terça-feira, 15 de março de 2011

JOSÉ CARLOS FOI PRA GUERRA

A sessão fixa de maior sucesso no blog é a Contando a Vida, publicada às quartas-feiras. As crônicas do professor José Carlos Sebe Bom Meihy cativam pela variedade temática e erudição, sem perder a leveza do gênero.
Incrível, este ano faz 12 anos que nos conhecemos. Desde nosso primeiro encontro, afinidades e diferenças são contundentes. Não há meio termo: ou pensamos exatamente o mesmo ou nos achamos em lados diametralmente opostos da questão. Não tenho dúvidas de ser esse componente cão e gato de nossa amizade o combustível para um relacionamento tão prolífico. Geograficamente distantes, raros têm sido os dias nessa dúzia de voltas terrestres ao redor do sol em que não trocamos mensagens.
Hoje é aniversário dele. Se já teve tempo para checar sua caixa de emeihyls, ele deve estar estranhando a falta dos parabéns albinos. Logicamente (LOL), não esqueci. Aproveito a oportunidade para fazer desta postagem uma declaração pública de parabéns prá você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida. Que você permaneça sempre presente em minha vida, incentivando, apoiando, me fazendo rir e me azucrinando a paciência às vezes. Também ponho a sua em teste, então não posso reclamar.
Historiador de renome mundial (ele não curte muito que eu escreva isso, mas é verdade, fazer o quê?), o amigo aposentado trabalha mais do que muita gente oficialmente na ativa. Prestes a embarcar em longa viagem a trabalho, o professor Sebe ainda encontra tempo para lançar mais um livro. Infelizmente, não poderei comparecer à noite de autógrafos amanhã.
Uma leitora me tuitou uma reportagem sobre Guerra Civil Espanhola: 70 anos depois, publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional. Boa pedida para os leitores conhecerem mais sobre o importante trabalho desenvolvido pelo professor e seus orientandos e colegas do NEHO, que tanto inspira a atuação deste blogueiro.


Diagnosticador do presente
José Carlos Sebe B. Meihy lança livro sobre a guerra civil espanhola e conversa com a RHBN sobre as particularidades da História Oral
Alice Melo


Diagnosticador do presente. É assim que se define José Carlos Sebe Bom Meihy, professor titular aposentado do Departamento de História da USP e Coordenador do Núcleo de Estudos em História Oral, na mesma universidade. Meihy escreveu para a RHBN o artigo “Catadora de vidas” (maio de 2010) e é autor de vasta bibliografia, incluindo a co-autoria de “História Oral. Como fazer como pensar” (Editora Contexto, 2007) e a organização do livro de artigos “Guerra civil espanhola: 70 anos depois” (Edusp, 2011), que será lançado nesta quarta-feira (16), às 19h, na Livraria da Vila, em São Paulo.
O novo livro do historiador visita o tema da guerra que dividiu a Espanha no início do século XX a partir de uma indagação: o que se celebra com o fim do conflito? Os artigos reunidos na obra detectam três respostas para esta pergunta: “a perda das condições democráticas da Espanha republicana e o enorme exílio e emigração; o início de uma das ditaduras mais duradouras e repressivas da Europa; e o fim de um conflito e o seqüente início da Segunda Guerra Mundial”, explica o historiador.
“A guerra civil espanhola, durante anos, permaneceu como tema menor na preferência de estudos sobre a contemporaneidade brasileira”, declara Meihy, explicando que o tema costumava ser historiograficamente rejeitado principalmente em países onde “golpes de estado bateram democracias estabelecidas pelo voto popular”. Agora, sob a luz da globalização, o assunto entra em pauta e com novas questões a serem discutidas:
“Hoje, o conflito gera outro tipo de problema além do conhecimento de fatos. A emigração, os direitos de reparação das vítimas e a luta pelo restabelecimento da legalidade jurídica dos banidos”, opina.
Em 1996, o historiador lançara outro livro sobre o tema, mas desta vez voltado para o público jovem. “A Guerra Civil Espanhola” (Ática, 1996) saiu no aniversário de 60 anos do início da Guerra Civil Espanhola. Naquela época, José Carlos viu a necessidade de discutir fatos, principalmente a herança cultural deixada pelo conflito à posteridade.
“Interessava o rastro artístico deixado pela produção de romances, poemas, filmes e principalmente da pintura de autores como Picasso ou Dali”, lembra.

