Roberto Rillo Bíscaro
Há uns 3, 4 anos a inglesa Adele era proclamada “a próxima Amy Winehouse” devido a certa similaridade vocal e nas influências e resultados em algumas faixas. Em 2008, Adele lançou 19 e provou que tem personalidade própria, apesar das semelhanças. Desde então, ela estourou: papou Grammys e comeu uma fatia do cobiçado mercado norte-americano. Difícil prum artista estrangeiro fazer isso. Kylie Minogue que o diga...
Diferentemente de Winehouse – que nada lança desde 2007 - a trabalhadeira Adele não ficou dando barraco, por isso, teve tempo de preparar seu segundo álbum, lançado semana passada. Muita expectativa em torno de 21, cuja missão é repetir a boa vendagem de 19 e consolidar a moça no mercado. Aos 21 anos (seus álbuns têm por título sua idade à época do lançamento), Adele já provara sua maturidade como compositora e volta com um álbum que, se não investe em territórios inventivos, oferece arranjos suntuosos, produção esmerada, vocais soberbos e algumas das melhores baladas deste século. A tentativa de não perder público e abocanhar mais através duma produção quadradinha deu certo. O álbum encabeça a lista do iTunes no Reino Unido, Alemanha, França, Nova Zelândia e mais um bocado de países ricos. Resta ver se os EUA morderão a isca. Deveriam, porque o prato é delicioso.
Rolling in the Deep foi o primeiro single de 21 e é espantoso. A melodia com percussão bem marcada tem influência de rock e soul, mas também traz discreta marca d’água disco, nos backing vocals e no refrão. Rumour Has It é rock, meio Robert Palmer. A letra é sobre desencanto amoroso. Adele deve ter quebrado a cara entre 19 e 21. Sinto por ela, mas, se minha teoria for verdadeira, quem saiu ganhando fomos nós. Ou, antes, os fãs de baladas. São dramáticas, grandiloqüentes, sentidas. A voz da inglesa sobe, desce, engrossa, afina. Ela é impressionante. Algumas dessas canções trazem certo acento country, que a cantora conheceu melhor durante a turnê pelos EUA.
Turning Tables é uma mistura de piano e orquestração com emoção tão pungente digna dos melhores momentos de Tori Amos, mas com a marca Adele e seus malabarismos vocais. Se beleza em excesso dói, é o caso dessa canção. Don’t Your Remember tem violão e orquestração, e, se não é tão criativa, chega ao zênite devido à interpretação vinda das entranhas. Set Fire to the Rain é drama desde o título. He Won’t Go tem uma inflexão meio fim dos anos 70 no refrão, ao mesmo tempo que é predominantemente informada por urban soul; cairia bem num álbum duma Chrisette Michelle, por exemplo. O ponto alto dentre as faixas lentas é Someone Like You, com a letra e a interpretação mais doídas do álbum. A letra é sobre uma moça que ainda ama o cara, que já está com outra, mas ela o adora tanto que aparece na casa dele pra desejar-lhe o melhor e dizer-lhe que encontrará alguém como ele. A letra simples esconde o complexo da situação, imaginem a situação do sujeito e da moça com o coração partido. Apenas piano acompanha a modulada voz de Adele; só essa faixa já valeria o álbum. Aposta-se que essa canção vire standard. Merece.
Em um disco pautado pela produção conservadora, o sabor de novidade vai pra Lovesong, do The Cure, em clima de bossa nova. Os franceses do Nouvelle Vague já haviam gravado A Forest, do grupo de Robert Smith, na batida brasileira da bossa. Houve crítico inglês deslumbrado pela “inovação” de Adele, mas ela não descobriu esse caminho pras Índias. Não importa. Lovesong funciona bem como sambinha.
Há uma velha canção dos Cranberries, chamada 21, onde Dolores O’Riordan reclama que alguém tirou seus pensamentos e agora ela não deseja nada mais. O clima de dor de amor de 21 de Adele tem parentesco com a letra do grupo irlandês, mas difere em algo crucial. A menina inglesa voltou cheia de pensamentos e desejos, traduzidos em um álbum com um punhado de boas canções e uma obra-prima.
Adorei o texto!!!! Tô viciada na Adele desde o começo do Carnaval. Acredita que eu ainda não conhecia???
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