terça-feira, 18 de janeiro de 2011

JUNTANDO OS TRAPOS

No início dos anos 60, na Virginia (EUA), um branco se apaixonou por uma negra. Como as leis segregacionistas do estado não permitiam casamento interracial, o casal foi para Washington e contraíram matrimônio. De volta a seu estado natal, a polícia invadiu sua casa durante a noite e os prendeu. Foram julgados e sentenciados: ou anulavam o casamento ou se exilavam do estado por 25 anos. Escolheram a segunda opção, mudaram-se para a capital estadunidense e iniciaram longa batalha judicial para terem sua união reconhecida.
Em diversas instâncias, juízes justificavam seus vereditos de apoio à lei racista argumentado que Deus criara as raças em continentes diferentes, o que significava que não tencionava uniões interraciais. Também afirmavam que a permissão de uniões entre etnias diversas traria caso à sociedade, confundiria as crianças, enfim, destruiria a sagrada instituição da família. A Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou essa absurda lei apenas em 1967. Desde então, os casamentos interétnicos não conseguiram dizimar a célula manter da sociedade, pelo contrário.
O documentário Tying the Knot (2004) usa o exemplo acima como paralelo dos argumentos usados por setores conservadores para se oporem à união civil entra pessoas do mesmo sexo. Embora o Censo tenha registrado a existência de casais do mesmo sexo em 99% dos condados norte-americanos, o não reconhecimento legal dessas uniões implica que essas pessoas não tenham acesso a quase 1000 direitos garantidos nos diferentes níveis administrativos. Gente que paga impostos e contribui para o crescimento da nação, mas não tem direito à herança, pensão, ficar junto da pessoa amada no hospital em caso de doença e tantas outras coisas tão corriqueiras para casais heterossexuais.
E é duro ver a história do homem de meia idade no rural estado de Oklahoma. Ele e o parceiro construíram seu patrimônio com muito trabalho, mas, após a morte do companheiro de mais de 2 décadas, todos seus bens foram concedidos a uma prima, devido a uma “tecnicalidade” : a lei não reconhece a união desses 2 homens, portanto, o sobrevivente não tem direito algum. As longas pausas e o ar de derrota do entrevistado comovem e fazem pensar sobre o porquê essas pessoas não têm o direito de levar suas vidas em paz e com dignidade.
Tying the Know traz outras histórias de direitos básicos negados a casais do mesmo sexo e a experiência de locais como a Holanda e o Canadá, onde tais uniões são reconhecidas e a sociedade não acabou ou foi castigada com nenhuma praga divina.

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