Historiador do tempo presente
Apesar das obras que remetem ao conflito espanhol, José Carlos Meihy é um especialista em história oral e sua pesquisa sobre fatos contemporâneos lhe deixa à vontade para se denominar “diagnosticador do presente”.
O termo usado não é de sua autoria. É, como ele mesmo indica, um conceito criado pelo francês Michel Focault em “A coragem da verdade” (1984) e representa bem o braço da História que estuda o tempo presente e usa entrevistas como sua principal ferramenta de trabalho. Como historiador da cultura e adepto desta linha de pesquisa, Meihy discorda das correntes historiográficas mais conservadoras que veem as fontes orais apenas como um complemento às documentais.
“As fontes orais são consideradas importantes por possibilitarem abordagens que vão além das informações filtradas por documentos oficiais e oficializados”, diz ele. “É importante reconhecer na História os seres humanos e não tratar situações como se fossem movimentos institucionais. A humanização da História não ocorrerá sem a consideração dos seres viventes”, completa.
Os primeiros passos na trilha da oralidade foram dados por Meihy nos anos 1970, quando a discussão sobre a Nova História ganhou espaço entre os herdeiros da contracultura da década anterior. A relativização do conceito de documento e uma busca pessoal por encontrar seu lugar no mundo, o levou a buscar na história oral as respostas que não conseguia encontrar na historiografia tradicional. Filho de emigrante, via a história da imigração terminar com a chegada das primeiras levas e isso não o satisfazia.

“Dilemas identitários dos descendentes, por exemplo, não se enquadravam em análises que excluíam a continuidade histórica”, explica. Anos depois, essa busca interior por resposta o levou à sua atual pesquisa, sobre prostitutas que vivem fora do país: “Ao ver o crescente número de brasileiros fora do Brasil, senti falta de registros capazes de favorecer estudos sobre este fenômeno que não seria considerado histórico por medições tradicionais”.
Dessa forma, o historiador acredita atuar em uma área de estudos que deveria ser independente. Uma área voltada para a “realidade”, onde o resultado da pesquisa retorna necessariamente à sociedade, repensando alguns aspectos qualificadores da História Pública.
“A história oral ao se apoiar no tripé que a justifica – memória oral, construção identitária e elaboração do conceito de comunidade – se impõe para além da condição de recurso auxiliar para a História”, observa. “Ela se mostrou capaz de dimensionar situações”, diz ele, acrescentando que, até então, isso jamais fora feito por outra área que atua em semelhança, como o jornalismo e a antropologia, por exemplo.
Para o professor, o jornalismo vive do imediatismo, da busca pelo fato no presente sob ótica da informação pontual. A antropologia, por outro lado, adota modelos de entrevista filtrados por método próprio, o que não permite a “discussão sobre problemas de construção de memórias coletivas, identidade ou esforço para a constituição de novas comunidades”.
Dessa forma, com apoio das novas tecnologias de divulgação, a pesquisa em história oral pode levar os dilemas da cultura contemporânea ao debate social. Hoje, apoiados neste viés acadêmico, filmes e novelas levam a discussão ao público, que passa a refletir sobre problemas que o cercam, mas que muita das vezes passam desapercebidos.
(Encontrado em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3692)


SERVIÇO
Lançamento do livro Guerra Civil Espanhola: 70 anos depois
Local: Livraria da Vila
R. Fradique Coutinho, 915 – São Paulo/SP
Fone: (011) 3814 5811
Data: 16/03
Horário: a partir das 18:30
Haverá apresentação do livro no auditório a partir das 19:00

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