Roberto Rillo Bíscaro
Continuo na maratona de filmes de suspense, policiais ou de espionagem dos anos 40 e 50. As (re)descobertas seguem a passos largos.
Vi Ginger Rogers e Doris Day em thrillers; até então as conhecia somente de comédias e musicais. Que excelente atriz dramática era a parceira de Fred Astaire! Dana Andrews era sempre ele mesmo e tinha fisionomia de madeira; às vezes quase comprometia um roteiro, que, em mãos hábeis geraria uma personagem suculenta. Bom ver diversos filmes com um mesmo ator.
Meu Deus, como eram misóginos aqueles filmes! A mulherada noir não apenas era a femme fatale que conduzia os homens à perdição, ou quase, mas era o saco de pancada, mesmo quando a película não era noir. Levavam bofetadas, recebiam potes de café fervente na cara e eram empurradas pela mobília. Richard Widmark acho que foi o campeão de socos em mulher.
Um dos filmes abria com uma moça sendo assassinada à queima-roupa e depois jogada num poço. Mesmo acostumado a filmes de horror bastante pesados, fiquei de boca aberta. Havia cadeira elétrica nos EUA, mas faltava uma boa Lei Maria da Penha, cruzes!
Garimpar é um de meus hobbies. Acha-se cada preciosidade! Encantei-me com o semi-obscuro He Walked By Night (1948), produção B em estilo meio de docudrama, que narra a perseguição a um serial killer. A cena final é um tiroteio no labiríntico e gigantesco sistema subterrâneo de drenagem de água em Los Angeles – 1200 milhas de túneis, cuja largura por vezes permite a passagem de 2 carros, segundo o narrador em off. O contraste claro-escuro da fotografia em branco e preto e a nítida influência do Expressionismo alemão garantem cenas dum preciosismo estético que grudam na memória por muito tempo. No ano seguinte, surgiria o cultuado The Third Man, produção com mais verba, que termina com cena semelhante. E eu só conhecia o primo rico...
He Walked By Night termina como quase todo filme da época: abruptamente para os padrões de hoje. O bandido morreu e imediatamente apareceu o The End.
Por ser duma época em que a TV aberta ainda exibia filmes dos anos 40 e 50 em quantidade, pra mim era a coisa mais natural do mundo. Na minha fase de filmes de invasões alienígenas e monstros dos anos 50, um amigo quase 2 décadas mais jovem me despertou pra essa característica.
Creio que ele viu The Black Scorpion (1957), uma pérola, na qual um escorpião gigante – que baba! – aterroriza a Cidade do México. Quando o monstro é morto, o The End fulminou a tela e o jovem surpreendeu-se “nossa, mas termina assim, de repente!?” Nunca havia me tocado pra isso, mas, desde então, de vez em quando me recordo dessa anedota.
Em algum ponto dos anos 60 ou 70 (?) essa convenção começou a mudar. Domingo vi um dos primeiros filmes pra cine dirigidos pelo grande Robert Altman. Ele ainda não tinha se encontrado e o filme é insípido pra burro. Countdown é um misto de drama e ficção-científica tipicamente Guerra Fria, que mostra a primeira expedição lunar norte-americana, feita meio às pressas pra superar os russos. O ano é 1968, mas o filme ainda termina como seus predecessores. Na lua, o astronauta estadunidense perambula procurando a estação lunar onde ficaria nos próximos meses. Se não a achasse em 7 minutos seu suprimento de oxigênio se esgotaria. O único momento interessante do filme, diga-se. Assim que ele vê o reflexo da luz vermelha sinalizando a base, refletida em seu traje espacial, olha pra ela e o letreiro marcando o fim surge.
Se fosse hoje, pensei, mostrariam a alegria dos controladores em Houston, o alívio da esposa e sei lá mais o quê. Na pior das hipóteses, o filme terminaria com o cadáver do cosmonauta russo abrindo os olhos (pra garantir um possível Countdown 2 – Raging Battle!).
Quando será que a convenção do The End mudou? Algum leitor mais já percebeu isso ou foi encanação do jovem amigo, a qual acabei introjetando?
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