A MULHER DO FAZENDEIRO FRANCÊS

Roberto Rillo Bíscaro

Quando me perguntam sobre meu tipo de filme predileto, tenho dificuldade em responder. Tanta coisa me interessa; desde cine político do leste europeu até mega trash, passando por comédias românticas. Geralmente saio pela tangente dizendo que escolho pelo elenco, mas também não é verdade. Ou, pelo menos, não toda ela.
No caso das comédias românticas prefiro as que trazem algum elemento novo, ao menos na ambientação e personagens, porque a fórmula permanece a mesma: A encontra B, se repelem, se apaixonam, há algum complicador e no fim vem o final feliz.
Ontem vi uma produção francesa de 2005 porque juntava novidade na ambientação e um ator cujo trabalho queria conhecer melhor. Je Vous Trouve Très Beau - saiu em DVD no Brasil, com o título Você É Tão Bonito – é a estreia diretorial da atriz Isabelle Mergault.
Um fazendeiro de meia-idade, mal humorado e grosseiro, perde a esposa e decide arranjar outra, menos de 2 semanas após a viuvez. Ele necessita alguém pra cozinhar e lavar a roupa sem matar o gato. Em uma agência matrimonial, percebe que achar uma francesa seria difícil, posto ser Monsieur Pigrenet um homem bastante bronco destituído de qualquer interesse que não seja o trabalho agrícola. Mesmo contra seus princípios, acata a sugestão da casamenteira e viaja à Bucareste, onde uma dezena de jovens lindas estão ansiosas pra arrumar um maridão francês e trocar a pobreza romena pela afluência do oeste continental.

Durante a entrevista com as candidatas, todas se vestem de maneira provocante e relatam seus sonhos de se tornarem cantoras e dançarinas. Nada apropriado pro trabalho numa fazenda. Além disso, todas juram que o baixinho, careca e carrancudo Ayme é muito bonito. Elena, jovem mãe solteira que sonha com uma vida melhor pra filha e em abrir uma academia de dança pra irmã, percebe o que Ayme procura, se “desmonta” e diz que seu sonho é trabalhar numa fazenda. Ela também diz que Ayme não tem nada de bonito. Bingo! Sua passagem pra França está garantida. Sendo uma comédia romântica não precisa dizer muito mais, creio. Malgrado a diferença de idade, os 2 se apaixonam, etc, etc, etc. Esse caminho já foi percorrido inúmeras vezes: uma linda jovem cheia de vida traz de volta a alegria de viver a um homem maduro. Típico romance maio-setembro.
Seria fácil dizer que Elena se apaixona muito rapidamente por Ayme ou que este também se altera muito de repente. Se eu fosse uma mulher de meia-idade certamente não apreciaria o modo como essa faixa etária é representada.
Mas, sabem o quê? Achei o filme absolutamente fofo! Ri e fiquei com os olhos marejados durante os momentos da complicação da trama. E torci pros 2 ficarem juntinhos no final!
A ambientação numa França rural e meio caipira com suas competições pra ver quem tem o coelho mais pesado, misturada com o sério e triste problema da migração continental encanta e faz pensar.
E a química do par central ilumina a tela. Pigrenet diz a Elena que ela é o sol. Nada poderia estar mais correto. Medeea Marinescu com seu francês quebradiço e sotacado amolece qualquer coração. Como resistir a alguém lhe oferecendo gardênias, enquanto conta que o florista lhe disse se chamarem garde moi (proteja-me).
Michel Blanc é um milagre de expressões faciais, gestos e entonação. Já o vira em 2 filmes de estilos diferentes: o denso Monsieur Hire (1989), onde interpreta um perturbado e calado suspeito de assassinato e Les Témoins (2007), no qual vive um médico homossexual às voltas com a epidemia da AIDS. Em Je Vous Trouve Très Beau ele apara qualquer incongruência da construção da personagem e torna crível que a bela Elena possa se apaoxinar por ele.
Você É Tão Bonito é o tipo de película pra ver e sonhar, mas que não nos deixa esquecer que há problemas no mundo, embora por 90 minutos estejamos mais preocupados em torcer por Ayme e Elena. Sem dúvida, verei de novo.