigado à Rayssa, que decidiu compartilhar algumas de suas experiências conosco.


Eu sou Rayssa Medeiros Neto, tenho 17 anos, sou albina, mineira de Leopoldina e resido atualmente em Juiz de Fora, cidade também mineira. Acabo de concluir o 3° ano do ensino médio. Na infância, o primeiro contato com outras pessoas diferentes de mim foi na escola, lugar onde sofri bastante preconceito de muitos ao longo dos anos. Fui alvo de piadinhas do tipo, farinha de trigo, branquela azeda, rato branco, entre outros... Isso sempre me incomodou. Ficava magoada e depressiva com as atitudes das pessoas. De verdade, eu não me aceitava, devido a esse preconceito que me fazia ter preconceito comigo mesma...
Os anos foram passando e fui aprendendo a me valorizar. Já não importava tanto a opinião das pessoas; e eu aprendia a lidar cada vez melhor com tudo isso.
Na família eu era, ate então, a única pessoa albina, não sendo conhecidos relatos de outros albinos ate o meu nascimento. Depois de mim, nasceu uma prima que agora tem 2 anos... Quando pequena, não recebi muita informação por parte da família e conhecidos, apesar deles não mostrarem descriminação por mim. Também faltava conhecimento sobre o assunto para eles...
Minha maior dificuldade é na visão, apesar de já ter ficado com bolhas nos ombros, por causa do sol, devido à teimosia de criança e a paixão por praia e piscina. Aprendi a lição, sendo internada por três dias em janeiro deste ano, por um descuido...
Na escola, havia vezes em que mesmo me sentando na primeira carteira eu não conseguia entender algo escrito no quadro, devido ao tamanho ou à forma da letra do professor. Nessas horas me via muitas vezes com vergonha de levantar e dirigir-me ate o quadro, para decifrar o que estava escrito. Tinha receio do que os outros alunos poderiam falar ou pensar de mim... Por muitas vezes contava com a ajuda de professores e amigos, que me emprestavam seus cadernos para que eu pudesse copiar as matérias e se propunham a ler para mim as escritas do quadro. Apesar disso, sempre tive destaque como uma das melhores alunas da classe!
Hoje as piadinhas são menos freqüentes. Na hora de me locomover sozinha pelas ruas tenho a dificuldade de ler letreiros de ônibus ou de placas e também de localizar pessoas - de longe principalmente. Por esse motivo. já entrei em ônibus errados rsrsr...
Apesar disso tudo, nunca desejei ser de outro jeito. Lógico que se pudesse ter nascido sem ter baixa visão eu iria querer, mas não nasci, então, quero continuar assim. A mudança mais radical que fiz em mim foi com relação à cor do cabelo... Eu o escureci pela primeira vez, em fevereiro desse ano. Mas, de um tempo pra cá, decidi que voltarei a ter a cor natural, pois estou me sentindo sem identidade... Sempre tive curiosidade de tingir os cabelos para ver como seria o resultado. Confesso que gostei muito... Depois disso, o albinismo passava despercebido, o que muito me agradava. Entretanto, hoje, aos 17 anos, com o amadurecimento e muita experiência, digo que me amo exatamente do jeito que sou, com a minha cor, com as minhas limitações. Por isso, esse estilo de cabelo já não me pertence mais. De certa forma, ele fazia com que eu mesma fugisse da minha realidade albina, a qual não aceitava muito... Não sabia como lidar com ela, devido ao que ouvia das pessoas... Hoje, isso já não tem a mínima importância!
É engraçado ver a reação das pessoas... Muitos acham lindo e ficam encantados; outros olham com desprezo e acham estranho. Ainda falta muito conhecimento para as pessoas...
O que muitos não entendem - sobre qualquer deficiência ou limitação - é que nós podemos fazer muitas coisas. Não precisamos ser olhados de forma piedosa... Temos muita capacidade e também limitações; como todo ser humano! Temos é que ir em busca do que queremos para ver ate onde podemos chegar.
Hoje me vejo uma garota capaz de conseguir tudo o que desejo. Sou vaidosa, aproveito minha juventude, indo a praias, festas... Tenho uma vida normal, sendo apenas limitada para algumas coisas. Não considero meu albinismo uma deficiência ou uma doença... É, sim, uma condição que me impõe limitações diferentes das de outras pessoas.
Tenho amigos e pessoas queridas ao meu lado, que me aceitam como sou e me mostram o valor da vida.
Sou muito FELIZ por tudo e agradeço a DEUS pela minha vida, que tanto amo! Sempre digo: quando se tem amor próprio, toda dificuldade se torna mais fácil.

Um comentário:

  1. Rayssa, muito me preocupa o fato de vc frenquentar praias... não é indicado, pra gente. E esse "descuido"? Tudo passou, né? Vc fica queimada, depois passa.. mas não é assim: os efeitos solares vc vai sentir anos depois, com câncer, lesões e até mesmo o envelhecimento precoce... então se cuide, ok?
    Roberto, por favor, oriente a Rayssa, fiquei preocupada com ela, ao ler esse relato...

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